O cenário econômico de juros altos e inadimplência não poupou mais uma gigante do varejo: o grupo Renner, que controla a Lojas Renner, Camicado e Youcom, já fechou 20 de suas lojas no primeiro trimestre de 2023, período em que o lucro da marca despencou 75,6% na comparação anual.
Das 20 lojas fechadas, 13 são da Camicado, uma das maiores redes de lojas do mercado brasileiro no segmento de casa e decoração. Este ramo do varejo é mais sensível à capacidade de compra e acesso ao crédito das famílias. De acordo com comunicado da companhia, o cenário macroeconômico de inadimplência e juros altos, somado a erros de análise de desempenho, foram as causas da decisão. A redução da operação da empresa resultou em demissões, o número não foi divulgado pela Renner.
“Fizemos um movimento mais relevante na Camicado, sempre fazemos ajustes, mas agora mais relevante, mantendo aborção da venda [da loja fechada] em uma loja próxima. Vimos após a pandemia queda [na venda] e esperamos para ver se retomaria, e então decidimos agora que era preciso rever”, afirmou Fabio Faccio, CEO da empresa, durante encontro Investidor Day. “O fluxo nessas lojas não voltou e não tinha cara de que voltaria”.
Sobre inadimplência, a rede afirma que ela “segue elevada”, com aumento das contas em atraso com mais de 90 dias – e não é mais efeito de pandemia.
O volume de vencidos subiu de 22,1% de janeiro a março de 2022 para 28,3% em 2023 — a perda líquida cresceu de 3,5% para 5,6%. “Não existe mais efeito da safra de anos anteriores, de 2021, de 2022, é uma situação “macro”.
Com o fechamento de praças e demissões, as despesas financeiras, de janeiro a março, caíram quase 29%, mas resultado financeiro líquido piorou também afetado pela taxa Selic, passando de R$ 17 milhões positivos um ano antes, para negativo em R$ 15 milhões.
Falências, recuperação judicial ou anúncios de redução de operação de grandes empresas explodiram no Brasil em 2023, como consequência direta da Selic a 13,75%, mantida neste patamar – o maior do mundo – pelo Banco Central (BC) esta semana.
Além de inviabilizar investimentos, deprimir a demanda e elevar a inadimplência das famílias, a taxa básica de juros da economia também fez crescer a uma situação de insolvência as dívidas contraídas por empresas de diversos setores.
Ainda no varejo, um exemplo foi o da maior varejista de móveis do país, a Tok&Stok. Com dívidas de R$ 600 milhões rolando sobre a taxa de juros abusiva praticada no país, a companhia anunciou fechamento de lojas e queima de estoques, além de ter sido alvo de pedido de falência por parte de um credor.