Membros das operações Lava Jato e Greenfield lançaram nota manifestando apoio aos procuradores que pediram demissão por discordâncias em relação à postura da Procuradoria-Geral da República (PGR), sob a condução do procurador-geral Augusto Aras, e da ação da procuradora Lindora Araújo, sua aliada.
Hebert Reis Mesquita, Luana Vargas de Macedo e Victor Riccely “são procuradores da República competentes, dedicados, experientes e amplamente comprometidos com a integridade, a causa pública e o combate à corrupção e enfrentamento da macrocriminalidade”, afirmam o documento.
O ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, declarou em nota ter estranhado a ação da procuradora.
“Aparentemente, pretende-se investigar a Operação Lava Jato em Curitiba. Não há nada para esconder nas investigações, embora essa intenção cause estranheza. Registro minha solidariedade aos procuradores competentes que preferiram deixar seus postos em Brasília”, disse Moro, no sábado (27).
Na sexta-feira (26), os três procuradores que integravam o núcleo da Lava Jato na PGR anunciaram sua saída por discordar da atuação da coordenadora da Operação no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ), Lindora Araújo, aliada de Aras.
Na quarta-feira (24), a subprocuradora-geral Lindora esteve em Curitiba para buscar informações sobre os arquivos sigilosos que originaram a Lava Jato, em 2014. O grupo alega que a busca gerou uma quebra de confiança.
Ela também enviou ofícios pedindo acesso a informações das forças-tarefas de São Paulo e Rio de Janeiro.
Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Paraná entraram com representação na Corregedoria do Ministério Público Federal e pediram a adoção de providências após Lindora Araújo ter solicitado informações, inclusive sigilosas, como relatórios financeiros, dados de autoridades e documentos de buscas e apreensões.
Segundo integrantes da força-tarefa no estado, Lindora pediu também acesso ao sistema de gravação de chamadas telefônicas recebidas pelos procuradores, adotado em 2015, para prevenir ameaças.
Ainda de acordo com os procuradores, a coordenadora da Lava Jato na PGR não formalizou os pedidos de acesso, nem disse se existe procedimento instaurado que justificasse o compartilhamento de dados.
Segundo os procuradores, a ação de Lindora Araújo foi considerada fora do padrão e pareceu indicar que havia uma investigação sobre a força-tarefa.
A subprocuradora-geral respondeu que “não houve inspeção, mas uma visita de trabalho que visava à obtenção de informações globais sobre o atual estágio das investigações e o acervo da força-tarefa, para solucionar eventuais passivos”.
Em junho, quatro dos sete procuradores do grupo de trabalho em Brasília também anunciaram a saída.
Comentários dão conta que os procuradores que saíram já vinham se queixando que o grupo na PGR estava perdendo espaço.
O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Fábio George Cruz da Nóbrega, afirmou no sábado (27) que o esvaziamento do grupo da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República (PGR) pode prejudicar o andamento das investigações.
“Nós vemos com muita preocupação a constante saída de membros do grupo da Lava Jato na Procuradoria Geral da República porque isso pode de fato atrapalhar as investigações e ações em curso”, disse o presidente da ANPR.
Fábio Nóbrega também disse ser preciso defender “com veemência” a independência funcional de cada membro do Ministério Público brasileiro.
Para Carlos Fernando dos Santos Lima, ex-procurador da Lava Jato no Paraná, a perda de independência ameaça as investigações.
“O que acontece no Ministério Público Federal é a destruição de todo um trabalho que vem desde a constituição de 88. O PGR atenta contra a independência das investigações e intimida as equipes de investigação”, disse Santos Lima.
A PGR argumentou que a subprocuradora-geral fez a visita aos procuradores no Paraná na condição de coordenadora da Lava Jato e que, desde o início das investigações, há um intercâmbio de informações entre a Procuradoria e as forças-tarefas nos estados.
Segundo a PGR, a visita foi previamente agendada, há cerca de um mês, e foi uma visita de trabalho que visava a obtenção de informações globais sobre o atual estágio das investigações.