Com mais de 200 deputados investigados em inquéritos da Operação Lava Jato e outras operações, Temer conseguiu 251 votos para escapar de processo por formação de quadrilha e obstrução da Justiça. Menos do que na primeira denúncia. 233 deputados votaram pela abertura do processo. Logo pela manhã, Temer foi parar no hospital. Criminoso pego em flagrante só consegue ter uma ideia: fugir da Lei e da Justiça e evitar a cadeia. Na Câmara, os deputados que tiveram a campanha bancada por Cunha – que são a bancada de Temer – não pensam noutra coisa. Essa é a sua identidade com o chefe. Depois do resultado de quarta-feira, a grande preocupação de Temer é aprovar um projeto que conceda “foro privilegiado” aos ex-presidentes. Quer exumar o projeto que PT, PSDB e PMDB aprovaram após a eleição de Lula, derrubado em 2005 pelo STF, por ser uma afronta à Constituição.
A principal preocupação de Temer, depois de escapulir, na Câmara, da investigação e processo por formação de quadrilha e obstrução da Justiça, é exumar o projeto que o PT apoiou em 2002, concedendo “foro privilegiado” a ex-presidentes. Com isso, Temer e Lula escapariam da cadeia, pois “foro privilegiado” neste país equivale, quase sempre, à impunidade absoluta.
A preocupação do criminoso, quando pego em flagrante, é escapar da cadeia. O sujeito só pensa nisso – e em nada mais. A maioria dos criminosos, no entanto, não têm “foro privilegiado”, nem se aboletam no Planalto, na Câmara ou no Senado. Nem roubam tanto quanto os do foro privilegiado.
Com mais de 200 deputados sob investigação, Temer conseguiu 251 votos para impedir que ele próprio fosse investigado, apesar das provas contra ele serem públicas.
Toda essa corja, que votou a favor de Temer, morre de medo de ir para a cadeia.
Tanto assim que ignoraram, até agora, o projeto, de autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que acaba com o foro privilegiado para deputados e senadores, projeto que já foi aprovado pelo Senado no final de maio, e desde aí encontra-se empacado na Câmara.
TROPA
Mas, quem são esses elementos que ajudam um dos criminosos mais documentados da história do país – gravações, malas de dinheiro e o escambau – a permanecer na Presidência da República?
Quem são esses cínicos – ou imbecis – que falam em “recuperação econômica”, enquanto o país é dilacerado pela política do governo, para apoiar um ladrão aboletado no Planalto?
São, basicamente, a tropa de Cunha, aqueles deputados que tiveram suas campanhas bancadas pelo hoje detento Eduardo Cunha, com dinheiro público roubado sob a cobertura do PT.
Que existam alguns dos que votaram a favor de Temer que não são isso, apenas confirma que, basicamente, é essa a bancada de Temer: aquela que teve seus mandatos comprados por Cunha.
Cada vez mais, aliás, à medida que se aprofundam as investigações, a quadrilha de Temer e a quadrilha de Cunha parecem a mesma. E, para todos os efeitos práticos, deve ser a a mesma.
Essa malta, repetimos, assim como Temer, não tem outra preocupação, senão evitar a cadeia. Para isso, destruir o país parece a eles um preço insignificante. Toda a sua atividade está na tentativa de manter o “foro privilegiado” e acabar com a Operação Lava Jato para escapar da Lei e da Justiça.
Na última edição, noticiamos o que Temer fez para escafeder-se, subornando deputados: liberou quase um bilhão em dinheiro público, lançou uma portaria restabelecendo a escravidão, isentou em 60% as multas ambientais, etc., etc. & etc.
Porém, não basta existir um corrupto que suborna. Há que existir corruptos que aceitam o suborno, para que o circuito da corrupção se complete.
A questão, quanto a essa segunda classe de corruptos – os deputados subornados por Temer – é que seu próprio mandato é um fruto podre da corrupção.
