
Chefe da delegação russa a Instambul, Vladimir Medensky, anuncia que troca agora será de presos de guerra gravemente feridos
Cumprindo, finalmente, o acerto da última rodada de negociações diretas Rússia-Ucrânia em Istambul no dia 2, Moscou e Kiev efetivaram na quarta-feira (11) a troca de soldados mortos em combate, com a Rússia entregando 1212 corpos de ucranianos, mantidos em caminhões frigoríficos, e recebendo 27 dos seus.
“Entregamos ao lado ucraniano 1.212 cadáveres de soldados das Forças Armadas da Ucrânia. Recebemos de volta 27 soldados mortos das Forças Armadas da Rússia. Eles agora podem ser enterrados de forma cristã”, registrou Vladimir Medinsky, chefe da delegação russa em Istambul.
Nesta quinta-feira, segundo ele, deve início a troca de presos de guerra gravemente feridos.
A troca – que resultou de uma proposta russa de entregar unilateralmente 6 mil corpos de soldados ucranianos para que fossem entregues às famílias – deveria ter ocorrido no sábado passado (7), com os caminhões refrigerados russos tendo chegado ao local na fronteira, na região de Bryansk, e constatado que o lado ucraniano não veio ou sequer dado qualquer explicação ou razão para tanto. Uma segunda tentativa de realizar a troca no dia seguinte também não resultou em nada.
Um procedimento que o lado russo considerou chocante e levou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, na segunda-feira (9) a reiterar que “nossos especialistas estão na fronteira, no local previsto para a entrega” e que Moscou estava “pronta” para cumprir os acordos alcançados em Istambul.
Kiev chegou a “explicar” a recusa a receber seus mortos por uma suposta não concordância com a data de transferência e acusando Moscou de manipular questões humanitárias para “fins de propaganda”.
No total, a Rússia planeja devolver mais de seis mil corpos à Ucrânia. Como Medinsky disse após as negociações de Istambul, “estamos entregando unilateralmente seis mil corpos congelados de soldados e oficiais ucranianos mortos para o lado ucraniano”. Segundo ele, “identificamos todos que pudemos, realizamos testes de DNA e descobrimos quem são”. “Não sei se há algum do nosso lado… se eles tiverem corpos do lado deles, nós os aceitaremos também”, disse Medinsky.
Por sua vez, o chefe da delegação ucraniana e Ministro da Defesa do país, Rustem Umerov, afirmou que a Ucrânia supostamente entregaria os corpos de seis mil soldados russos como parte do repatriamento, mas essa afirmação levantou sérias dúvidas, segundo o jornal russo Vzglyad. A publicação observou que, na última troca de corpos entre as partes em meados de maio, Kiev recebeu os corpos de 909 soldados e Moscou, 34.
Embora alguns analistas hajam visto na recusa da semana passada um desejo do regime de Kiev de evitar pagar indenizações a que as famílias dos soldados mortos têm direito, uma explicação possivelmente mais racional é que a escala da troca, por si só, é um desmentido às afirmações oficiais ucranianas quanto às reais perdas de combatentes.
A Diretoria Principal de Inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia informou que, entre os recém repatriados estão os mortos durante operações militares nas regiões de Kursk, Kharkov, Zaporizhia e Kherson, bem como no Donbass (Donetsk e Lugansk). Os corpos serão transferidos para o Ministério do Interior e o Ministério da Saúde da Ucrânia para perícia e identificação dos mortos.
Na segunda-feira (9), havia ocorrido a primeira troca de presos de guerra jovens, de até 25 anos, mas não foi divulgado o número exato dos libertados, embora haja fotos de ucranianos retornando e de russos.
As negociações de Istambul foram retomadas três anos após Kiev se retirar, depois de receber ordem de Washington e de Londres, após obtido um acordo que teria evitado centenas de milhares de mortos e restaurado a neutralidade da Ucrânia e o respeito constitucional aos direitos dos russos étnicos, à língua e a própria religião, e excluindo de vez a Otan.