CARLOS LOPES
Para Iso Sendacz e seus bravos companheiros do SINAL
Segundo a diretoria do Banco Central (BC), alguns jornais e a TV, repetidos pelos tolos de sempre, os juros altos deixaram de existir no país. Segundo um desses órgãos, temos hoje “os juros menores da História do Brasil” (?!).
Certamente, seria inútil esperar que, pelo menos, respeitassem, nessa campanha de cretinice, a memória ainda não de todo apagada dos mais veteranos (e mais experientes…), que lembram os juros reais (os do crediário, que são muito mais elevados que os juros básicos) negativos, no início do Plano Cruzado, em 1986.
Pelo jeito, aquela época deixou de pertencer à História… E não apenas esta. Por exemplo, eis uma observação sobre a economia brasileira antes de 1964:
“A vigência da lei da usura implicava, especialmente no caso de empréstimos públicos, taxas de juros reais negativas e, consequentemente, importantes transferências reais aos agentes econômicos endividados” (Marcelo de Paiva Abreu, “O Brasil no século XX: a economia”, in IBGE, Estatísticas do Século XX, Rio, 2006).
A “lei da usura” é o Decreto-Lei nº 22.626, de 7 de abril de 1933, assinado pelo presidente Getúlio Vargas, que limitava as taxas nominais de juros a 12% ao ano.
Além dessa falsificação “histórica”, também sob qualquer outro aspecto essa panfletagem dos fantasmagóricos juros baixos (com Meirelles, ex-presidente do BankBoston, mandando na equipe econômica!) é também mentira. Diz o último relatório sobre juros – o de dezembro de 2017 – da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (ANEFAC):
“Considerando todas as elevações e reduções da taxa básica de juros (Selic) promovidas pelo Banco Central desde março/2013, (…) a taxa de juros média para pessoa física apresentou uma elevação de 45,73 pontos percentuais (elevação de 51,98%) de 87,97% ao ano em março/2013 para 133,70% ao ano em dezembro/2017.
“Nas operações de crédito para pessoa jurídica houve uma elevação de 19,69 pontos percentuais (elevação de 45,18%) de 43,58% ao ano em março/2013 para 63,27% ao ano em dezembro/2017.”
Certamente, não se trata, aqui, dos juros básicos. Mas o que a ANEFAC está registrando é que os demais juros da economia permanecem estupidamente elevados em relação aos níveis de cinco anos atrás, que já eram muito altos. Aliás, em uma palavra, permanecem extorsivos.
Ora, dirá o fariseu de plantão na diretoria do BC – ou o comentarista econômico cujo único talento é macaquear os neoliberais de Chicago -, agora a taxa Selic está apenas em 6,75%, quando, em outubro de 2016, estava em 14,25%. Não é uma maravilha? Porém, quem estabelece os juros é “o mercado”. É preciso tempo para que os demais juros da economia sigam o caminho da Selic – que, esquece nessa hora o elemento, não é estabelecida por qualquer “mercado”, mas pela diretoria do BC, rotulada, a cada 45 dias, de Comitê de Política Monetária (Copom).
Como não é segredo para os nossos leitores, o que eles chamam de “mercado” são os monopólios financeiros, aquilo que, em 1914, um futuro membro da Corte Suprema dos EUA, Louis Brandeis, chamou de “cartel do dinheiro” – ou, nas palavras do então presidente Woodrow Wilson, citadas por Brandeis: “O grande monopólio neste país é o monopólio do dinheiro. Enquanto isso existir, nossa antiga variedade e liberdade e energia individual de desenvolvimento estão fora de questão” (cf., Louis Brandeis, “Other People’s Money And How The Bankers Use It”, Frederick A. Stokes Company Publishers, 1914).
Por isso, a polêmica sobre por que os juros no Brasil são altos, com doutas apreciações supostamente econômicas, é, sob qualquer aspecto, falsa.
Os juros no Brasil são altos porque os monopólios financeiros – o cartel formado por bancos, fundos estrangeiros e outros especuladores – domina o Banco Central, e, de resto, o governo.
Por exemplo: por que razão Lula, depois de eleito presidente pela primeira vez – e ainda antes de tomar posse – anunciou que o presidente do Banco Central seria o ex-presidente do BankBoston, então deputado federal eleito pelo PSDB (ou seja, pelo partido do adversário que Lula derrotara, José Serra, a quem Meirelles apoiou na eleição)?
Porque, na cabeça colonizada de Lula, o “normal” é que a política monetária seja entregue a quem ganha os tubos com ela, isto é, os citados monopólios financeiros estrangeiros.