O que possibilitou a ação de Cunha, passando dinheiro de propina para centenas de deputados, para formar a sua bancada ou a bancada de Temer, foi a sofreguidão de Lula, Dilma e do PT na campanha pela reeleição.
Essa campanha ficará na história (com “h” minúsculo) como a mais sem limite que já houve no país. Anteriormente, abordamos a mentira sem limites, a difamação dos adversários, o estelionato eleitoral – tão escandaloso que a reação do povo levou às condições para o impeachment.
Além disso, há também o mercado do meretrício eleitoral: Lula, Dilma e o PT fizeram qualquer aliança, em moeda corrente – em “dinheiro vivo” – com o único critério de reeleger a desastrada e desastrosa presidenta. Essa é a razão pela qual a maioria do Ministério de Temer é composto por dilmistas de 2014. Alguns – o ilustrado Kassab, por exemplo – nem saíram do Ministério.
Com a campanha de Dilma tornada um guarda-chuva eleitoral do que havia de mais corrupto no país, que Câmara e que Senado era possível esperar, senão esse duplo esgoto atual, do qual se salvam alguns cavaleiros sem medo e sem mácula?
Porém, a campanha do PT se prestou a esse papel de guarda-chuva da corrupção, apenas porque sua cúpula fora já corrompida – ou seja, se tornara também corrupta.
Relembremos alguma coisa, pois já se vão 15 anos. Foi, talvez, o marco inicial da pouca vergonha – ou da nenhuma vergonha – na história mais recente do país.
Após a eleição de Lula, o PT e o PSDB fizeram um acordo para aprovar um projeto que concedia “foro privilegiado” aos ex-presidentes da República.
Foi no final de 2002. O autor do projeto foi o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), o mesmo que, na quarta-feira, teve o seu parecer, absolvendo Temer das acusações que todos sabem que são verdadeiras, aprovado por outros 250 ladrões.
O único beneficiado com o projeto chamava-se Fernando Henrique Cardoso, contra o qual havia uma enxurrada de ações judiciais, que, com sua saída da Presidência – e perda, com isso, do “foro privilegiado” – iriam para a primeira instância da Justiça.
O projeto era, portanto, uma imoralidade. Aliás, ele desrespeitava inteiramente os três critérios do serviço público (o presidente da República é, ou deve ser, um servidor público): a legalidade (pois afrontava a Constituição), a moralidade e a impessoalidade (pois se destinava a beneficiar uma pessoa).
Mesmo assim, com o acordo entre PT, PSDB e PMDB, o projeto foi aprovado com tramitação relâmpago, uma verdadeira blitz-tramitação. E Fernando Henrique, mantendo o “foro privilegiado”, escapou de pagar por seus malfeitos na Presidência.
COVA
Hoje, 15 anos depois, com os processos – e condenação – de Lula, é possível dizer que não era somente Fernando Henrique quem seria beneficiado com essa lei da impunidade para ex-presidentes.
Mas não é possível antecipar o tempo, e julgar Lula pelo que ele, em 2002, ainda não fizera, ainda que seu apoio ao projeto Bonifácio de Andrada pudesse ser uma precaução contra complicações policiais-judiciárias após seu mandato.
Mas não temos como afirmá-lo com segurança.
O mais provável é que se tratasse de uma tentativa de “apaziguamento” do PSDB – em troca da impunidade de Fernando Henrique, Lula esperava a neutralização, talvez algum apoio dos tucanos, tal como pregava, nessa época, um petista próximo a ele, Luiz Gushiken.
Em 2005, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou que a extensão do “foro privilegiado” a ex-governantes (a lei incluía, além de ex-presidentes, ex-governadores e ex-prefeitos) era inconstitucional.
É essa indecência que Temer quer agora tirar da cova.
Para escapar da cadeia, em companhia de Lula.
CARLOS LOPES
muito bom!!!
Governo Fantoche rasga a constituição e engana a população