“Sob nenhuma perspectiva”, enfatiza o senador Randolfe Rodrigues (AP). Apesar da queda da inflação e das pressões de parte do governo, o BC, pela sétima vez consecutiva, em 21 de junho, não mexeu nos juros. Copom manteve a taxa Selic, juros básicos da economia, em 13,75% ao ano
O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Sem Partido-AP), manifestou-se, na última sexta-feira (14), por meio das redes digitais, contra os juros estratosféricos da taxa Selic.
“HABLA MESMO, MINISTRA! Os juros abusivos de Campos Neto não se sustentam mais sob nenhuma perspectiva. As taxas estratosféricas estão afetando nosso crescimento e prejudicando a renegociação de dívidas do nosso povo! Solta o freio de mão, Campos Neto!”.
A manifestação foi em apoio à ministra do Planejamento, Simone Tebet, que disse em entrevista, que com os juros em 13,75%, o Brasil “vai precisar de um Desenrola por ano” caso o patamar de juros continue elevado.
Com os juros nominais em 13,75% e a inflação em 3,16%, os juros reais estão em 10,59%. O Brasil é o país com o maior juro real do mundo.
INFLAÇÃO CAI, MAS JUROS SE MANTÊM ALTOS
Apesar da queda da inflação e das pressões de parte do governo e de vários setores empresariais, o BC (Banco Central), pela sétima vez consecutiva, em 21 de junho, não mexeu nos juros. O Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa Selic, os juros básicos da economia, em 13,75% ao ano.
A decisão era esperada pelos analistas financeiros e por certa mídia, que apostam em suposta queda apenas a partir de agosto, quando o Copom volta a se reunir novamente.
Em comunicado, o Copom alegou falsamente que ainda existem riscos sobre a inflação, como eventuais pressões globais sobre os preços e incertezas “residuais” sobre a votação do arcabouço fiscal. Pelas pressões, diferentemente das últimas reuniões, foi retirada a frase que afirmava que o BC poderia voltar a elevar os juros caso a inflação subisse, mas a autoridade monetária não informou se e nem quando pretende começar a cortar a Selic.
“O comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, foi ressaltado na nota do Copom.
MAIOR NÍVEL DESDE JANEIRO DE 2017
A taxa continua no maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano. Essa foi a sétima vez seguida em que o BC não mexeu na taxa, que permanece nesse nível desde agosto do ano passado.
Anteriormente, o Copom tinha elevado a Selic por 12 vezes consecutivas.
De março a junho de 2021, o Copom elevou a taxa em 0,75 ponto percentual em cada encontro. No início de agosto do mesmo ano, o BC passou a aumentar a Selic em 1 ponto a cada reunião. A Selic foi elevada em 1,5 ponto de outubro de 2021 até fevereiro de 2022.
No ano passado, o Copom promoveu dois aumentos de 1 ponto, em março e maio, e dois aumentos de 0,5 ponto, em junho e agosto.
Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.
CRÉDITO MAIS CARO
Juros maiores encarecem o crédito e desestimulam a produção e o consumo. Taxas mais altas de juros dificultam a recuperação da economia. No último Relatório de Inflação, o Banco Central projetava crescimento de 1,2% para a economia em 2023.
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos no Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central encarece o crédito e trava a economia, com riscos de recessão.
DESENROLA BRASIL
Começa nesta segunda-feira (17), o Desenrola Brasil, programa do governo federal que vai possibilitar a renegociação de dívidas de brasileiros e tem potencial de beneficiar até 70 milhões de pessoas. Nesta sexta-feira (13), foi publicada no DOU (Diário Oficial da União) portaria que define requisitos, condições e procedimentos de adesão.
“Nós vamos assumir a responsabilidade de tentar negociar com os bancos, negociar com as empresas para que as pessoas possam sair do Serasa, limpar o nome e voltarem a ser cidadãos e cidadãs de respeito, podendo consumir. Não tem nada mais gostoso do que um cidadão saber que não está devendo”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista à TV Record, na última quinta-feira (13).
O Desenrola será executado em três etapas. As duas primeiras já valem a partir de segunda-feira: a extinção de dívidas bancárias de até R$ 100 e etapa de renegociação de dívidas bancárias que pode beneficiar mais de 30 milhões de brasileiros.
No caso das pessoas físicas que têm dívidas bancárias de até R$ 100, elas ficarão automaticamente com o nome limpo pelas instituições, como parte do acordo com o governo federal. Com isso, caem restrições e a pessoa pode, por exemplo, voltar a pegar crédito ou fazer contrato de aluguel, não tendo outras restrições. Com essa operação, o governo federal considera que pode beneficiar cerca de 1,5 milhão de pessoas.
RENEGOCIAÇÃO COM BANCOS
Outro grupo beneficiado é o de pessoas físicas com renda de até R$ 20 mil e dívidas em banco sem limite de valor. É a chamada Faixa 2. Para essa categoria, os bancos vão oferecer possibilidade de renegociação diretamente com os clientes, por meio dos canais das instituições.
Estima-se que essa renegociação beneficie mais de 30 milhões de pessoas. Os créditos que podem ser usados na renegociação dessas dívidas totalizam cerca de R$ 50 bilhões. Como estímulo às renegociações, o governo oferece às instituições financeiras incentivo regulatório para que aumentem a oferta de crédito.