Empresários se desfazem de ativos porque não sabem por quanto tempo o juro continuará alto
O impacto dos juros desatinados sobre as empresas, sustentados pela manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano pelo Banco Central (BC), está presente nas diversas formas de como cada uma delas busca sair dessa armadilha contra e economia e os negócios.
No setor varejista, muitas empresas, algumas tradicionais, pediram recuperação judicial ou falência, outras decidiram fechar lojas e demitir. Lojas Marisa anunciou o fechamento de 91 unidades, Renner fechou 20 lojas e anunciou demissões, Tok&tok e Assaí foram pelo mesmo caminho, entre tantas outras.
Vale registrar a venda de imóveis próprios, outro recurso para reduzir o custo dos investimentos, especialmente em capital de giro, nessa situação de juros proibitivos.
Nesse processo, de janeiro a abril deste ano, as fusões e aquisições cresceram, particularmente, envolvendo ativos de empresas que estão penduradas nos juros altos.
Segundo estudo realizado pela FTI Capital Advisors, a pedido do jornal Valor Econômico, 27,8% das operações de Fusões e Aquisições, ou M&A no jargão do mercado financeiro, considerando as que movimentaram mais de R$ 200 milhões, foram de “ativos estressados”, os de alto endividamento. Uma participação bastante ampliada em relação a anos anteriores. Em 2021 e 2022 essas operações representaram cerca de 10%.
“Já há casos de empresas que estão colocando negócios à venda, agora porque não sabem por quanto tempo a taxa de juros se manterá alta. Elas querem evitar entrar em uma espiral negativa”, declarou Renato Boranga, diretor executivo da FTI, ao Valor.
Para Luciano Lindemann, diretor-executivo sênior da consultoria, uma das formas mais rápidas que algumas empresas têm buscado para fugir dos juros altos “é por meio de um desinvestimento”.
Em valores absolutos, dos R$ 28,9 bilhões movimentados de janeiro a abril em fusões e aquisições, quase metade (48,6%) envolveram esse tipo de ativos. A FTI Capital Advisors considera como ativos “estressados” divisões de negócios de companhias sadias, mas com alto endividamento e que empresas precisam se desfazer para reduzir alavancagem; grupos em recuperação judicial ou negócios ligados a acionistas com problemas financeiros. Alavancagem, diga-se negativa. O custo do capital maior do que sua rentabilidade.
Foi o caso da a venda da Aesop, da Natura, no valor de US$ 2,5 bilhões para a L´Oreal. A maior transação do ano da modalidade até aqui. Realizada exatamente com o objetivo de conter a necessidade de suporte financeiro para que a Aesop continuasse a se desenvolver, e com os recursos da venda concentrar com recursos próprios, fugindo dos juros, a estrutura financeira da própria Natura.
Pela mesma razão, numa operação um tanto distinta, a Copersucar anunciou a venda de 50% de participação no terminal independente de etanol Opla para a Ultracargo e a Gafisa se desfez de 80% do projeto Hotel Fasano no Itaim. Exemplos citados pelo Valor.
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