O resultado foi uma pilhagem total de R$ 1 trilhão, 285 bilhões e 62 milhões, que o setor público transferiu para o setor financeiro, em juros, de 2003 a 2010 – ou seja, durante os dois mandatos de Lula.
E nem falaremos da nomeação, por Dilma, de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda (contra Lula, que preferia Meirelles…), pois isso é matéria recente.
O REAL E O NOMINAL
Para usar a linguagem popular, toda a propaganda atual sobre a queda dos juros é palhaçada. Mas uma palhaçada muito interessada em manter os juros lá em cima, e, por essa via, continuar saqueando o dinheiro dos brasileiros.
Pois o que interessa, em se tratando de juros, não é a taxa nominal, mas a taxa real, isto é, a taxa de juros depois de descontada a inflação. Ela é que constitui o ganho do banqueiro, do especulador, portanto, a parte da riqueza nacional que é transferida para o setor financeiro, parasitário, da economia. A parte que é anulada como ganho, pela inflação, não tem a menor importância, do ponto de vista daquilo que realmente interessa: o desenvolvimento do país e a elevação do padrão de vida do povo.
Tanto isso é verdade que, desde março de 2017, a diretoria do BC se empenha em convencer os incautos de que a taxa Selic, como taxa real de juros básicos (portanto, o piso dos juros da economia), não tem a menor importância.
Aliás, diz o sr. Goldfajn e seus colegas da diretoria do BC, como veremos, a Selic nem é a taxa básica.
Resta saber por que ele e seus asseclas se reúnem, durante dois dias, a cada 45 dias, com toda a solenidade – ou com uma solenidade ridícula, dependendo do ângulo pelo qual se enxerga a realidade -, se essa taxa não tem importância, ou nem é a taxa básica.
Ou por que, nesse dia, o país fica em suspenso, esperando a nova taxa Selic.
Ou, por que 47,9% dos títulos emitidos pelo governo federal têm como indexador, precisamente, a taxa Selic (cf. BC, “Estatísticas fiscais”, Quadro XXXVIII – Títulos públicos federais e operações de mercado aberto, nota de 31/01/2018).
PARA FRENTE E PARA TRÁS
No dia 23 de maio de 2017 (ou, como o BC prefere, “05/23/2017”, pois lá até as datas obedecem à notação norte-americana), a diretoria do Banco Central emitiu uma nota à imprensa sobre o cálculo da taxa básica real de juros:
“Os chamados juros reais ex-post referem-se a períodos passados, enquanto os juros reais ex-ante são aqueles esperados para períodos futuros. A taxa real ex-post da economia brasileira pode ser calculada como a taxa Selic efetiva acumulada nos últimos 12 meses, descontada a inflação acumulada no mesmo período. Já a taxa ex-ante é medida pela expectativa de taxa de juros futuros – pode-se considerar a taxa dos swaps DI pré 360 dias – subtraindo-se a expectativa de inflação para os 12 meses à frente – obtida da pesquisa Focus, realizada pelo BC” (cf. BC, “Taxa de juros reais ex-post ou ex-ante? Qual delas reflete melhor o estado atual da economia?”, 23/05/2017).
Citando o chefe adjunto do Departamento de Política Econômica do BC, Renato Baldini, a nota afirmava que a taxa ex-ante (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses) é “um índice que reflete melhor o estado atual e futuro da economia”.
É preciso dizer que, já existe algum tempo, 99,9% dos comentaristas, economistas e operadores financeiros consideram que a taxa real é somente aquela com base na inflação futura projetada. Por exemplo:
“Apenas de maneira ilustrativa, incluímos as medidas de juros reais ex-post, ou seja, com uso da inflação acumulada no período, todavia a medida de juros reais deve sempre contar com as projeções futuras dos índices oficiais de preços” (cf. Moneyou, “Ranking Mundial de Juros Reais”, abril/2013, grifo nosso).
O motivo de tal dogmatismo (“deve sempre contar, etc.”) é que essa taxa corresponde ao critério dos bancos e outros especuladores, que apostam em qual será a taxa real de juros ao fim de tal ou qual período. Para determinados elementos, o interesse do setor financeiro é a sua crença religiosa.
ASSIMETRIA
A base dessa nota do BC para a imprensa, sobre o cálculo dos juros reais, era um pequeno artigo, inserido no Relatório de Inflação de março de 2017, intitulado “Taxa de juros real durante desinflações” (cf., BC, “Relatório de Inflação”, v. 19, n° 1, março 2017, Brasília, pp. 52-55).
