Setembro registrou o 9º mês seguido de aumento dos juros, com alta de 400,37% ao ano no cartão de crédito, agravando o endividamento e a inadimplência recordes das famílias
As taxas de juros para as operações de crédito subiram de novo em setembro. Foi a 9ª alta seguida em 2022, segundo a Pesquisa de Juros da ANEFAC (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
Os juros elevados pressionam as famílias brasileiras que vivem com os maiores índices de endividamento e inadimplência, em decorrência do desemprego elevado, da carestia e da renda arrochada.
Todas as linhas de crédito para as pessoas físicas e jurídicas subiram em setembro e a perspectiva da ANEFAC é de que as taxas vão continuar subindo.
Em setembro, a média das taxas de juros para as pessoas físicas ficou em 6,93%, equivalente a uma taxa anual de 123,46%, sendo esta a maior taxa de juros desde agosto/2018.
Na aquisição, por exemplo, de um eletrodoméstico com pagamento em doze meses, o consumidor estará pagando no término do crediário duas vezes o valor do bem adquirido.
A taxa média é calculada considerando os juros no comércio, cartão de crédito, cheque especial, financiamento de automóveis, empréstimo pessoal em bancos e financeiras.
O cartão de credito, de longe, é a linha de crédito mais cara do mercado. Em setembro, a taxa média do cartão de crédito subiu para 14,36% ao mês ou uma taxa equivalente a 400,37% ao ano. Tomando o mesmo exemplo do eletrodoméstico acima, o custo de um bem adquirido, se pago em 12 parcelas no cartão de crédito, teria um custo ao comprador de quatro vezes o valor original do bem.
O segundo crédito mais caro nessa lista, para as pessoas e famílias, é o cheque especial, que em setembro praticou taxas de 8,07% ao mês ou 153,78% ao ano. Em sã consciência, uma taxa também extorsiva. Aliás, mesmo a menor taxa, das aqui analisadas, que é o crédito para compra de veículo, que em setembro ficou em 2,15% ao mês ou 29,08% ao ano, continua ao nível de taxas estratosféricas.
EMPRESAS
Se as taxas de juros estão altas para as pessoas físicas travando o consumo, as taxas estão fazendo o mesmo com as empresas, inibindo os investimentos.
A taxa média do mês para pessoa jurídica foi de 4,02% ou 60,47% ao ano, sendo esta a maior taxa desde abril de 2018. As linhas de crédito consideradas pela ANEFAC para calcular essa média foram: Capital de giro: 1,98% ao mês ou 26,53% ao ano. Desconto de duplicatas: 2,10% ao mês ou 28,32% ao ano. Conta Garantida (tipo cheque especial): 7,97% ao mês ou 150,98% ao ano.
Uma empresa que obtenha uma remuneração do seu capital, usualmente medida pela rentabilidade sobre o patrimônio na base de 10% a 15% ao ano, ou seja, se o lucro do ano sobre o capital da empresa atinge esses percentuais, estamos com empresa altamente rentável. Agora, se o empresário tem que pagar juros acima desses percentuais, o custo do crédito é maior do que a renda que o negócio está gerando. E é isso que está acontecendo. Uma empresa que dê uma rentabilidade de 15% ao ano, o custo dos empréstimos é de mais de 20%.
TAXA DE JUROS X SELIC: ELEVAÇÃO DE 587.50%
De acordo com a ANEFAC, “considerando todas as elevações da taxa básica de juros (Selic) promovidas pelo Banco Central desde janeiro/2021, tivemos neste período (janeiro/2021 a setembro/2022) uma elevação da Selic de 11,75 pontos percentuais (elevação de 587,50%) de 2,00% ao ano em janeiro/2021 para 13,75% ao ano em setembro/2022”.
Neste período a taxa de juros média para pessoa física apresentou uma elevação de 30,87 pontos percentuais (elevação de 33,34%) de 92,59% ao ano em janeiro/2021 para 123,46% ao ano em setembro/2022.
Nas operações de crédito para pessoa jurídica houve uma elevação de 19,27 pontos percentuais (elevação de 46,77%) de 41,20% ao ano em janeiro/2021 para 60,47% ao ano em setembro/2022.
A escalada da taxa de juros pelo Banco Central, com aval do governo Bolsonaro, fez do Brasil o campeão mundial de juros reais e mantém a inflação em patamares elevadíssimos, asfixiando a economia, o setor produtivo e as famílias brasileiras.
As taxas de juros praticadas pelo BC com aval do governo Bolsonaro estão contribuindo para a dramática elevação da inadimplência das famílias brasileiras, que estão recorrendo a empréstimos, cartões e cheque especial até para pagar a conta de luz. De acordo com a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas, em setembro, a maior parte dos brasileiros devem para bancos (cartão de crédito, cheque especial e empréstimos, respondendo por 61,18% das dívidas).
E Bolsonaro ainda defendeu, através de seu ministro Paulo Guedes, arrochar ainda mais o trabalhador, confiscando seus salários e o dos aposentados, com a desvinculação do reajuste pela inflação oficial.
Os recursos que transbordam no mercado financeiro são os que estão faltando na mesa de 33 milhões de brasileiros que estão passando fome, sendo jogados nas avenidas de centenas de cidades, vivendo em barracas improvisadas. Somados a outras dezenas de milhões, estamos com mais de 40% da população mergulhada na insegurança alimentar.
Não há investimento, as aplicações rendem bem e é muito mais tranquilo ganhar nas opções de aplicação, com as garantias do governo central, sem ter que arcar com as responsabilidades e riscos de construir uma indústria, ou organizar um comércio ou mesmo uma atividade de serviços. As famílias, então, restringem suas compras, a produção industrial desaba, as vendas do comércio caem e o setor de serviços patina.