Depois do aluguel, o gasto com juros é o segundo item entre as maiores despesas dos brasileiros, aponta pesquisa da FecomercioSP
Estudo realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) calculou que, em média, as famílias gastaram, no primeiro semestre deste ano 11,79% da sua renda com pagamento de juros.
As famílias brasileiras pagaram R$ 233,5 bilhões de juros no período. Esses gastos com juros representam cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) do período.
Altamiro Carvalho, assessor econômico da federação, aponta que, depois do aluguel, o gasto com juros é o segundo item entre as maiores despesas dos brasileiros, ficando atrás apenas do aluguel.
“O juro é disseminado nas despesas de uma forma que as pessoas não têm consciência do volume que esse recurso representa no orçamento doméstico”, disse Carvalho em reportagem do Correio Braziliense. O gasto com juros ultrapassa, por exemplo, os custos totais, por ano, com educação, serviços e vestuário.
Carvalho adverte: “se metade disso [montante de juros = R$ 233,5 bilhões] não tivesse sido pago, você injetaria na economia recursos para consumo das famílias, daria condições de consumo, de uma forma muito impactante que poderia, obviamente, estimular a produção, iria para a indústria, iria girar o nível da atividade econômica como um todo”.
O estudo confirma o entendimento que o crédito na economia nacional, ao invés de favorecer o consumo e os negócios, funciona ao contrário. A carga dos juros é tão alta que restringe a atividade econômica ao invés de alavancá-la.
A pesquisa busca quantificar o volume de recursos destinados nos primeiros seis meses de 2019, 2020 e 2021 para o pagamento dos juros dos empréstimos obtidos em operações de crédito livre (empréstimos com taxas de juros pactuadas entre bancos e mutuários, sem nenhuma intervenção externa, como a de governo etc.).
A análise destaca ainda que o auxílio emergencial pago pelo governo federal, que poderia ter incentivado ainda mais o consumo das famílias, beneficiando de maneira homogênea outros setores da economia, foi bastante comprometido com a quitação de dívidas com bancos que acabaram canalizando para sistema financeiro parte significativa do auxílio.
No primeiro semestre deste ano as famílias pagaram juros o equivalente a 73% do auxílio emergencial pago em 2020.
Na primeira metade de 2021, apesar do pior momento da pandemia no País, com mais óbitos e novas restrições e medidas de isolamento social, o valor pago somente pelas famílias ficou 7,2% maior do que o registrado em igual período de 2020, já descontada a inflação.
Os juros pagos pelas famílias, somando aqui os pagos pelas empresas, representaram 7,7% do Produto Interno Bruto (PIB) semestral, somando R$ 323,7 bilhões – aumento de 7,5% ante o mesmo período de 2020.
O total pago de juros pelas pessoas físicas e empresas foi superior ao total dos auxílios emergenciais distribuídos a mais de 63 milhões de brasileiros ao longo de 2020 (R$ 320,3 bilhões), e quase 20 vezes o que foi pago nos primeiros seis meses de 2021 (R$ 16,8 bilhões).
As empresas desembolsaram R$ 90,2 bilhões para este propósito – valor 8,2% acima do registrado em 2020. Tal soma representa 2% do PIB semestral.
Para exemplo comparativo, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) liberou R$ 37,5 bilhões em recursos para mais de 500 mil negócios no ano passado. Isso significa que o montante de juros pagos pelas empresas, no primeiro semestre deste ano, é quase 2,5 vezes superior ao volume destinado pelo programa.
O documento que traz a compreensão de fundo de como o crédito vem atuando na economia, a partir do acompanhamento do seu comportamento nos três primeiros semestres de 2019, 2020 e 2021, conclui que a responsabilidade principal dessa distorção dos juros abusivos cobrados pelos agentes financeiros está no endividamento do governo.
Os juros pagos seriam muito altos porque o governo toma emprestado dos bancos muito dinheiro para rolar a dívida e isso faz com que as taxas de juros subam.
Não consideraram a evidência da falta de qualquer racionalidade no nível das taxas de juros cobradas. Nos cartões de crédito taxas de até 400% ao ano, por exemplo. São taxas arbitradas pelos bancos e refletem a posição de um mercado capturado pelo monopólio, submetido ao sobrepreço que o caracteriza.