Resumindo: quando calculada com base na inflação já acontecida, a taxa básica deveria ser a Selic; quando calculada com base na inflação projetada para os 12 meses à frente, a taxa básica deveria ser a dos swaps DI pré 360 dias.
Portanto, o cálculo da taxa básica de juros real deveria ser feita com base na taxa nominal dos “swaps DI pré 360 dias”, e não com base na taxa Selic, pois a diretoria do BC não ignora que os operadores – a começar por aqueles da cúpula do BC – usam sempre o desconto da inflação futura, projetada, para calcular a taxa real.
O motivo dessa mudança – da Selic para a taxa dos “swaps DI pré 360 dias” – era, segundo se depreende do texto do Relatório de Inflação, fazer com que a taxa real correspondesse às “expectativas de inflação”. Ou seja, que fosse calculada não com base na inflação real, mas naquela que os gênios do mercado financeiro – incluindo os da diretoria do BC – achassem que era a expectativa, por vários motivos, a começar pelos motivos políticos.
Literalmente, com seu estilo obscuro, escreveu a diretoria do BC no Relatório de Inflação:
“A taxa real ex-ante tem caído (…). Depois de atingir 7,3% em agosto de 2016, a taxa real ex-ante atualmente encontra-se abaixo de 5%. A taxa real de juros ex-post tem um comportamento distinto, atingindo um mínimo de 2,3% no segundo semestre de 2015, período de elevados patamares inflacionários (acima de 9% no acumulado em 12 meses). Com a redução da inflação ao longo de 2016 e início de 2017, a taxa ex-post aumentou continuamente (…). … em períodos de desinflação, é comum ocorrer, num período inicial, movimento inverso entre as taxas reais de juros ex-ante e ex-post. A taxa ex-ante tende a cair, refletindo expectativas de flexibilização da política monetária, ao passo que a taxa ex-post tende a subir…” (cf. BC, Rel. cit., p. 54-55).
MÁSCARAS REPETIDAS
No entanto, o fato da taxa de juro real “ex-post” (com desconto da inflação acumulada) ser alta, quer dizer, precisamente, que o país e o povo estão sendo pilhados por juros altíssimos – o que é evidente até pelo sentimento das pessoas.
Querer evitar essa questão, somente tem um objetivo: disfarçar a pilhagem do país e do povo, mascarar a gigantesca transferência de recursos para o setor financeiro, para continuá-la.
Que os membros da diretoria do BC tenham ou não consciência disso, é sem importância. O importante, exatamente, é o que estão realmente fazendo.
No fundo, é a velha teoria de Roberto Campos, o Bob Fields, no primeiro governo da ditadura, segundo a qual o que importa não é a realidade, mas as “expectativas”, isto é, a fantasia que se destila para efetuar a pilhagem do povo e do país. Por isso, como o que importa são as “expectativas” e “não o passado”, pode-se, como fez Campos, ignorar a inflação que existe e arrebentar com o salário real (“entre 1964 e 1967, os salários na indústria caíram mais ou menos 25%”, disse, depois, orgulhosamente, o parceiro de Bob Fields, Mário Henrique Simonsen, autor da fórmula de arrocho salarial da ditadura).
Que tanto Bob Fields quanto Goldfajn tenham aprendido essa vigarice nos piores lugares (e autores) dos EUA, apenas revela o perfil dessas figuras.
CONFUSÃO E INTENÇÃO
Para qualquer leitor normal, o trecho da nota do BC, que citamos acima, tem um problema: por que a taxa básica real, quando calculada “para trás” (descontada a inflação passada) é a Selic, e, quando calculada “para a frente” (descontada a inflação futura, ou seja, a projeção da inflação), é a taxa dos swaps DI pré 360 dias, ou seja, a taxa das apostas dos especuladores sobre qual vai ser a Selic daqui a 12 meses?
Como pode uma teoria – ou qualquer prática coerente e honesta – admitir um único conceito que corresponde a duas coisas diferentes, como se fossem a mesma coisa, a taxa real de juros básicos?
Como é possível não apenas chamar pelo mesmo nome duas coisas (duas taxas) que são diferentes, como, inclusive, considerar que elas não são diferentes?
No Relatório de Inflação do BC, numa nota de pé de página, os que confeccionaram o artigo sobre juros reais percebem o problema, ainda que fugindo dele (por isso, não há discussão alguma sobre a questão, apenas esta nota de pé da página):
“… a taxa do swap pré-DI de 360 dias (…) reflete a taxa Selic esperada ao longo desse período mais um prêmio de risco, deflacionada pela taxa esperada de inflação” (cf. Rel. cit., p. 53).
