“Além de reduzir o consumo, o crédito caro tem contribuído para aumentar a inadimplência das famílias junto ao sistema financeiro”, denuncia a CNI
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, fez duras críticas ao Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que decidiu, nesta quarta-feira (5), manter o nível da taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano.
O empresário avalia que a permanência da taxa nominal de juros neste nível “sufoca a economia e isola o Brasil no contexto internacional de juros reais”.
Alban afirma que “a inflação está em clara trajetória de queda” e destaca que “a taxa de juros atual traz custos desnecessários, ameaçando o mercado de trabalho e, por consequência, o bem-estar da população. Além disso, o Brasil segue com a segunda maior taxa de juros real do mundo, penalizando duramente o setor produtivo”, critica.
O presidente da CNI também aponta que a decisão do colegiado de diretores do BC está na contramão do movimento global de redução dos juros. Recentemente, o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) cortou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, reduzindo a banda de juros para 3,75% e 4% ao ano. Esse foi o segundo corte seguido na taxa.
“O Brasil desperdiça mais uma oportunidade de reduzir a Selic sem pressionar o câmbio e, consequentemente, a inflação, porque o diferencial de juros entre Brasil e EUA aumentou ainda mais”, argumenta.
Em nota, a CNI afirma que, com a Selic no seu maior nível em quase duas décadas, a taxa de juros real giraria em torno de 10,5% a.a., quando se considera a inflação esperada nos próximos 12 meses, de 4,06%.
A entidade também cita que a taxa de juros média cobrada das empresas nas concessões de crédito, considerando as linhas com recursos livres, subiu de 20,6% ao ano, em setembro de 2024 (início do aperto monetário), para 24,5% a.a. em setembro de 2025. Já para os lares brasileiros, a taxa de juros média das operações de crédito passou de 52,3% para 58,2% ao ano, no mesmo período, considerando apenas os recursos livres.
“Além de reduzir o consumo, o crédito caro tem contribuído para aumentar a inadimplência das famílias junto ao sistema financeiro, que passou de 3,7% para 4,8%, no mesmo período de comparação”, reforça a CNI.
O ambiente hostil de juros altos reflete diretamente no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que cresceu apenas 0,4% no segundo trimestre de 2025 – o que é bem menos que a alta de 1,3% do primeiro trimestre deste ano.
A CNI afirma que os números parciais do terceiro trimestre também não são nada animadores. O indicador IBC-Br do BC (prévia do PIB) de agosto ficou 0,1% abaixo do registrado em junho, último mês do 2º trimestre.
“Os números reforçam que a manutenção da Selic é incompatível com a situação da inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, segue em tendência de queda, com o acumulado em 12 meses saindo de 5,5%, em abril, para 5,2%, em setembro”, aponta a entidade na nota.
A representante da indústria atrela parte dessa melhora ao comportamento dos preços de alimentos, que caíram em junho, julho, agosto e setembro, e dos preços de bens industriais, que passou de crescimento de 4,1%, no acumulado em 12 meses até abril, para crescimento de 3,2%, no acumulado até setembro. “Essa desaceleração se deve, em grande medida, à apreciação do real”, ressalta.
“As expectativas para a inflação no final de 2025 têm sido sucessivamente revistas para baixo, saindo de 5,6%, em abril, para 4,5%, no fim de outubro, de acordo com o Relatório Focus. Adicionalmente, as projeções para a inflação de 2026, 2027 e 2028 também vêm apresentando sucessivas quedas, situando-se atualmente em 4,2%, 3,8% e 3,5%, respectivamente; fortalecendo a percepção de melhora no horizonte”, conclui a CNI.











