Os juros do rotativo subiram 21,8 percentuais em 2021 em relação aos 327,8% em 2020, segundo o BC
Em um cenário perturbador, com todos os setores da economia, exceto o financeiro, amargando perdas, retrocessos e prejuízos, o relatório com as estatísticas monetárias do Banco Central (BC), divulgado na sexta-feira (28), traz a informação que a taxa de juros do cartão de crédito, na modalidade rotativa, aumentou 21,8 pontos porcentuais em 2021.
Impressionante. Se fosse 21,8% para um empréstimo a uma empresa ou uma pessoa por um ano já seria uma contratação de alto custo para o tomador e polpudos lucros para o banco.
Mas não, foram 21,8 pontos percentuais que se somaram aos 327,8% ao ano de juros cobrados em dezembro de 2020 resultando no rotativo de 349,6% cobrado ao ano no fim de 2021.
Nessa dimensão de três dígitos de taxa de juros, ao final de um ano, os R$ 100.000,00 de um empréstimo, seriam R$ 349.600,00 a pagar. Mais de três vezes a quantia tomada de empréstimo em apenas um ano.
Já de algum tempo (abril de 2017) os banqueiros ouviram um pouquinho o clamor das ruas e junto com o BC transformaram a dívida no rotativo em rotativo parcelado, cobrando uma taxa de juros relativamente bem menor. No entanto, ainda assim, num patamar estratosférico. Em dezembro 2021 os juros do parcelado ficaram em 168,5% ao ano.
Além de alta, essa taxa média do rotativo parcelado, aumentou 19,6% pontos percentuais, visto que em dezembro de 2020 a mesma taxa estava em 148,9% ao ano. É também uma conta fácil de fazer. Pegou R$ 100.00,00 emprestado, em um ano, tem que pagar R$ 168.500,00 para resgatar a dívida.
O outro lado dos ganhos astronômicos que os bancos estão realizando com essas taxas extorsivas é o nível de endividamento das famílias que atingiu 70,9%, batendo recorde em 2021. Mais grave, o endividamento ocorre até por conta de compras de alimentos em supermercado, com salários em queda, o assombro da inflação, da carestia, do desemprego, em uma conjunção de transtornos para a grande maioria dos brasileiros, talvez nunca vistas.
Esse comportamento dos juros está atrelado ao aumento da taxa Selic, que é a taxa básica (piso) da economia nacional e referência para os títulos da dívida pública, que por sua vez, subiu 7,25 pontos porcentuais, de 2,0% a.a. para 9,25% a.a., durante o ano passado, com sinalização de novo aumento de 1,5% a.a. na próxima reunião do Comitê de Política Econômica (Copom) do BC nos dias primeiro e segundo de fevereiro.
Para Guedes, Bolsonaro e Campos Neto, para conter a inflação é preciso aumentar juros. Como a economia está na UTI o efeito da alta dos juros só vai fazer a inflação aumentar e derrubar os investimentos, sem os quais não há como melhorar ou muito menos soerguer a economia nacional.
O discurso oficial é que o crédito do cartão de crédito e do cheque especial são altos, que só deve ser usado para emergências e que você não deve tomar dinheiro nessas linhas de crédito, deve fazer educação financeira etc., e tal. Mas o cartão de crédito é uma epidemia. São os bancos, são eles mesmos, atrás da fachada das lojas, supermercados em todo lugar.
A banca quer ganhar emprestando no cartão de crédito e no cheque especial. Não mede esforços para o consumidor, o cidadão, usar exatamente essas linhas para as quais criam todo tipo de facilidade. A mais comum, sem tarifa, que logo adiante aparece no extrato.
Não há nenhuma razoabilidade, nenhuma explicação, nenhuma justificativa, nada, nada que explique as taxas de juros tão elevadas no Brasil, senão a decisão dos banqueiros em mantê-las nas estratosferas e conseguir isso pelo seu poder de monopólio.
Aqueles que estão querendo entrar no negócio como as fintechs, C6, Nubanck, entre outros, não querem romper com essa estrutura, mas apenas fazer parte dela.
Além de cobrarem taxas proibitivas, também colaboraram ou até impulsionaram a dívida, pública onde conseguem pelo menos metade do seus lucros, sem riscos, confortavelmente, cada vez mais, em alguns cliques.
O relatório do BC informa ainda que para industrial ou comerciante ou ainda um prestador de serviços que precise de algum dinheiro para cobrir uma falta no pagamento de folha de pagamento ou no pagamento de um fornecedor, etc., terá que pagar juros anuais:
No desconto de duplicatas ou recebíveis: 15,7%
No desconto de cheques: 31,8%
Antecipação de faturas do cartão de crédito: 13,1%
Linha direta para capital de giro: 20,1%
Chama atenção a cobrança de 13,1% para antecipar faturas de cartões de crédito, em um recebível líquido e certo.
Para as pessoas as taxas mensais para as principais modalidades de empréstimos são maiores que os das pessoas jurídicas, inclusive no crédito consignado, dito com taxas de juros mais acessíveis. As taxas anuais dessas modalidades foram em 2021:
Cheque especial: 127,6%
Não consignado: 85,2%
Consignado privado: 34,5%
Consignados setor público: 19,2%
Veículos: 26,8%
Os percentuais são a média das taxas de juros nominais, não expressam a ponderação entre taxas e volumes de crédito concedidos. Se dois bancos têm taxas, um de 10% a.a. e outro de 20% a.a. taxa média é 15%.
No entanto, se o que cobra 20% emprestou R$ 100.000,00 e o que cobra 10%, digamos, emprestou metade, R$ 50.000,00. Na ponderação a taxa média é 16,67%. Num grande volume de transações por todo país não calcular com ponderação pode levar a interpretações errôneas, mas a estatística do BC tem essa limitação.
J.AMARO