Ou seja, a “taxa do swap pré-DI de 360 dias” é constituída pelas apostas que os especuladores fazem de qual será a taxa Selic ao fim de 360 dias, o que embute uma aposta, também, sobre qual será a inflação desse período.
É óbvio que isso significa que a taxa básica será determinada – como já é a Selic – pelo setor financeiro. A única diferença, em relação à situação anterior ao Relatório de Inflação de março de 2017, é que a diretoria do BC tornou-se mais descarada ainda do que já era, no seu papel de representante – ou empregada – dos monopólios financeiros, sobretudo os externos.
Alguns anos antes da ditadura ser derrubada, um prócer do governo de então – isto é, da ditadura – acusou o empresário e ex-ministro Severo Gomes de ser um estatista. “Não é verdade”, respondeu Severo Gomes. “A única estatização que sou a favor é a do Banco Central”.
Com efeito. O que diria ele, hoje, com o descaramento do sr. Goldfajn?
No entanto, cabe indagar em que sentido é esse descaramento. Qual a diferença prática entre usar uma taxa e outra?
Eis um exemplo de diferença prática:
Em abril de 2017, o site Moneyou, em geral a referência da imprensa para o cálculo da taxa real de juros básicos, publicou, após a reunião do Copom (dias 12 e 13 daquele mês), seu resultado: o Brasil estava com uma estonteante taxa real básica de 6,36% ao ano, a maior do mundo.
Somente um país, em toda a Terra, estava com uma taxa básica real próxima (a Rússia, com 5,12%). Os outros, ficaram a uma distância tão grande quanto aquela em que o pangaré uruguaio Montecristo, devidamente dopado, deixou seus concorrentes, no Grande Prêmio Brasil de 1962.
Porém, no ranking seguinte do Moneyou, foi anunciado um “novo Ranking Mundial de Juros Reais”:
“Em vista ao último Relatório Trimestral de Inflação (RIT) de 30 de março de 2017, onde grande ênfase foi dada à ratificação da queda dos juros reais e após extensa discussão produtiva com membros da autoridade monetária, mantivemos os cálculos referenciais pela equação de Fischer (…). Todavia, em confluência com estas discussões com o Banco Central, adotamos a taxa de juros referencial do dia da elaboração do ranking como o Swap DI Pré de 1 Ano exatamente por explicitar uma taxa “a mercado”, ou seja, um referencial do que seria juros dados ou tomados numa operação real e não o referencial das taxas nominais aplicadas pela Selic. (…) Deste modo, abandonamos quaisquer referências às taxas Ex-Post, focando somente nas Ex-Ante” (cf. Moneyou, “Novo Ranking Mundial de Juros Reais – Mai/17”, 01/06/2017).
No “ranking” do Moneyou, a taxa real dos juros básicos (ex-ante, ou seja, descontada a inflação futura projetada) do país havia caído para 4,3%.
Se mantida a Selic nesse cálculo (ao invés da taxa do “Swap DI Pré de 1 Ano”), usando a mesma fórmula, a taxa real dos juros básicos estaria em 6%.
Portanto, de uma tacada só, a taxa real foi amputada de 1,7 ponto percentual, ou seja, quase 30% menos, sem que houvesse qualquer alteração econômica que justificasse essa queda.
Era, simplesmente, uma quebra do termômetro para acabar com a febre… A isso se chamava “grande ênfase [do BC] à ratificação da queda dos juros reais”.
Como “ratificação”?
Desde quando a função do cálculo da taxa real de juros é “ratificar” aquilo que quer o BC – aliás, o setor financeiro, que manda na diretoria do BC?
NA MESMA
Para isso serve, portanto, a troca da Selic pelo taxa do “Swap DI Pré de 360 dias”. Para “ratificar a queda dos juros reais”, para esconder que os juros reais estão nas alturas.
E tanto isso é verdade que os demais juros da economia, como já mencionamos, não mostram baixa no mesmo sentido que as taxas maquiadas de juros básicos.
Aliás, até mostram, mas ainda mais cosmética que aquela da Selic.
Após 13 reduções, a taxa de juros do crediário, na prática, não saiu do mesmo lugar (89,04% ao ano); o mesmo em relação à do cartão de crédito (321,63% a.a.), à do cheque especial (295,48%) e a do empréstimo pessoal nas financeiras (137,91%). E essas taxas, que citamos, são médias. Em muitos lugares elas estão mais altas. A taxa média para “pessoas físicas” está em 133,70% ao ano (todos os dados são do último relatório da ANEFAC).
