Em evento no BNDES, o vice-presidente disse que “o mundo inteiro tem praticamente juros negativos”. Ele declarou, ainda, que Lula deve vetar trechos de proposta do novo arcabouço fiscal entregue por Haddad na última sexta-feira (17)
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, endossou, nesta segunda-feira (20), as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos juros altos, os maiores do mundo.
Mesmo diante da expectativa do novo arcabouço fiscal, entregue a Lula na semana passada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o BC não deve reduzir os juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), prevista para esta semana.
“Não há nada que justifique 8% de juros reais acima da inflação quando não há demanda explodindo e quando o mundo inteiro tem praticamente juros negativos”, afirmou Alckmin.
Os juros básicos (taxa Selic) estão em 13,75%. A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), no acumulado de 2022, está em 5,60%. Assim, a diferença entre os juros e a inflação redunda em juros reais de 8,15%. Não tem cabimento.
Esses juros reais impedem o Brasil de sair do buraco, de investir, o mercado de aplicar na produção, para gerar emprego e renda, e a massa assalariada de consumir mais e melhor, gerando, assim, ciclo virtuoso, no lugar do vicioso.
INFLAÇÃO DE CUSTO
Segundo o vice-presidente, o Brasil não tem inflação de demanda que justifique a manutenção da taxa. “Pelo contrário: precisamos estimular a economia”, afirmou. “Juros altos dificultam o consumo, atrasam os investimentos, encarece a dívida do governo e oneram o fiscal”.
A inflação brasileira é de custo. O custo de tudo está alto em razão da alta taxa de juros Selic. O BC, sob Roberto Campos Neto, sabota a economia popular, o governo e o povo.
O ministro participou de seminário na sede do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no Rio.
“Acreditamos no bom senso de que vamos ter redução da taxa de juros”, disse Alckmin, às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne terça-feira (21) e na quarta-feira para decidir sobre a nova básica Selic.
DISCUSSÃO DO NOVO ARCABOUÇO FISCAL
Durante discurso na mesa de abertura, Alckmin também citou o modelo do novo arcabouço fiscal e a tramitação da proposta no governo.
Nesta segunda-feira, Haddad terá reuniões com grupos de parlamentares para discutir a proposta, enquanto a equipe do ministro da Casa Civil, Rui Costa, deve analisar o projeto.
VETOS AO TEXTO DE HADDAD
Segundo Alckmin, Lula ainda não deu a palavra final sobre o novo arcabouço fiscal. Há expectativa quanto a possíveis vetos por parte do presidente Lula.
O projeto deve ser divulgado esta semana. Vai tramitar no Congresso, iniciando a discussão pela Câmara dos Deputados, como PLP (projeto de lei complementar) da Câmara.
“O presidente Lula ainda não deu a palavra final, mas a engenharia foi bem concebida. O governo inteiro tem discutido de maneira muito harmônica, dentro do princípio de ter uma ancoragem fiscal que controle o crescimento da dívida e, de outro lado, que permita o investimento necessário”, apontou Alckmin à imprensa depois do evento no BNDES.
SUBSTITUIÇÃO DO TETO DE GASTO E REFORMA TRIBUTÁRIA
O próximo passo, de acordo com o vice, é encaminhar o projeto de lei de ancoragem fiscal nos próximos dias.
Ele disse ainda que, além do combate aos juros altos, Lula está “empenhado” na Reforma Tributária, desafio mais imediato para o governo. “Estamos otimistas que ela possa avançar”, afirmou o vice-presidente.
M. V.