No primeiro trimestre as vendas caíram 5,2% e os lançamentos desabaram 44,4% na comparação com o último trimestre do ano passado
Os juros altos, em patamares “absurdos”, conforme o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, derrubaram as vendas de imóveis e o lançamento de novas unidades residenciais no país.
Segundo informou a entidade, entre janeiro e março de 2023 foram vendidas 72.988 unidades residenciais, uma queda de 9,2% em relação ao mesmo período do ano passado e um recuo de 5,2% na comparação com o trimestre anterior.
O número de lançamentos residenciais teve queda de 44,4% no primeiro trimestre de 2023 ante o quarto trimestre do ano passado, o que reflete uma redução de 38.761 unidades. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o tombo foi de 30,2%.
O presidente da Comissão de Indústria Imobiliária (CII), Celso Petrucci, destacou que não havia uma queda assim há 7 anos. “Quando consolidamos os números ficamos assustados com a redução dos lançamentos. Nós não lançávamos esse número tão baixo de unidades desde o 2º trimestre de 2016, então essa redução de 44,4% nos chamou muita atenção”, disse Celso Petrucci, presidente da CII
Os juros altos, alavancados pela taxa Selic a 13,75% ao ano, desde agosto do ano passado, brecam os investimentos e encarecem o financiamento imobiliário e estão entre os fatores que explicam “a falta de confiança” dos empresários, aponta a CBIC.
O que a CBIC diz é que há uma insegurança para investimentos e pessimismo do mercado de incorporadores, embora não considerem que o setor esteja desaquecido ou que haja excesso de estoque. A entidade cita a desorganização do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) diante da grande retirada de recursos da poupança, que é fonte de recursos para a realização do sonho da casa própria. Com a Selic a 13,75% os recursos da caderneta de poupança são transferidos para outras aplicações mais rentáveis, prejudicando o crédito mobiliário.
“Os agentes financeiros ficaram mais restritivos na concessão do crédito”, destacou José Carlos Martins, durante coletiva à imprensa na segunda-feira (29).
Além disso, os empresários vislumbram a necessidade de revisão dos tetos para contratação com recursos do Fundo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da adequação da curva de subsídios.
A queda no número de lançamentos reflete diretamente no número de contratações futuras, segundo a entidade. “Precisamos ter atenção a partir dessa queda porque o movimento seguinte pode ser o menor número de vendas e, consequentemente, uma menor geração de empregos”, disse José Carlos Martins.
Todas as regiões do país apresentaram queda nos lançamentos, com redução mais acentuada no Norte do país, onde o decréscimo foi de 86,9%. Na região Sudeste a entrega de unidades residenciais caiu 44,9%; no Centro-Oeste de -42,4%; e no Nordeste de -39,7%.
“O problema maior é de falta de confiança dos empresários na economia por conta do custo alto dos juros”, disse Celso Petrucci. Caso esse movimento de queda continue nos próximos trimestres, isso irá gerar uma preocupação no mercado imobiliário, alertou Petrucci. Para ele, poderá faltar unidade para ser vendida no país e, consequentemente, o aumento de preço.
MINHA CASA MINHA VIDA
De acordo com a CBIC, os lançamentos e as vendas do programa Minha Casa Minha Vida também registraram quedas no primeiro trimestre. Conforme o levantamento da CBIC, os lançamentos das unidades populares caíram 41,8%, para 16,8 mil unidades e as vendas recuaram 37,1%, para 24,8 mil.
Os dados do setor fazem parte do estudo Indicadores Imobiliários Nacionais, realizado pela CBIC e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional).