“Taxa Selic em patamares altos restringe o acesso ao crédito e dificulta a recuperação financeira, especialmente para os consumidores mais vulneráveis”
Juros altos e crédito restrito têm grande impacto sobre a renda das famílias de menor renda. Segundo levantamento mensal da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a inadimplência entre famílias mais pobres alcançou percentual de 37,7% em outubro, enquanto o percentual entre todas as rendas foi de 29,3% no mês.
De acordo com a entidade, o aumento da inadimplência concentrada nas faixas de renda mais baixas ocorre em um momento em que o endividamento geral das famílias está recuando, registrando 76,9% em outubro, refletindo “a cautela das famílias de uso de crédito” em um cenário de juros altos. Para os mais pobres, a taxa de endividamento é de 80,8%.
“A dependência de crédito em um cenário de juros elevados torna a quitação de dívidas um desafio ainda maior para as famílias mais pobres”, alerta o presidente da CNC, José Roberto Tadros, ao divulgar a pesquisa na terça-feira (5).
Nesta quarta-feira, o Banco Central divulga o novo patamar da taxa referencial de juros da economia, hoje em 10,75%, após divulgar um novo ciclo de elevação dos juros no país, entre os maiores do mundo. O setor financeiro aposta em um aumento de mais 0,50 ponto percentual, medida que só beneficia os bancos e demais rentistas e estrangula o setor produtivo e os consumidores brasileiros.
A pesquisa aponta que 12,6% das famílias inadimplentes não têm condições de quitar suas dívidas em atraso.
“O aumento da inadimplência, apesar da queda do endividamento, evidencia as dificuldades enfrentadas pelas famílias de menor renda para manter suas contas em dia em um contexto de juros elevados”, complementa Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, ressaltando que a “taxa Selic em patamares altos restringe o acesso ao crédito e dificulta a recuperação financeira, especialmente para os consumidores mais vulneráveis”.
A CNC projeta que o endividamento pode voltar a crescer no último trimestre de 2024 por conta das compras de fim de ano. “O crédito tem um papel fundamental no consumo, mas os juros elevados impõem restrições”, avalia Tavares.
O cartão de crédito, com os juros que no rotativo ultrapassam 400% ao ano, continua liderando o ranking de dívidas e pagamentos atrasados, com 83,5% das famílias endividadas utilizando essa forma de pagamento em outubro. O crédito pessoal registrou um aumento, passando de 9,4% em outubro de 2023 para 12% em outubro de 2024. Em contraste, o uso de cheque especial caiu para 3,6%, o menor índice desde o início deste ano.