A Fundação Maurício Grabois, através da Cátedra Claudio Campos, lançou na noite de quarta-feira (12), em evento online, o livro Pensamento Nacional-Desenvolvimentista, coletânea de 31 textos de diversos autores e pensadores que formularam e praticaram o Nacional-desenvolvimentismo no Brasil. A obra foi organizada pelo titular da Cátedra, o economista Nilson Araújo de Souza, e pela Coordenadora da Cátedra, a historiadora Rosanita Campos.
O lançamento contou com a participação do presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, e dos autores Rubens Sawaya, Alexandre de Freitas Barbosa, Carlos Lopes e Aldo Arantes.
Rosanita Campos destacou a importância do resgate dos textos e ensaios históricos sobre o pensamento nacional para o momento atual: “Essa é uma obra importante para o momento que estamos vivendo, pois precisamos aprofundar a nossa luta, o conhecimento da nossa história e a formulação de um programa nacional de desenvolvimento para o nosso país”.
Renato Rabelo, presidente da Fundação Maurício Grabois e autor do prefácio do livro, afirmou que a obra é uma referência para a construção de um projeto autônomo de desenvolvimento. “A Fundação tem muito o que comemorar. Trata-se do lançamento do primeiro livro da nossa recém criada Cátedra Claudio Campos”.
“Esse livro vem na hora certa, porque preenche uma lacuna bibliográfica nacional de pensadores e autores dedicados à defesa, à pesquisa e ao estudo do nacional-desenvolvimentismo depois de 1930. Este pode ser um livro referência, mormente porque o ideário nacional-desenvolvimentista é pouco focado e destrinchado pelas forças progressistas e até mesmo dos que se consideram defensores da soberania nacional e de um projeto autônomo de desenvolvimento para o nosso país”, destacou Rabelo.
O professor Rubens Sawaya, mestre de economia da PUC-SP, autor de “Celso Furtado: Criatividade e dependência na periferia”, registrou que Furtado, um dos principais pensadores nacionais sobre o desenvolvimentismo, refletiu sobre como seria o processo nacional se o desenvolvimento não tivesse sido interrompido pelo golpe de 64, traçando uma trajetória das relações de dependência ainda não superadas.
Assista ao ato de lançamento
“O golpe foi o aprofundamento das relações de dependência e o empoderamento do capital transnacional até a gente chegar na década de 90, quando houve a entrega completa com a ideologia prevalente da interdependência. Essa sacada do Furtado é genial: o que a gente tem que fazer para tomar o controle?”, argumentou.
Carlos Lopes, diretor de redação do Hora do Povo e autor do artigo “Roberto Simonsen: a indústria e o desenvolvimento do Brasil”, iniciou sua apresentação lamentando o recente falecimento do ex-deputado federal Haroldo Lima, vítima da Covid-19. “Ele foi um homem de grandes contribuições, que refletia o seu compromisso pessoal e de coração com o Brasil e o nosso povo”. O livro apresenta em um dos seus capítulos um informe de 2001 de Haroldo Lima sobre a desnacionalização.
Para reiterar a importância da formulação de desenvolvimentistas brasileiros para o momento atual, Carlos Lopes resgatou citação de Álvaro Vieira Pinto “Sem ideologia de desenvolvimento não existe desenvolvimento”.
“A realidade também se modifica independente das ideologias, mas para um desenvolvimento de acordo com os interesses nacionais, é fundamental que exista uma ideologia que conduza a isso”, disse Lopes. “Nós precisamos conhecer o passado justamente para conhecer o presente e construir alguma coisa no futuro. Essa é a importância do livro que hoje estamos lançando”, sustentou.
“Esse livro nos lança uma recuperação do passado e sugere uma necessidade urgente, reinterpretação urgente, que possa se costurar junto com um novo projeto de desenvolvimento nacional”, disse Alexandre de Freitas Barbosa, professor de Instituto de Estudos Brasileiros da USP e autor de “Rômulo de Almeida: o intelectual orgânico do Estado e o Brasil desenvolvimentista”, continuou.
“Por que interessa hoje um livro sobre o nacional-desenvolvimentismo? Dele tiramos lições para construir o nosso futuro”, enfatizou o professor Nilson Araújo de Souza, titular da Cátedra Claudio Campos e autor do capítulo “O Nacional-desenvolvimento e a industrialização (2007) e João Goulart e a atualidade das Reformas de Base (2018)” e organizador do livro.
“Os pensadores nacional-desenvolvimentistas sistematizaram o seguinte sobre industrialização: controle nacional sobre a economia nacional; o Estado como protagonista no processo de desenvolvimento; alavancagem do mercado inteiro através do poder de compra dos trabalhadores. Esses são pontos importantes que constroem o ideário nacional-desenvolvimentista. Foram principalmente o processo deflagrado por Getúlio Vargas que permitiu o desenvolvimento e crescimento até 1980”, destacou Nilson Araújo.
“O caminho que nós temos que retomar, incorporando os ensinamentos do passado e compreendendo o presente, passa pela reindustrialização. A reindustrialização em que o Estado cumpra o papel coordenador, um papel fundamental no investimento e tenha como elemento fundamental o mercado interno alavancado pelo salário”, afirmou o economista.
Ao encerrar o evento, o ex-deputado federal Aldo Arantes prestou homenagem a Haroldo Lima.
