Governo de Minas alertou para os riscos à saúde humana. Lama chega a Pará de Minas
A água do Rio Paraopeba, atingido pelos rejeitos de minério do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho oferece riscos à saúde humana e animal. A conclusão vem dos resultados iniciais do monitoramento feito pelo governo de Minas Gerais e foi divulgada, por meio de nota, na madrugada desta quinta-feira.
A orientação é das secretarias de Estado de Saúde, Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável (Semad), e Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os órgãos não indicam o uso da água bruta do Paraopeba para qualquer finalidade até que a situação seja de normalidade.
De acordo com o alerta do governo, as pessoas e animais devem se manter a uma distância de 100 metros das margens. “O contato eventual não causa risco de morte. E para os bombeiros, que têm trabalhado em contato mais direto com o solo, a orientação da Saúde é para que utilizem todos os equipamentos de segurança”, informa o governo.
O estado já determinou que a Vale forneça água potável aos moradores das comunidades afetadas. Também foi suspensa a necessidade de outorga para a perfuração de poços artesianos. Uma equipe da Secretaria de Agropecuária já está percorrendo 20 municípios da região para orientar as pessoas a não utilizarem a água desses cursos.
A determinação é válida para áreas que vão da confluência do Rio Paraopeba com o Córrego Ferro-Carvão até Pará de Minas, no Centro-Oeste do estado. Neste último município, há outro que serve de alternativa para o abastecimento da cidade.
Quem apresentar algum problema de saúde deve procurar ajuda médica. “Qualquer pessoa que tenha tido contato com a água bruta do Rio Paraopeba – após a chegada da pluma de rejeitos – ou ingerido alimentos que também tiveram esse contato, e apresentar náuseas, vômitos, coceira, diarreia, tonteira, ou outros sintomas, deve procurar a unidade de saúde mais próxima e informar sobre esse contato”, orienta o governo de Minas Gerais.
O governo disponibilizou os dados de monitoramento da qualidade da água superficial neste link.
PARÁ DE MINAS
A onda de lama de rejeitos da barragem que tomou o curso das águas do Rio Paraopeba já chegou à cidade de Pará de Minas, na Região Centro-Oeste do estado. A constatação partiu de servidores do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), que sobrevoaram a área na quarta-feira (30).
Pará de Minas realiza captação de água do Rio Paraopeba e tem sua estabilidade ameaçada devido à chegada dos rejeitos em direção à cidade. Desde o rompimento da barragem os órgãos de defesa de Pará de Minas e outras cidades da região Centro-Oeste de Minas monitoram possíveis impactos na região.
Antes de entrar na calha do Rio Paraopeba, o material se espalhou por 290 hectares, área equivalente a 290 campos de futebol, atingindo também comunidades próximas e áreas de cultivo. De acordo com os dados apurados, nessa terça-feira, pela Secretaria de Meio, a lama de rejeitos minerais seguiu pelo Ribeirão Ferro-Carvão, até desaguar no Rio Paraopeba, depois de percorrer cerca de nove quilômetros.
RIO SÃO FRANCISCO
De acordo com os pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) o risco dos rejeitos da barragem de Brumadinho atingirem a bacia do Rio São Francisco é alto. Segundo Neison Freire, pesquisador com pós-doutorado em risco de desastres naturais, os metais pesados presentes na lama devem migrar do leito do Rio Paraopeba para o Rio São Francisco, mesmo com o sacrifício da Usina Hidrelétrica Retiro Baixo, sinalizado pelo governo federal.
Em um boletim divulgado na noite da última segunda-feira (28), o Serviço Geológico do Brasil afirma que não há possibilidade de a lama de rejeitos da Vale chegar à Usina de Três Marias, no Rio São Francisco. Para a Fundaj, no entanto, o problema não para por aí.
Neison explica que, com a desativação das turbinas de Retiro Baixo, a lama pode, sim, ficar restrita ao reservatório, mas, em algum momento, a barragem precisará verter.
“A lama que chegar em Retiro Baixo vai sedimentar, mas a barragem precisa sangrar para que ela não rompa. Daí, não temos como impedir que a água do Rio Paraopeba chegue no São Francisco, pela Usina de Três Marias. A contaminação afeta os três principais usos da água: o consumo humano, o abastecimento animal e a irrigação da agricultura”, explica o pesquisador.