Delgatti foi preso em 2019, na Operação Spoofing, da PF (Polícia Federal) por acusação de invadir contas no Telegram de autoridades e vazar áudios
A 10ª Vara da Justiça Federal de Brasília condenou, na segunda-feira (21), Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da Vaza Jato (ou de Araraquara), a 20 anos de prisão, mais multa, pelo caso da invasão do Telegram de autoridades, em 2019.
A decisão é do juiz Ricardo Augusto Soares Leite, que condenou ainda outras seis pessoas. Cabe recurso da decisão do juiz, que é de primeira instância.
Delgatti foi preso em 2019, na Operação Spoofing, da PF (Polícia Federal), por suspeita de invadir contas de autoridades no Telegram, entre essas de integrantes da força-tarefa da Lava Jato e do ex-juiz Sergio Moro, responsável pelos julgamentos em Curitiba.
COM BOLSONARO
Delgatti está no centro das atenções novamente, a serviço de Bolsonaro e seu entorno. O hacker foi contratado pela deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) para atacar as urnas eletrônicas e o Judiciário. Recebeu R$ 40 mil da deputada.
Foi recebido por Bolsonaro que lhe perguntou se conseguia invadir as urnas eletrônicas. Também esteve no Ministério da Defesa, dirigido na época por Paulo Sérgio Nogueira, aliado de Bolsonaro, onde preparou relatório contra as urnas eletrônicas.
A mando de Carla Zambelli, o hacker entrou no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e instalou um mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
ALINHAMENTO ILEGAL E PARCIAL
As mensagens trocadas com o ex-procurador Deltan Dallagnol mostraram relação alinhada, parcial e ilegal, entre Ministério Público e juiz, o que foi decisivo para a derrocada da operação, anos depois.
Delgatti admitiu à PF que entrou nas contas de procuradores da Lava Jato e confirmou que repassou mensagens ao portal noticioso The Intercept Brasil, que revelou o caso, posteriormente, conhecido como Vaza Jato.
O hacker depôs na semana passada na CPI do Golpe, instalada no Congresso Nacional, e na PF, ocasião em que acusou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de participar de ações para atacar a Justiça Eleitoral e de tramar contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
ENTENDA O QUE FOI A VAZA JATO
A Vaza Jato foi o vazamento de conversas realizadas por meio do aplicativo Telegram entre o então juiz Sergio Moro, o então procurador da República Deltan Dallagnol e outros integrantes da Operação Lava Jato. Significou a implosão da operação chefiada por força-tarefa de procuradores do MPF (Ministério Público Federal), que em conluio com o juízo da 13ª Vara de Curitiba processou e prendeu o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Há pouco mais de 3 anos, o vazamento expôs mensagens de integrantes da força-tarefa da Lava Jato, considerada a maior investigação contra corrupção do País. Ao todo, 80 figuras públicas foram alvos das invasões de hackers. Entre elas, o então juiz Sergio Moro e Deltan Dallagnol, que chefiava a Lava Jato em Curitiba (PR).
DESTINO DO HACKEAMENTO
Parte das mensagens, relativas às conversas entre Moro e integrantes da força-tarefa, foi encaminhada para o jornalista Glenn Greenwald e publicada no The Intercept Brasil e por outros veículos de imprensa. O caso ficou conhecido como “Vaza Jato”.
As discussões pelo Telegram, invadida por Delgatti Neto, culminariam na denúncia de parcialidade de Moro ao julgar o caso do triplex, na anulação das decisões da Lava Jato pelo STF e, por extensão, na revogação da prisão do então ex-presidente Lula.
Dias após o vazamento das mensagens, a PF deflagrou a operação Spoofing que resultou na denúncia, por parte do MPF, de sete pessoas acusadas de crimes relacionados à invasão de celulares e à obtenção de dados e conversas no Telegram das autoridades.
Em 8 de março de 2021, o ministro Edson Fachin, do STF, anulou todas as condenações impostas pela Justiça Federal do Paraná ao então ex-presidente Lula, na Operação Lava Jato.
HACKER RESPONSÁVEL POR ATAQUES
Delgatti Neto foi apontado como o hacker responsável pelo ataque para obter mensagens de procuradores e como líder do chamado “Grupo de Araraquara”, organização criminosa que teria formado com Gustavo Henrique Elias Santos, Danilo Cristiano Marques e Suelen Priscila de Oliveira para a prática de crimes cibernéticos bancários, pelo menos desde 2017.
Outras duas pessoas também foram indiciadas: Thiago Eliezer Martins Santos, especialista em informática, que morava em Brasília, e Luiz Molição, amigo de faculdade de Delgatti, em Ribeirão Preto (SP).
Segundo a denúncia, Delgatti Neto seria responsável “direto e imediato” por 126 interceptações telefônicas, telemáticas ou de informática e por 176 invasões de dispositivos informáticos de terceiros.
JUIZ “SEMPRE ATUANDO EM FAVOR DA ULTRADIREITA E DE BOLSONARO”
O deputado Rogério Correia (PT-MG) declarou através das redes sociais que o juiz Ricardo Augusto Soares Leites age sempre a favor da ultradireita e de Bolsonaro.
Segundo o deputado, o magistrado “determinou a suspensão das atividades do Instituto Lula”. Para o parlamentar, o juiz é “um velho amigo” sempre “atuando em favor e na hora que a ultradireita e Bolsonaro precisam”.
De acordo com o UOL, o juiz coleciona decisões polêmicas.
Em 2018, Ricardo Leite proibiu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de deixar o país e determinou que o agora presidente da República entregasse o passaporte à Polícia Federal.
Em maio de 2017, Ricardo Leite determinou a suspensão das atividades do Instituto Lula.
Em 2015, procuradores do MPF pediram que o juiz Ricardo Leite fosse afastado dos processos da Operação Zelotes após o juiz negar pedidos de prisão e medidas da investigação feitos pelo Ministério Público. Na época, Leite alegou que atuava com independência.
A Operação Zelotes investigou a existência de um esquema de sonegação e corrupção no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) que teria beneficiado empresas privadas com a anulação de multas fiscais.
M. V.