“Na oportunidade que a Fundação Maurício Grabois por meio da Cátedra Claudio Campos lança o livro Pensamento Nacional-desenvolvimentista, nada mais oportuno do que lembrar o papel de Haroldo Lima no papel da soberania nacional e de um projeto nacional de desenvolvimento para o país. Desde os tempos de Ação Popular, Haroldo se destacou na defesa da soberania nacional, tendo tido papel importante na elaboração do texto intitulado ‘Contribuição ao estudo científico da sociedade brasileira’”, lembrou Aldo Arantes.
Ele destacou a atuação de Haroldo na Assembleia Constituinte na defesa da soberania, sobretudo sobre a questão do petróleo. Como deputado e, posteriormente, como presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), continuou lutando pelo petróleo “como riqueza essencial para a afirmação do nosso projeto soberano de nação”.
PRISCILA CASALE
Livro Pensamento Nacional-Desenvolvimentista
Os 31 textos, entre discursos, artigos, aulas, entrevista, documentos e mensagens são assinados por 16 autores que tratam do nacional-desenvolvimentismo desde meses após a chegada de Vargas ao Rio de Janeiro (1931) até as eleições de 2018.
O jornalista Cezar Xavier resume no site da Fundação Maurício Grabois os temas e autores que fazem parte da coletânea que reproduzimos a seguir.
“O livro está dividido em quatro grandes partes que elencam seus textos por critérios temáticos. Sua primeira parte é composta por textos oriundos de autores que têm relações diretas ou indiretas com o Instituto Superior de Estudos Brasileiros — ISEB: Oficina do pensamento nacional-desenvolvimentista. Nela se encontram os textos O problema do negro na sociologia brasileira (1954) e Sociologia enlatada e sociologia dinâmica (1953), de Alberto Guerreiro Ramos.
Logo após, vêm os textos de Álvaro Vieira Pinto, A defesa da indústria nacional autêntica (1960) e Ideologia e desenvolvimento nacional (1956). Anízio Teixeira comparece com “A nova Lei de Diretrizes e Bases: um anacronismo educacional?” (1960).
Tem ainda o depoimento A derrota dos entreguistas na luta pela criação da Petrobrás, de Euzébio Rocha, concedido em 1987 para o CPDOC da FGV. Já a questão regional se apresenta com O caminho para o Nordeste e para o Brasil (1965), de Miguel Arraes.
De Nelson Werneck Sodré são apresentados dois textos. O primeiro é a aula inaugural do curso regular do ISEB no ano de 1959, Raízes históricas do nacionalismo brasileiro. O segundo texto de Sodré são as conclusões do livro Brasil: radiografia de um modelo (1974).
O texto Roberto Simonsen: a indústria e o desenvolvimento do Brasil, contém parecer de Simonsen apresentado ao Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial (CNPIC), em 16 de agosto de 1944, com comentário de Carlos Lopes.
A segunda parte do livro versa sobre Getúlio Vargas – conta com oito mensagens, pronunciamentos e discursos de Getúlio, mais a sua Carta-testamento. Os textos estão distribuídos em toda a Era Vargas como As riquezas naturais do Brasil e a industrialização (1931) e Industrialização e petróleo (1940). Traz ainda seu último discurso como parlamentar, antes de voltar à presidência, Escritos e pronunciamentos no Senado (1947). O painel desenvolvimentista de Getúlio continua com Enfrentamento da espoliação do Brasil pelas remessas de lucros (1951), No petróleo, o controle nacional é imprescindível (1951), Ser nacionalista é ser a favor da Nação (1952) e A emancipação Nacional (1954). Completa-se o apanhado do pensamento getulista, já sob ataque, em pleno ano de 1954, com seu discurso de 1º de maio e a antológica Carta-Testamento (1954).
A terceira parte do livro segue com João Goulart e as Reformas de Base. O conjunto de três textos se divide em dois discursos e uma mensagem. O discurso da Criação da Eletrobrás (1962) e o Discurso na Central do Brasil, de 13 de março de 1964.
A quarta parte do livro é intitulada Recuperando o nacional-desenvolvimentismo para a Revolução Brasileira. Abre com dois textos de Cláudio Campos: o informe Unir a Nação e romper com a dependência (1982) e o Programa de Emancipação do Brasil (1995).
Traz, ainda, o informe especial sobre a desnacionalização (2001), de Haroldo Lima, para o 10º Congresso do PCdoB. No Novo Projeto Nacional, caminho brasileiro para o socialismo (Programa do Partido Comunista do Brasil, aprovado em seu 12º Congresso de 2009), cria-se um lema: O socialismo é o rumo, a construção da nação o caminho.
Dentre as principais personalidades do pensamento nacional-desenvolvimentista, a coletânea destaca Celso Furtado: Criatividade e dependência na periferia, de Rubens R. Sawaya; e O pensamento de Rômulo de Almeida: o intelectual orgânico do Estado e o Brasil desenvolvimentista, de Alexandre de Freitas Barbosa, professor do Instituto de Estudos Brasileiros da USP.
Nilson Araújo escreve o capítulo “O Nacional-desenvolvimentismo e a industrialização (2007)” e “João Goulart e a atualidade das Reformas de Base (2018)”. Sérgio Rubens de Araújo Torres é o autor de “Construir uma alternativa comprometida com o interesse nacional (2015).”
Pensamento Nacional-Desenvolvimentista, Nilson Araújo e Rosanita Campos (Orgs.)
Fundação Maurício Grabois, Cátedra Cláudio Campos/ Editora Anita Garibaldi
616 páginas. 2021.
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