Uma das razões pela qual comemora-se por aí a aparente queda na taxa básica de juros (Selic) é o, também aparente, efeito que essa medida surte nos juros do mercado.
Contudo, dados divulgados pelo Banco Central (BC) mostram que ao invés de cair, os juros cobrados pelas instituições financeiras às pessoas físicas e jurídicas, nas mais diversas modalidades, continuam subindo.
Os juros do cheque especial, conforme divulgado em relatório do BC, na terça-feira (27), cresceram 1,7% em janeiro em relação a dezembro, deixando a taxa média dessa modalidade em incríveis 324,7% ao ano.
Os juros médios das operações com cartão de crédito (juros rotativo) estavam em janeiro em 327,9% ao ano – não só uma das mais altas do mercado, mas também a mais alta do mundo.
Além do cheque especial e do cartão de crédito, os juros de empréstimos para empresas tiveram aumento de 0,7% de dezembro para janeiro, alcançando 22,3%.
Nada explica o motivo das instituições financeiras continuarem a se comportar como agiotas no Brasil, exceto o fato de que o governo escolheu governar para os bancos.
Segundo relatório da ANEFAC (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), a taxa média de juros para pessoa física sofreu uma elevação de 45,73 pontos percentuais, passando de 87,97% ao ano em março de 2013 para 133,70% ao ano em dezembro de 2017.
Nas operações de crédito para pessoa jurídica, a elevação foi de 19,69 pontos percentuais, indo de 45,58% em 2013 para 63,27% ao final de 2017.
Isso representa que, apesar das últimas reduções – por isso aparentes – da Selic, os juros da economia crescem e permanecem extorsivos.
A redução da Selic, que em fevereiro atingiu 6,75%, a sua “mínima média histórica”, como contam os grandes veículos de comunicação, é também aparente, pois, quando aplicada a inflação do período (2,86%) ao cálculo da taxa de juro real, ela se encontra em 3,78% ao ano, seguramente uma das maiores do mundo onde a política geral é a manutenção dos juros em níveis negativos.
Enquanto isso, a “autoridade monetária” estuda “várias coisas” visando a queda das taxas cobradas pelos bancos, diz o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, quando inquerido sobre o extorsivo juros do cheque especial. Os bancos, por sua vez, atribuem à inadimplência os altos juros.
Dificultando o acesso através das altíssimas taxas de juros cobradas a pessoas físicas e empresas, as operações de crédito diminuíram, acompanhando também o ritmo de crise. O estoque total de operações caiu de dezembro para janeiro, mais substancialmente para empresas: -2,7% de um mês para o outro.
O “spread” – composto pelo diferença entre o lucro dos bancos, pela taxa de inadimplência, custos adminstrativos, depósitos compulsórios e tributos – também continua subindo. No caso do spread das operações com pessoas físicas, este avançou 1 ponto percentual em janeiro, para 47,2 pontos – um índice elevadíssimo quando comparado à média praticada em outros países.
Tudo isso explica o fato de o lucro dos maiores bancos que operam no Brasil terem obtido crescimento de 14,6% no ano passado – enquanto todo o resto da economia continua padecendo de uma das maiores crises da história do país.
Considerando os privados, o lucro líquido do Itaú cresceu 10% no ano passado, atingindo R$ 24 bilhões; o Bradesco registrou R$ 14,65 bilhões e o Santander, o crescimento de absurdos 44% no ano, alcançando R$ 8 bilhões.
PRISCILA CASALE