Os kits de robótica comprados com dinheiro do orçamento secreto na cidade de União dos Palmares, em Alagoas, vão completar 16 meses sem terem sido usados nas salas de aula.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), enviou recursos para cidades alagoanas comprarem os superfaturados kits e tem ligação com vários membros do esquema criminoso.
Uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, publicada na segunda-feira (19), mostrou que em três escolas de União dos Palmares as caixas dos kits de robótica continuam empilhadas esperando o “treinamento” dos professores.
A cidade tem 65 mil habitantes e usou R$ 7,48 milhões vindos do orçamento secreto para comprar 426 kits de robótica para suas escolas.
Na escola João Costa de Oliveira, que tem 1.200 alunos, as caixas dos kits de robótica estão empilhadas no laboratório de ciências e, mais para frente, servirá para as aulas de robótica.
Na Jairo Correia, com 1.115 estudantes, os kits estão empilhados em uma sala que tem outra função.
Na escola Maria Mariá de Castro Sarmento, com 400 alunos, a Folha encontrou 18 kits, sendo que pelo menos um deles estava aberto. Os professores dessa escola já foram capacitados para usar os kits.
As visitas feitas pela Folha não foram agendadas. A reportagem diz que o sinal de internet nas escolas era “fraco e/ou intermitente” e que não há computadores disponíveis para os alunos.
O prefeito de União dos Palmares, Areski Freitas Junior (MDB), é aliado de Arthur Lira, presidente da Câmara.
Segundo a Secretaria de Educação de União dos Palmares, os professores foram treinados para usar os kits em março, mas só começaram a usá-los em sala de aula em junho. Até lá, serão completados 16 meses desde a compra.
O atual secretário de Educação, Petrúcio Wanderley, é homem de confiança de Arthur Lira.
Lira indicou pessoalmente, escondido no orçamento secreto, R$ 32,9 milhões para que cidades alagoanas comprassem os kits de robótica superfaturados pela empresa Megalic.
Desse dinheiro, R$ 9,1 milhões seriam destinados somente para União dos Palmares, mas uma decisão judicial barrou a aquisição.
O dono da Megalic, Edmundo Catunda, é pai do vereador de Maceió, João Catunda. João é um conhecido aliado de Arthur Lira.
A empresa superfaturou em 420% os kits de robótica que vendeu para os municípios. A Polícia Federal, a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) estão investigando o esquema criminoso.
Luciano Cavalcante, homem que foi filmado pela PF recebendo dinheiro da organização criminosa, foi assessor de Arthur Lira na Câmara dos Deputados.
Ele era membro de um grupo de Whatsapp chamado “Robótica Gerenciamento”, do qual também participavam os sócios da Megalic.