A herança que Mauricio Macri deixou para o governo de Alberto Fernández, que assume em 10 de dezembro, inclui o aumento acelerado da pobreza, graves problemas econômicos, produtivos e sociais, que o novo governo terá que enfrentar com urgência.
“O macrismo foi o governo que mais rápido e mais intensamente endividou o país e que, para coroar e consolidar o desastre, trouxe de volta o FMI, com quem também gerou um endividamento extraordinário”, afirmou Claudio Scaletta, em ar- tigo no jornal Página 12.
A dívida pública passou de pouco mais de 50% do Produto Interno Bruto, PIB, em 2015, quando Mauricio Macri assumiu, para 90% em agosto último. Para este final de ano, se estima que chegará perto de 100%.
A dívida mais pesada é a que o país tem em dólares, ou seja, a dívida externa, que nos anos do governo Macri passou de 36 a 72% do Produto Interno, quer dizer, exatamente o dobro. (O PIB de referência é de 430 bilhões de dólares, esclarece o Página 12). Pelas dívidas assumidas por Macri, nos próximos quatro anos a administração de Alberto Fernández deverá pagar quase 170 bilhões de dólares, o que corresponde a 40% do PIB atual.
Considerando a dívida pública total (em moeda nacional, pesos, e em dólares) os vencimentos de 2020 somam o equivalente a 57,7 bilhões de dólares, os de 2021, 28,4 bilhões, os de 2022, 43,7 e os de 2023, 38,4.
Desse total, se for retirada a dívida em pesos, os vencimentos ficam em 30,4 bilhões de dólares em 2020; 20,4 em 2021; 40,7 em 2022 e 35,4 em 2023. É bom observar que quando se tira a dívida em pesos, em 2022 e 2023 quase não há diferença em matéria de obrigações em divisas. Isso, pelo plano programado por Macri para melhorar sua condição eleitoral, se deve a duas razões, os vencimentos da dívida em pesos se concentram nos próximos dois anos e os vencimentos com o FMI a partir do terceiro ano.
“Se destrincharmos a dívida vemos que ao Fundo se deve, sempre arredondando cifras, 1,2 bilhões em 2020, 4,90 em 2021, mas 21,1 e 22 em 2022 e 2023, respectivamente. Fica evidente que os vencimentos com o FMI se estruturaram com o propósito de ser renegociados, ou seja, para que não reste outra alternativa que passar do crédito ponte ou stand by, que sempre vem vinculado a arrocho fiscal e àquelas famosas “reformas estruturais” (fiscal, trabalhista e previdenciária). Pela cartilha do arrocho comandado de fora para dentro do FMI, claro.
“O povo quer trabalhar, não quer políticas como as que o governo implementava”, afirmou a vice-presidente eleita Cristina Kirchner. “As pessoas sabem que com um trabalho com registro em carteira têm a possibilidade de ter obra social, de melhores condições de vida.
Por isso é fundamental voltar a gerar trabalho na Argentina”, assinalou. “Para superar este momento temos todos que tentar ser um pouco diferentes e fazer o melhor. Estou falando no que diz respeito aos acordos, não ao esforço monetário. Esse esforço o terão que fazer os que mais têm, porque não se pode seguir pedindo esforço aos que menos têm”, disse a ex-presidente. “Corresponde politicamente que os argentinos saibam para que os endividaram e quem foram os que levaram esse dinheiro”, disse ainda Cristina.