27 páginas de análise sobre e-mails
Empreiteira também deu a Lula apê ao lado do seu em São Bernardo
Lula prossegue, ainda, a farsa de que é candidato. Um petista, incomodado, declarou à imprensa que “Lula está usando Haddad e não quer substituição em 17 de setembro nem em momento algum”, o que nos parece óbvio, pois seu jogo é o acordão com o PSDB, isto é, com Alckmin, para acabar com a Lava Jato e cobrir com a impunidade os corruptos, a começar por si próprio.
Enquanto isso, a Polícia Federal (PF) enviou ao juiz Sérgio Moro um laudo sobre o conteúdo do computador de Marcelo Odebrecht.
São dezenas de mensagens, entre Odebrecht e seus subordinados, sobre a compra de um imóvel para o Instituto Lula, na rua Dr. Haberbeck Brandão, nº 178, Vila Clementino, São Paulo.
Sucintamente: a Odebrecht passou R$ 12.422.000,00 (doze milhões e 422 mil reais) da conta de propinas que tinha com Lula para comprar um imóvel para o Instituto Lula. Uma parte desse dinheiro – R$ 504 mil – foi usada por Lula para comprar o apartamento ao lado daquele em que mora – e, assim, duplicar o tamanho de sua residência. Esse apartamento foi colocado em nome de um primo do amigo de Lula, José Carlos Bumlai (v. “O triplex não é meu” ou as provas que Lula garante que não existem).
O caráter encoberto, escondido, da operação é, por si mesmo, suspeito: para adquirir o imóvel para o Instituto Lula, a Odebrecht usou uma empresa menor, a DAG Construtora, pertencente a um amigo de infância de Marcelo Odebrecht, Demerval Gusmão Filho.
Por que seria necessário disfarçar, ocultar, tanto o verdadeiro proprietário do apartamento em São Bernardo quanto a origem do dinheiro da compra de um imóvel para o Instituto Lula?
Porque se tratava de propina. É isso o que mostra o laudo da PF, do perito Werner Priess, elaborado a pedido do delegado Felipe Hayashi.
No dia 29 de junho de 2010, Marcelo Odebrecht enviou a seguinte mensagem para Paul Elie Altit, presidente da Odebrecht Realizações Imobiliárias:
“Vou falar com PMelo amanhã cedo daquele tema instituto”.
Paulo Melo era executivo, também, da Odebrecht Realizações Imobiliárias.
No dia 2 de julho, Marcelo Odebrecht enviou a Paulo Melo um e-mail:
“2ª devo ter a resposta sobre o prédio”.
Resposta de quem? Uma mensagem da secretária de Odebrecht, Darci Luz, esclarece:
“Agendamos a reunião com o Sr. Bumlai, amanhã às 09:30 no Sheraton WTC, na Av. das Nações Unidas, 12559 – Brooklyn Novo, Sala Miró, que fica no Mezzanino, ao lado da sala onde o Sr. terá o café da manhã.”
Bumlai não representava, evidentemente, o PT. Bumlai representava Lula.
Em seguida, apareceu outro representante de Lula – seu compadre e advogado, Roberto Teixeira.
No dia 13 de julho, Odebrecht enviou outro e-mail a Paulo Melo, com o assunto “Prédio institucional” e uma pergunta: “Alguma evolução?”. A resposta foi quase imediata:
“… tínhamos uma reunião com RT [Roberto Teixeira] e JCB [José Carlos Bumlai] ontem para tratar do assunto, mas RT teve um problema de saúde e pediu adiamento. Estou aguardando contato deles. Abc”
Odebrecht queria repassar a propina para Lula, sem que ficasse exposto. Daí a mensagem de 19 de julho: “O pecuarista/advogado [Bumlai/Teixeira] evoluíram em algo?”. A resposta de Paulo Melo, no mesmo dia, foi: “Ele está fora do Brasil até amanhã. O advogado teve apendicite e ficou fora do ar a semana toda também.”
No dia 27 do mesmo mês de 2010, Paulo Melo comunicou a seu chefe:
“Marcelo, já conversei com o responsável pela empresa que irá nos apoiar e está tudo ok. Estamos aguardando o advogado disponibilizar a documentação do imóvel (…). Já avisei a JCB [José Carlos Bumlai] que precisamos receber a mensagem nos autorizando a ir em frente conforme orientado por você. Abraços. PM”
Em 13 de agosto, Altit, o presidente da Odebrecht Realizações Imobiliárias, mostrou preocupação:
“Marcelo, volto a insistir o que tenho dito ao Grillo e ao Paulo. A relação do cliente com o proprietário estruturado do ativo precisa ser a prova de fogo. Não pode deixar rastro óbvio.”
Rastro mais óbvio não poderia existir do que esse e-mail.
O “proprietário estruturado do ativo” (isto é, o sujeito que recebia a propina sob a forma do imóvel) era Lula. Era a relação com este que era “a prova de fogo”, que não podia “deixar rastro óbvio“.
Na mensagem seguinte, aparece Antonio Palocci – ou, melhor, seu inseparável escudeiro, Branislav Kontic. A mensagem é de Marcelo Odebrecht:
“Brani, favor lembrar ao Chefe [Palocci] o encontro que ele ficou de marcar com o advogado sobre o prédio, pois recentemente fomos cobrados.”
Por quem Marcelo Odebrecht foi cobrado? Só havia uma pessoa com esse poder: seu pai, Emílio Odebrecht, com quem Lula se relacionava diretamente (daí ser chamado, no departamento de propinas da Odebrecht, de “o amigo”).
Em 8 de setembro, Paulo Melo pediu que o “Setor de Operações Estruturadas” (o departamento de propina, chefiado por Hilberto Silva) da Odebrecht programasse os primeiros repasses. A íntegra dessa mensagem é a seguinte:
“Prezados Bira / Hilberto
“Favor programar os pagamentos conforme cronograma abaixo:
“Data: 23/09/2010, valor: R$ 1.057.920
“Data: 30/09/2010, valor: R$ 1.057.920
“Data: 07/10/2010, valor: R$ 1.057.920
“Projeto Institucional SP.
“Responsável: Paulo Melo
“Marcelo, por favor replicar o e-mail autorizando.”
No dia seguinte, Paulo Melo perguntou a Marcelo Odebrecht sobre como seriam contabilizados esses repasses. Odebrecht respondeu que Hilberto Silva (o chefe do departamento de propina) iria debitar em “3 fontes distintas”.
O executivo, no entanto, não ficou tranquilo com a operação. Em outro e-mail, Paulo Melo diz a Marcelo Odebrecht:
“Marcelo, mesmo estando ciente da orientação que recebemos com relação ao Prédio do Instituto, no tocante aos eventuais riscos da aquisição, pedi ao nosso apoio jurídico que fizesse uma rápida verificação da minuta de escritura por desencargo de consciência. As conclusões são preocupantes (vide mail abaixo), e imagino que não tenha sido possível assinar a escritura hoje pela falta de algumas das certidões citadas. Estou encaminhando apenas para seu conhecimento. Continuo aguardando orientações dos interessados. Abraços”.
Marcelo Odebrecht respondeu: “Já encaminhei ao Italiano [Palocci]. Caso não escute nada vamos em frente”.
CARLOS LOPES
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