Com o crédito reduzido e com o custo de capital mais elevado, os investimentos do setor industrial, com base em recursos tomados dos bancos, sofreram forte retração em 2019.
O saldo dos empréstimos e financiamentos, incluindo os recursos livres e os direcionados¹, feito pelos bancos ao setor industrial em 31/12/19 ficou em R$ 603,2 bilhões, o que representa uma queda de -8,5% no montante desses recursos à disposição do setor. Em 31/12/18 o saldo registrava R$ 660,2 bilhões.
Significa dizer, ainda, que a indústria mais amortizou empréstimos antigos do que fez novos investimentos, com recursos tomados do setor financeiro brasileiro, durante o ano passado.
Os seis subsetores industriais da tabela acima somam R$ 415,015 bilhões (2019) ou 69% do total de investimentos computados. Dos outros 10 subsetores que compõem a apuração do total de investimentos, outros oito também tiveram variações negativas em 2019 em relação a 2018, que como se sabe também foi um ano de baixos investimentos na indústria.
Setores estratégicos cujos investimentos têm grande efeito multiplicador, como o subsetores de máquina e equipamentos, infraestrutura, com quedas respectivamente de -5,9% e -3,9%, e construção com -11,8%, são indicadores de estagnação no crescimento deles próprios e de outros setores, que repercutem suas ações, nos próximos anos, inclusive nos setores do comércio e serviços.
O artigo “O obstáculo dos juros” do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), publicado na quinta-feira (29), demonstra que apesar do aumento da cessão de crédito dos bancos para toda economia em 2019, incluindo empresas e famílias em 13,2%, a cessão de crédito para a indústria foi reduzido, conforme a tabela acima detalha, e as taxas de juros aumentaram, devido as seguintes razões:
Sobre o crédito
“A contração do financiamento oficial, que em 2019, completou cinco anos, é um dos fatores que dificultam a recomposição mais consistente do financiamento corporativo no país. O encolhimento das atividades do BNDES, notadamente de sua carteira de financiamento ao investimento, é a principal razão desta evolução. No ano passado, as concessões reais do crédito direcionado às empresas caiu -8,1%, já o BNDES registrou -25,6% ante 2018”, destaca o IEDI.
É preciso considerar que do crédito direcionado, cujas taxas de juros mantêm alguma viabilidade para suportar investimentos produtivos, teve nos recursos do BNDES e do papel de fomento que ele teve, e está deixando de ter, um papel chave para indústria.
JUROS POUCO SE MEXERAM
“Outro obstáculo à recomposição do crédito que, neste caso, não se restringe ao segmento corporativo e atinge também o financiamento das famílias, tem sido os juros praticados nos empréstimos. De dez/18 a dez/19, a taxa básica de juros (Selic) definida pelo Banco Central, foi reduzida em pouco mais de 30%, passando de 6,5% ao ano para 4,5% ao ano. Os juros ao tomador, em contraste, pouco se mexeram”, afirma o instituto.
“Tomando apenas as operações de crédito livre, que refletem melhor as taxas de mercado, o nível médio de juros nominais às empresas saiu de 20,7% ao ano em 2018 para 18,8% ao ano em 2019. Isto é, uma redução inferior a 10%.”
“No caso das famílias, as taxas médias de juros em 2019 recuaram tão somente 3%, mantendo os patamares expressivos que têm sido a regra no Brasil. Passaram, no crédito livre, de 53,5% ao ano em 2018 para 51,7% ao ano em 2019.”
A indústria, com a derrubada das operações do BNDES, teria que recorrer às linhas de recursos livres. No entanto, estas linhas, sempre tiveram taxas de juro mais altas e em 2019 ainda que tenham tido uma pequena redução, muito aquém da queda da Selic, como acima demostrado, encareceram o crédito para o setor industrial.
A determinação do governo Bolsonaro em transformar o BNDES numa “butique” financeira, escancarou um dos objetivos dessa política de esterilização da instituição, que foi jogar os setores industriais nas garras dos bancos comerciais.
As antecipações de amortizações de empréstimos do BNDES junto ao Tesouro Nacional, iniciada em 2015 e aceleradas por Paulo Guedes, com a transferência de R$ 121,7 bilhões do banco de fomento para pagar a dívida pública em 2019 – e não reduziu a dívida pública-, é um exemplo desse desmonte.
A destruição em curso do BNDES, entre outras fontes de crédito direcionado, como a própria poupança, golpeia especialmente as indústrias nacionais.
As taxas de juros praticados pelos bancos e congêneres no Brasil, exceto o das linhas direcionadas, organizadas pelo Estado, transformaram o crédito numa trava aos investimentos e ao consumo. O que crescemos, o que nos desenvolvemos há décadas, foi, apesar do parasitismo do sistema financeiro, graças aos investimentos públicos e aos juros mais baixos praticados pelo BNDES para estimular o desenvolvimento econômico do país.
O crédito direcionado é composto por operações cujos juros ou cuja fonte de recursos são definidos pelo governo, como o financiamento habitacional, o crédito rural e os empréstimos do BNDES.
O crédito livre são os empréstimos e financiamentos concedidos pelos bancos e congêneres para as empresas e consumidores, cujas taxas de juros são determinadas livremente pelos bancos.