Volume de empresas que entraram com pedidos de recuperação judicial bateu a marca recorde de 1.405 no ano. Um aumento de quase 70% em relação a 2022
Com a manutenção dos juros altos em 2023, o volume de empresas que entraram com pedidos de recuperação judicial bateu a marca recorde de 1.405 no ano, o que corresponde a um salto de quase 70% em relação ao número de solicitações registradas no ano anterior (833 pedidos), segundo um levantamento feito pela Serasa Experian. Esse é o maior volume desde 2020.
Os número de pedidos e decretação de falências também cresceram 13,5% e 8,6%, respectivamente, de um ano para o outro. Em 2023, foram 983 pedidos, sendo 727 decretadas. Já em 2022, haviam sido 866 solicitações, sendo 669 decretações de falência confirmadas.
De acordo com a sondagem, as micro e pequenas empresas lideraram tanto na procura por pedidos de recuperação judicial (939) quanto nas solicitações de decretação de falência (546). Ao todo, a Justiça decretou 515 falências para empresas desses portes no ano passado.
Em segundo lugar estão as empresas de médios portes, com 331 pedidos de recuperação judicial e 231 solicitação de falência, sendo 150 decretadas em 2023.
Já as grandes empresas somaram 135 pedidos de recuperação judicial e 206 demandas por falência. 62 empresas desse porte tiveram seus pedidos de falências confirmados pela Justiça no ano passado.
O economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, destaca que o aumento no índice de recuperações judiciais no Brasil é “consequência do crescimento da inadimplência, que bateu recorde histórico no ano passado”. De janeiro a outubro de 2023, 7,7 milhões de empresas estavam inadimplentes, sendo 47,2 milhões em dívidas, que, juntas, somam 125,8 bilhões, segundo o Indicador Serasa Experian de Inadimplência das Empresas.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu cortar a taxa básica de juros da economia (Selic) em apenas 0,50 ponto porcentual, que passou dos 11,75% para 11,25% ao ano, o que, em meio a inflação baixa, mantém os juros real em níveis absurdos para desestimular a atividade econômica e encarecer os serviços das dívidas das empresas.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, ao afirmar que a decisão do Copom foi “injustificável”, cobrou “maior agressividade” na redução dos juros “para reduzir de forma significativa o custo financeiro suportado por empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas.
“O nível absurdo da taxa de juros real tem custado muito caro para a atividade econômica do país”, disse Alban.
No ranking da inadimplência, as micro, pequenas e médias empresas lideram no quesito, com 5,9 milhões de CNPJs negativados. Já por atividade, o setor de Serviço corresponde a 57% do total de empresas inadimplentes no país. O Comércio (37%) e a Indústria (7%) representam, juntas, praticamente, a outra parcela dos endividados.
Segundo o Monitor de Recuperação Judicial, da empresa RGF, o volume de companhias em processos de reestruturação saiu de 3.872 no segundo trimestre de 2023 para 4.045 no quarto trimestre do ano passado.
Por setores, segundo o Monitor RGF, os maiores índices de recuperação judicial estão nos segmentos de cultivo de cana-de-açúcar, construção de rodovias e ferrovias, fabricação de laticínios, de transporte rodoviário coletivo de passageiros, com itinerário fixo, municipal e de fabricação de máquinas e equipamentos para agricultura e pecuária, exceto para irrigação – com base na Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE).
A RGF também agrega a alta taxa de juros praticada no Brasil como explicação para a explosão de pedidos de recuperação judicial no país.
“As empresas ainda estão muito estranguladas com o custo da dívida”, afirmou Rodrigo Gallegos, sócio da empresa, em entrevista ao Valor Econômico, ao explicar que as empresas buscaram se alavancar com a oferta de crédito, quando os juros estavam baixos. De março de 2021 a agosto de 2022, a Selic saiu de 2% para 13,75% ao ano, ficando fixada nesse nível por 12 meses, até agosto de 2023. De lá até agora, o Copom realizou cinco cortes de 0,50 ponto porcentual na Selic, em cada reunião realizada pelo colegiado, que ocorre a cada 45 dias.