Alguns diretores sindicais – poucos, é verdade – reuniram-se com Lula na última segunda-feira, declaradamente para prestar-lhe solidariedade, nas dependências do Instituto Lula.
Como castigo, ouviram a costumeira – e farisaica – arenga do patrono da instituição, de que, se fosse desonesto, “não teria coragem de olhar nos olhos de seus companheiros”.
Trata-se de uma óbvia encenação de caráter – e somente existe um motivo para encenar a existência de caráter: não tê-lo ou tê-lo em escassa medida.
Sindicalistas presentes disseram que Lula merecia ser julgado, mas pelas urnas.
Lula foi condenado – e agora está sendo julgado pelo TRF-4 – por ter infringido o artigo 317 do Código Penal (corrupção passiva) e o artigo 1º da Lei nº 9.613/98 (lavagem, ou seja, “ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens”, etc.).
O tribunal que julga esses crimes não é a eleição, mas o tribunal mesmo – a vara criminal, após investigação da polícia e denúncia do Ministério Público. Lula não está sendo julgado por tal ou qual política de governo, mas por, na Presidência ou em função dela, ter transgredido as leis do país.
Pretender que ele seja o único ladrão do país a merecer impunidade, sob a alegação de que vai ser “julgado pelas urnas”, é estabelecer um privilégio até para o roubo.
Por que Lula seria um ladrão privilegiado em relação a outros?
Nenhum dos presentes lembrou (digamos assim) que o principal homem do esquema financeiro de Lula – Antonio Palocci –, preso e condenado a 12 anos de cadeia, confessou um esquema em que, só a Odebrecht, entrou com R$ 300 milhões para o PT e Lula, incluindo as obras no sítio de Atibaia.
Ou que o segundo elemento do esquema financeiro de Lula, João Vaccari Neto, está preso, condenado, até agora, a 41 anos de cadeia.
Ou que ficou estabelecido (ver matéria nesta e na página oito) que o triplex de Guarujá foi parte da propina da OAS para entrar nos contratos superfaturados contra a Petrobrás.
Não por acaso – não existem acasos na vida psíquica, já afirmara Freud – Lula, ao discursar, disse que “o que eu quero é que (…) com base nas provas que eles têm, decretem a minha inocência”.
Quer dizer que as provas existem?
Porém, Lula quer ser absolvido apesar delas – ou contra elas.
Ele, sem dúvida, não quis dizer isso. Mas foi o que disse, porque sabe que as provas existem.
Disse, também, que “esse julgamento não é contra mim e sim contra o nosso governo”.
O julgamento é por receber propina de empreiteiras para acoitar o roubo delas na Petrobrás e outras propriedades públicas. Ou seja, por roubar – e ajudar a roubar – o dinheiro do povo.
Os trabalhadores, certamente, não estão solidários com aqueles que os saqueiam.
C.L.