Estagnação confirma alerta de Joseph Stiglitz, Nobel de Economia, de que atual taxa de juro é “pena de morte”
Com a queda nas vendas, sob os efeitos dos juros elevados no crédito, asfixiando o orçamento das famílias e das empresas brasileiras, quatro montadoras anunciaram esta semana a paralisação da produção e férias coletivas entre o final de março e meados de abril: Volkswagen, General Motors Hyundai e Stellantis. O setor emprega mais de 102,2 mil trabalhadores no Brasil.
A americana General Motors de São José dos Campos (SP), a coreana Hyundai em Piracicaba (SP) e a alemâ Volkswagen, em Taubaté (SP), decidiram conceder férias coletivas, em unidades fabris dos grupos para conter o crescimento dos estoques.
A Stellantis (franco-ítalo-americano), dona da Fiat, Jeep, Peugeout e Citröen, que detém hoje 32% do mercado nacional de veículos, inicialmente fará uma pausa em um dos três turnos da fábrica. Em abril, todos os turnos ficarão paralisados. É a programação para a planta de Goiana em Pernambuco, onde são produzidos os três modelos da Jeep (Commander, Compass e Renegade) e o Fiat Toro.
Essas decisões para administrar os estoques são um sinal do impacto da situação do crédito no Brasil. No início de março, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) enfatizou que os juros altos eram uma limitação que preocupava o setor para o crescimento em 2023.
Disseminados por toda economia, os juros praticados no país, turbinados desde abril de 2021, quando a Selic (taxa básica de juros da economia) saiu de 2% ao ano para os atuais 13,75% ao ano, dificultam, colocam obstáculos, quando não, travam os negócios como vêm acontecendo com o mercado de veículos.
Para Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, a redução da taxa de juros é fundamental para que o setor volte a crescer.
Segundo o Globo, o mesmo Leite já afirmara há algum tempo: “Se queremos crescer, retomar a indústria, com essa taxa de juros, não vamos fazer. Não há dúvida em relação a isso. E não estamos elucubrando: com essa taxa de juros, o mercado não cresce. Engrossar o coro para redução dos juros é fundamental ao nosso crescimento”.
As vendas de veículos de passageiros, comerciais leves, caminhões e ônibus, em janeiro deste ano foram de 142,9 unidades. Em fevereiro, as vendas somaram 129,9 mil, caíram 9% em relação a janeiro.
No ano passado, diversas linhas de produção foram paralisadas por falta de semicondutores e os 116,6 mil emplacamentos do ano anterior só foi maior do que o “desastre” de 2005, quando as vendas somaram apenas 99,6 mil automóveis e comerciais leves. Um início de ano ruim, confirmando retração do mercado de veículos.
CARTEL
Os preços também estão na equação que explica a retração de vendas deste mercado. O carro no Brasil nunca foi barato, mas já foi menos caro. Levantamento da consultoria Jato, conforme a Quatro Rodas, aponta que o preço médio dos carros novos vendidos no Brasil em 2022 foi de R$ 130.851.
É como se todos os 1.576.960 de automóveis emplacados no ano passado tivessem sido um Fiat Pulse Impetus com pintura metálica no valor de R$ 129.980. Isso representa um aumento de 85% em 5 anos.
O aumento no preço médio dos carros acumulado de 2020 a 2022 foi de 51,5%. Sucessivos e grandes aumentos, aliados a crédito caro e restrito, estão transformando carros em bens inalcançáveis as parcelas de menor poder aquisitivo, que já tiveram algum acesso aos veículos e que ficam agora cada vez mais distante da compra de um deles.
A renda média dos brasileiros está cada vez mais distante de alcançar os preços dos carros, que nos últimos anos ficaram muito mais caros, especialmente pela intensa recomposição do lucro das montadoras nos últimos dois anos, que focaram na produção de modelos mais rentáveis, assim venderam menos carros por valores unitários muito maiores.