
“Para a segunda metade do ano mantemos a previsão de desaceleração intensa, sobretudo em razão dos efeitos cumulativos do aperto monetário e de um ambiente macroeconômico desafiador”
O setor de máquinas e equipamentos no Brasil projeta desaceleração das atividades para o 2 º semestre deste ano. “Por dois fatores: primeiro, a base de comparação do período anterior é maior, segundo, está relacionada à política macroeconômica supercontracionista do Banco Central”, disse a diretora de Competitividade, Economia e Estatística da Abimaq, Cristina Zanella, em coletiva na quarta-feira (2).
Na mês passado, o Banco Central aumentou a taxa Selic de 14,75% para 15% a.a. Conforme ata da reunião e declaração do próprio presidente banco, Gabriel Galípolo, ficou firmado a decisão de que os juros continuarão nas alturas e “por um período bastante prolongado”.
Em maio, as receitas líquidas de vendas da indústria de máquinas e equipamentos totalizaram R$ 27,4 bilhões ou um aumento de 12,2% sobre as vendas de abril e 26,3% sobre mesmo mês de 2024. No acumulado do ano o setor faturou R$ 119,7 bilhões, um crescimento de 15,9% sobre o mesmo período de 2024.
O desempenho no mês de maio foi puxado pelo mercado doméstico (+35,5%), favorecido pela base de comparação mais fraca, mas também pelo desempenho dos setores menos sensíveis ao aperto monetário do Banco Central. Em maio, também, as receitas líquidas de venda, no mercado interno, movimentaram R$ 21,8 bilhões, 35,5% acima do resultado obtido no mesmo mês de 2024 e 10,8% superior ao mês de abril, considerando os ajustes sazonais.
“Esse desempenho veio em linha com as expectativas de crescimento no primeiro semestre. Para a segunda metade do ano mantemos a previsão de desaceleração intensa, sobretudo em razão dos efeitos cumulativos do aperto monetário e de um ambiente macroeconômico desafiador”, manifestou a Abimaq na coletiva.
As exportações, por outro lado, voltaram a registrar queda, anulando parte do bom desempenho no mercado doméstico. Aos R$ 989 milhões, em maio, as exportações recuaram 4,1% sobre abril, 5,9% sobre maio de 2024 e no acumulado do ano registraram queda de 5,9%.
“A continuidade da recuperação da demanda interna por máquinas e equipamentos reflete um cenário positivo, de resiliência das atividades manufatureiras, de manutenção de obras em infraestrutura e de melhor performance da agricultura, depois de um ano de fortes intempéries climáticas. Mas o crescimento das importações e a perda de participação das exportações sinalizam um quadro preocupante de competitividade para o setor industrial brasileiro”, alerta a entidade.
O desempenho mais fraco das exportações no mês de maio atingiu 4 dos 7 grupos setoriais. Mas, dentre os setores, o impacto negativo mais intenso veio do fabricante de máquinas para logística e construção civil cujo desempenho no período (18%) anulou parte do crescimento observado em abril/25 (+53%).
“Houve redução importante nas exportações para os Estados Unidos (-18,3%) e América do Norte em geral, embora tenha havido crescimento para países como Argentina (+54,3%), China (+90,8%) e Emirados Árabes Unidos (+121,2%)”, diz a Abimaq.
Pelo lado das importações, foi mantida a tendência de crescimento observada nos últimos meses. Na comparação interanual, o incremento foi de +5,2% e em relação a abril, de 2,9%, totalizando US$ 2,675 bilhões. De janeiro a maio, as importações somaram US$ 13,1 bilhões, valor 10,3% superior ao registrado no mesmo período de 2024 e o maior da história para o período.
As importações crescentes de máquinas e equipamentos, em praticamente todas as atividades da economia brasileira, representam um fator preocupante para o setor, pressionando a indústria brasileira.
“Há 10 anos o índice de penetração do importado de máquinas e equipamentos era 34%, hoje (Mai25) foi de 46,5%, houve, portanto, um aumento de 12,5 p.p na taxa de penetração de importados no país nestes últimos 10 anos”, alerta a Abimaq. A China respondeu por 32,4% das importações, seguida pela Alemanha e pelos Estados Unidos.