Nos primeiros meses do ano queda foi de 12,5%, aponta Serasa
Uma das consequências dos juros altos da economia foi a acentuada queda na procura por crédito entre os consumidores nos primeiros seis meses do ano. Segundo dados da Serasa Experian, no período de janeiro a junho, a procura por recursos financeiros registrou uma queda de 12,5% – a maior desde 2008. Antes disso, a maior retração havia sido observada em 2020, com uma queda de 8,1%.
O aumento exponencial dos juros de operações de crédito, seguindo a trajetória dos juros básicos da economia (Selic), tem efeitos preocupantes que vão desde a queda do consumo ao aumento da inadimplência. Operações de crédito, como as do cartão de crédito e do cheque especial, que já eram conhecidas por suas taxas abusivas, viram seus juros alcançarem níveis ainda mais elevados. Dados de maio apontam que o juro médio praticado pelos bancos para empréstimos para pessoas físicas foi de 7,65% ao mês. O rotativo do cartão de crédito alcançara 455,5% ao ano, enquanto o cheque especial, estava em 133%.
“Se por um lado as altas taxas de juros diminuem o apetite por linhas de crédito, do outro temos os elevados índices de inadimplência, que representam um risco para os credores e reduzem as ofertas do recurso. O mercado de crédito brasileiro sofreu uma desaceleração condizente com o cenário econômico”, afirma Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, acrescentando que espera que a procura por crédito cresça no segundo semestre se houver redução da taxa básica de juros.
A pesquisa revela que consumidores de todas as faixas de renda deixaram de buscar crédito no primeiro semestre. A maior retração ocorreu entre aqueles com renda mensal de até R$ 500, cujo recuo foi de 14,4%. Já para a faixa de rendimentos entre R$ 500 e R$ 1 mil, o recuo foi de 13,8%; de R$ 1 mil a R$ 2 mil (-11,5%); de R$ 2 mil a R$ 5 mil (-10,6%); de R$ 5 mil a R$ 10 mil (-10%) e para os que ganham acima de R$ 10 mil (-9,5%).
Dados da Serasa divulgados nesta sexta-feira (21) revelam que o número de brasileiros inadimplentes chegou a 71,45 milhões em junho, uma queda, a primeira em 2023, de 450 mil pessoas. Em junho do ano passado eram 66,82 milhões de inadimplentes no país.
Dentre as dívidas em atraso, aquelas com bancos correspondem a 27,8% do total, e as contas básicas, como água e luz, representam 22,6% das dívidas. Diante do valor médio devedor, que ultrapassa os R$ 4 mil, o novo programa do governo federal, o Desenrola, que negocia o perdão de dívidas de até R$ 100, não parece ser suficiente para resolver o problema dessa significativa parcela de brasileiros que enfrenta dificuldades para consumir por conta dos altos juros.