Nesta segunda-feira (8), a Justiça manteve a prisão temporária de 30 dias do tenente da Polícia Militar (PM) Henrique Velozo, pelo assassinado com um tiro na cabeça, o campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Lo , neste final de semana, após uma briga durante um show de pagode na Zona Sul de São Paulo.
O policial militar de 30 anos foi indiciado pela Polícia Civil pelo crime de homicídio doloso qualificado por motivo fútil, segundo informou também nesta segunda a Secretaria da Segurança Pública (SSP), por meio de sua assessoria de imprensa.
O lutador tinha 33 anos quando foi baleado na noite de sábado (6) no Clube Sírio. A morte cerebral dele foi confirmada no domingo (7) pelo hospital onde estava internado. Nesta segunda, Leandro foi enterrado num cemitério na Zona Sul.
Amigos e parentes do atleta que participaram do velório pediram a punição do policial pelo assassinato de Leandro. Henrique já havia sido condenado pela Justiça Militar de São Paulo por agredir e desacatar outros policiais militares na boate The Week, na Zona Oeste da capital, em 2017.
Nos dois casos, o tenente da PM estava de folga, armado e sem uniforme.
As agressões aconteceram às 4h20 do dia 27 de outubro de 2017. O tenente estava de folga e em trajes civis em uma balada na casa noturna The Week, na Lapa, zona oeste de São Paulo, com o primo e também soldado da Polícia Militar Iury Oliveira do Nascimento. Velozo comemorava o ingresso do primo na corporação. Iury foi agredido por sete rapazes e o tenente tentou defendê-lo. Ambos sofreram lesões. A Polícia Militar foi acionada. Flávio e o soldado Francisco foram os primeiros a chegar à casa noturna.
Segundo depoimento de Flávio à Justiça Militar, o tenente Velozo estava nervoso, alterado e com odor alcoólico. O soldado tentou dialogar com ele, mas acabou levando um soco em um dos s braços e outro de raspão na região do maxilar. Outras viaturas da Polícia Militar também foram para o local. Velozo tentou dar chutes nos colegas de farda. E também desacatou um oficial. Minutos depois, ele foi contido, desarmado e conduzido ao Hospital da Polícia Militar para ser submetido a exame de corpo de delito.
Neste sábado (6), segundo testemunhas contaram à Polícia Civil e à imprensa, Henrique, que também seria praticante de lutas, foi tirar satisfações com Leandro, que o imobilizou no Clube Sírio, durante o show do grupo Pixote. Depois que foi solto, o policial militar sacou sua arma e disparou contra o rosto do lutador, que chegou a ser socorrido, mas não resistiu ao ferimento e morreu.
O tenente, que fugiu após atirar em Leandro, se apresentou à Corregedoria da Polícia Militar, ainda no domingo, quando também foi levado para uma delegacia, onde foi interrogado. Mas, segundo policiais ouvidos pela reportagem, ele teria ficado em silêncio, sem responder às perguntas.
Ainda no domingo a Justiça decretou a prisão temporária de 30 dias de Henrique. Nesta segunda ele passou por audiência de custódia no Fórum da Barra Funda, onde foi mantida a detenção dele por decisão judicial. Atualmente o tenente está detido no presídio militar Romão Gomes, na Zona Norte.
O caso foi registrado no 17º Distrito Policial (DP), Ipiranga, mas será investigado pelo 16º DP, Vila Clementino. A Polícia Civil procura imagens de câmeras de segurança do clube para saber se elas gravaram a confusão e o momento que o PM atirou no lutador. Além disso, Henrique também é investigado pela Corregedoria da PM que apura a conduta do tenente para saber se ele cometeu algum crime militar.
PM TAMBÉM PRATIVACA JIU-JÍTSU
Fátima Lo, mãe de Leandro Lo, disse nesta segunda que o policial militar que atirou e matou seu filho também era praticante da arte marcial, conhecia o atleta e provocou a confusão.
“Ele era lutador na vida, nos tatames ele só trouxe alegria para a gente. Muito preocupado com a família. Ele era a alegria em pessoa e uma pessoa que fez isso com ele… E a pessoa conhecia ele, porque era do jiu-jitsu também, e acabou acontecendo. A pessoa já foi para isso, com certeza já foi pra isso, só que a gente não sabe o porquê.”
“Porque não tem explicação, a forma estúpida que aconteceu. Porque ele provocou uma confusão gente, justamente para o Leandro reagir e nessa ele tirou a vida do meu filho”, disse Fátima em entrevista à TV Globo.
A declaração foi dada na frente do Cemitério do Morumby, na Zona Sul da capital, onde acontecia o velório de Leandro.
“Meu herói, lindo da mãe! Você foi um presente de Deus na minha vida. Vou sentir tanta sua falta, tá faltando um pedaço de mim. Te amo eternamente filho amado. Guardarei as lembranças boas que foram muitas. Vc fazia eu me sentir a mãe mais amada do mundo. Muito obrigada pelo seu amor , seu cuidado. Te amo muito, saudade eterna”, escreveu Fátima Lo.
Um amigo do lutador que presenciou o crime disse que o autor do tiro estava sozinho e provocou Lo e cinco amigos, que estavam numa mesa.
“Ele chegou, pegou uma garrafa de bebida da nossa mesa. O Leandro apenas o imobilizou para acalmar. Ele deu quatro ou cinco passos e atirou”, disse a testemunha, que pediu para não ser identificada.
Henrique apagou suas contas nas redes sociais após atirar em Leandro. Numa das postagens, antes do crime, o tenente tinha publicado uma foto dele segurando uma arma com a seguinte mensagem: “A arma de fogo anula a tirania do mais forte e protege a integridade do mais fraco”.
O atleta foi socorrido e levado ao Hospital Municipal Arthur Saboya, no Jabaquara, também na Zona Sul de SP, onde veio a falecer em decorrência do ferimento de bala.
REINCIDÊNCIA
O tenente já havia sido condenado pela Justiça Militar de São Paulo por agredir e desacatar outros policiais militares na boate The Week, na Zona Oeste da capital, em 27 de outubro de 2017.
Naquela ocasião, Henrique foi acusado de dar um soco no braço de um agente da Polícia Militar e de tentar bater no rosto e de dar chutes em outros policiais militares, além de ofendê-los. O motivo: os PMs tinham sido chamados para atender uma ocorrência de confusão dentro da casa noturna.
De acordo com o Ministério Público Militar, o tenente estava com um primo no local e ambos acabaram se desentendendo com outros frequentadores.
Ainda segundo a Promotoria, um vídeo gravado no local e testemunhas confirmaram a versão dos agentes que encontraram Henrique “embriagado”, “nervoso e exaltado, dificultando o trabalho dos militares”. Em 13 de maio de 2021, o tenente foi condenado a nove meses de prisão em regime aberto.