PREVISÃO
Ao fim da última reunião do Copom, no dia 8 deste mês, a diretoria do BC comunicou que decidira “reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 6,75% a.a.”.
Segundo o comunicado, para chegar a esse resultado, o Copom considerara que “as expectativas de inflação para 2018 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,9%”.
Logo, começou o foguetório da TV e a onda dos mais tolos (embora não necessariamente bem intencionados, somente por serem tolos) sobre “o menor juro da história” e outras fabricações.
Com base no “Swap DI Pré de 1 Ano”, a mídia divulgou que a taxa real de juro básico, no Brasil, passara a ser 2,89%, “apenas” a quinta do mundo, depois da Argentina, Turquia, Rússia e México.
Se fosse a quinta do mundo, já seria um desastre. Por que, em um mundo onde a média dos juros básicos está em 0% (zero por cento), o Brasil teria um juro tão alto, tão infinitamente maior que aquele dos EUA (-0,81%), França (-1,55%), Inglaterra (-2,11%) e até do que aquele de Israel, país natal do presidente do BC (-0,57%)?
Porém, a taxa real básica, atual, no Brasil, é muito maior que a propalada pela mídia.
No comunicado do BC, está claro que foram usadas duas projeções de inflação, todas com origem no boletim Focus: 3,9% e 4,2%.
Entretanto, leitores, no dia seguinte àquele em que o BC anunciou a nova taxa Selic, o IBGE revelou que a inflação, no Brasil, medida pelo IPCA, está em 2,86% ao ano (cf. IBGE, Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor – SNIC, 08/02/2018).
Mas o Banco Central usou a projeção do Boletim Focus, que é, meramente, a mediana (ou seja, 50% das previsões ficaram acima dela e 50% ficaram abaixo) das previsões dos bancos.
Se aplicarmos a inflação que existe (2,86%) ao cálculo da taxa real de juros básicos, a Selic, encontraremos 3,78%.
Ou seja, a taxa real de juros é 0,89 ponto percentual acima daquela divulgada após a reunião do Copom, ou, o que é a mesma coisa dita de outra forma, a taxa real de juros básicos é 31% maior do que aquela comemorada pela banda de música (música?) do setor financeiro.
Qual o problema no cálculo, além da troca da Selic pelo ““Swap DI Pré de 1 Ano”?
O problema é que a inflação futura projetada, sobretudo nesse caso, é uma fantasia – se foi inventada especificamente para subestimar a taxa real de juros básicos, nós não sabemos; mas que o efeito foi esse, realmente, foi.
É ainda mais claro, aqui, porque as trombas do setor financeiro odeiam juros reais calculados com base na inflação real – e preferem fabricar juros reais com base em “projeções” de inflação que refletem, sobretudo, o interesse dos tubarões que abocanham juros às custas do povo brasileiro.
No próprio comunicado que anunciou o corte dos juros nominais, o BC também comunicou que este é o último corte.
Por quê?
Porque eles querem que seja assim. Somente por isso.
E por que eles querem que seja assim?
Porque os fundos de Wall Street e os bancos querem receber, no mínimo, por volta dos 4% reais pelo dinheiro que aplicam para saquear o Brasil.
Somente por isso.
Agradecemos a gentil dedicatória e a importância do conteúdo.
Leilão da dívida pública – dealers – principais bancos brasileiros – sem regras
Os “dealers” são bancos que operam no “mercado” de câmbio em nome do Banco Central – e com o dinheiro do BC, isto é, do Tesouro. Não são principalmente brasileiros. Dos 13 “dealers” definidos pela Carta Circular nº 3.601/2013 do Banco Central, cinco são norte-americanos (Citibank, Goldman Sachs, J.P. Morgan, Bank Of America Merrill Lynch e Morgan Stanley), um é francês (BNP Paribas), outro é suíço (Credit Suisse) e, outro, oficialmente, é espanhol (Santander). Portanto, oito em treze são estrangeiros. Além disso, um deles é de nacionalidade duvidosa (Safra) e três são bancos privados internos: Bradesco, Itaú Unibanco e o favorito do PT (ou o PT é que é favorito dele), o BTG Pactual. E, por fim, um é estatal (Banco do Brasil).
John Maynard Keynes – Neocapitalismo – sistema monetário ou rentista em substituição ao tipo industrial ou empreendedor, favorece banqueiros entre outros, dinheiro sem o lastro que o garanta