Vendas de imóveis caíram 9,6% no quarto trimestre de 2022 frente ao mesmo período de 2021
O Itaú, o Bradesco e o Santander, os três maiores bancos privados do país, aumentaram os juros para os financiamentos imobiliários, subindo as taxas acima dos 10% ao ano.
Dados do Banco Central (BC) informam que em janeiro de 2021 a taxa média de juros para empréstimos imobiliários foi de 6,98% a.a. Nos mesmos meses de 2022 e agora em 2023 as taxas aumentaram para 9,41% a.a. e 10,74% a.a. respectivamente.
Aos juros dos financiamentos são somados o custo de cadastro, em geral bem “salgados”, outras taxas, além de encargos e seguros que as empresas de crédito impõem aos financiados.
É o Custo Efetivo Total (CFT). Com os aumentos dos juros esses encargos impactam ainda mais nos financiamentos, nada menos que um ponto percentual. Mais um obstáculo para tornar viável a parcela mensal a pagar no orçamento do financiado.
A compra e venda de imóveis nos dois últimos anos esteve aquecida. Em 2021, o número de unidades financiadas foi recorde com total de 324.363 unidades comercializadas. No ano passado, o total de unidades financiadas foi também expressivo – 314.305 imóveis. A redução de um ano para o outro foi de 3,2%. As vendas de imóveis caíram 9,6% no quarto trimestre de 2022 frente ao mesmo período de 2021.
Em valor, os financiamentos para compra de imóveis, que chegaram a R$ 205 bilhões em 2021, diante da decisão dos bancos de restringir e encarecer o crédito, devem recuar para R$ 156 bilhões neste ano, conforme projeções da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
No final do ano passado, o recuo na compra de novos imóveis já sinalizou que em 2023 haverá uma redução importante nos financiamentos. De acordo com pesquisa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), os lançamentos de imóveis no país no quarto trimestre tiveram queda de 23,1% em relação ao mesmo período de 2021, caindo de 98.723 para 80.198 unidades.
A aquisição da casa própria tem uma quase total dependência de financiamentos feitos pelas empresas de crédito imobiliário, no geral, ligadas a bancos. Com a taxa Selic de 13,75% a.a., descontada a inflação, dá em média aos bancos um ganho real de 8,5% ao ano.
É muito confortável para o setor financeiro aplicar na rolagem da dívida pública, obtendo sem qualquer esforço e risco lucros de 8,5% a.a. na compra de títulos, com parte significativa de recursos das contas correntes sem quaisquer custos.
Ou simplesmente, mantendo saldos de contas correntes recebendo remuneração das operações compromissadas – o overnight que o BC remunera os saldos diários de contas correntes nos bancos.
Se os bancos estão muito bem, a economia do país dá sinais de esgotamento, com a drenagem absurda dos recursos da sociedade para o setor financeiro.
O desenvolvimento do país está travado devido a essa drenagem que no ano passado chegou aos R$ 700 bilhões apropriados por algumas dezenas de hiper ricos, algo como 3,5 vezes um ano do Bolsa Família que atende dezenas de milhões de brasileiros.
Para piorar, se valem da posição de força que têm hoje na sociedade e fazem um estardalhaço sobre a situação fiscal para tentar justificar o que estão promovendo.
Retenção do crédito, mais aumentos das taxas de juros, realimentando o ciclo vicioso que mantém nossa economia com crescimento pífio há quase uma década e pode levar, nesta quadra, a economia a uma recessão logo ali adiante.
Aí estão os exemplos da autofalência da centenária PAN de produtos alimentícios, da não menos centenária indústria de conservas Raiola, as reestruturações financeiras das Lojas Marisa e da Tok&Stok, entre outras empresas.
O emblemático e fraudulento caso das lojas Americanas, pelo vultoso do rombo que apresentou, também não deixou de tropeçar nos juros de capital de giro das operações de risco sacado.
Os bancos alegam que o aumento dos juros no mercado imobiliário estaria ocorrendo devido à redução de recursos da caderneta de poupança na composição dos recursos destinados aos empréstimos, aos grandes volumes de financiamento dos últimos anos, quando a Selic ficou em patamares elevados, numa contradição porque eles próprios defendem a manutenção dos 13,75% por mais tempo, à inflação relativamente alta e à indefinição, mais uma vez, do mito da âncora fiscal do governo.
Setor do mercado imobiliário, a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), buscando uma saída para a questão dos juros altos, encaminhou ao Banco Central (BC) uma proposta de redução de 5% no compulsório bancário visando gerar um recurso significativo de custo quase zero.
O objetivo seria direcionar esse dinheiro para abastecer os financiamentos de imóveis e uma redução das taxas de juros.
A medida, se confirmada, representaria uma injeção de R$ 38 bilhões em recursos no mercado imobiliário, disse o presidente da Abrainc, Luiz França, ao Estadão/Broadcast. “Com isso, a pressão sobre a taxa não existiria mais, pois haveria funding (recurso) disponível aos bancos para fazerem o mesmo volume de financiamentos do ano passado”, explicou.
Segundo ele, os R$ 38 bilhões poderiam se traduzir em 160 mil apartamentos, 900 mil empregos e R$ 10 bilhões em impostos.
J.AMARO
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