“Nossa legislação referente a armas vai mudar”, declarou a premiê da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, neste sábado, um dia após o massacre perpetrado na cidade de Christchurch onde um ultradireitista e supremacista branco assassinou 50 muçulmanos e deixou 48 feridos.
Na mesquita Al Noor, o australiano Brenton Tarrant, matou a sangue frio, filmando o massacre que realizava e usando armas que adquiriu legalmente, incluindo um fuzil AR15.
Ele foi pego em flagrante e já fez seu primeiro depoimento no sábado pela manhã.
Após a chacina, na Mesquita Central, Tarrant se deslocou até a outra, nas proximidades, a de Linwood, e matou mais sete fiéis.
Ardern, logo depois do massacre, expressou sua indignação afirmando que todos os neozelandeses foram atacados pela chacina e que esta estupidez não tem espaço em seu país: “Fomos atacados por praticarmos a tolerância, rejeitarmos o racismo, defendermos a convivência, a bondade e a compaixão”.
No sábado, a primeira-ministra voltou a falar, desta vez para condenar a excessiva liberalidade com relação à aquisição e posse de armas.
“Já houve tentativas de mudar nossas leis em 2005, 2012 e após um inquérito, em 2017. Agora chegou a hora de mudar”, declarou.
“Hoje”, acrescentou Ardern, “enquanto o país guarda luto, estamos buscando repostas. Nosso dever é manter todos a salvo. Falhamos aqui e questões precisam e serão levantadas”.
“O simples fato de que todos ficaram sabendo que este indivíduo adquiriu armas deste calibre faz com que as pessoas busquem mudanças”, prosseguiu.
Questionada se uma das opções legais que estaria buscando seria banir as armas semiautomáticas, Ardern respondeu: “Certamente esta é uma das questões a serem examinadas”.
O presidente da Associação de Policiais, Chris Cahill, enfatizou: “Concordo absolutamente com ela. Muitos neozelandeses se surpreenderam ao ficarem sabendo que uma pessoa possa legalmente reunir um tal arsenal, como aconteceu na tragédia de Christchurch”.
“É doentio que tenha sido preciso um horrendo evento para que despertássemos para a nossa vulnerabilidade”, prosseguiu Cahill, acrescentando que, no debate que levará à nova legislação, devem estar presentes as pessoas que pretendem se sentir seguras no país e que “não há lugar neste debate para o lobby radical das armas que esteve presente nas tentativas anteriores de fazer nosso país mais seguro”.
“Temos visto o que acontece nos Estados Unidos, quando defensores radicais de disseminação das armas estão envolvidos. Isso não é nada bom para a Nova Zelândia”, disse ainda o policial.
Federação Árabe Palestina do Brasil repudia massacre e pede paz
Logo após o massacre, mensagens de solidariedade partiram de todos os cantos do mundo. Aqui, a Federação Árabe Palestina do Brasil lançou uma nota repudiando o morticínio, as concepções supremacistas e anti-imigrantes (o assassino tratou os imigrantes como “invasores”), insistindo na luta pelos direitos do povo palestino assim como na convivência e paz entre “judeus, muçulmanos e cristãos”.
Na nota, a Fepal, destaca que Brenton Tarrant “já havia publicado um manifesto de 74 páginas numa rede social, no qual elenca líderes racistas norte-americanos como seus heróis. No mesmo material, dizia também que suas motivações incluíam ‘criar uma atmosfera de medo’ e incitar a violência contra muçulmanos”.
“É muito triste para nós”, prossegue a nota, “filhos, filhas e demais descendentes de refugiados árabes, muçulmanos e cristãos, ter de justificar, a cada nova agressão gratuita, que não somos radicais ou terroristas. Que se nós ou nossos antepassados emigraram foi por necessidade, por perseguição étnica, expropriação de terras, crimes contra a humanidade e violação dos direitos humanos.
“Aqueles que morreram em Christchurch eram parte dessa diáspora, cidadãos comuns, dispersos pelo mundo em busca de melhores condições de vida.
“Crimes bárbaros como esse são motivados pela cultura do ódio, da intolerância e da violência que vêm ganhando espaço nos últimos anos, inclusive no Brasil.
“Guardadas as especificidades, são os mesmos gatilhos da tragédia em Suzano, no interior paulista. Os assassinos são paladinos farsantes, covardes, que não suportam diferenças e alianças afetivas.
“São também resultado de uma simplificação grosseira da história e das relações humanas, em que o diálogo e a conciliação valem menos do que ofensas, ataques e mentiras.
“Pode parecer utópico falar em paz em um momento como esse. Mas falemos. Assim como não podemos normatizar massacres como os de Suzano e o da Nova Zelândia, não podemos nos calar frente às injustiças contra o povo palestino.
“De acordo com a ONU, em 2018, 180 pessoas foram mortas pelo exército israelense durante a ‘Grande Marcha do Retorno’, a imensa maioria civis. Foram registrados ainda outros 265 casos em que israelenses mataram, feriram ou danificaram propriedades palestinas para expandirem suas ocupações”.
A Fepal encerra sua mensagem destacando: “Nossa luta por justiça, liberdade e reconhecimento tem um único objetivo: trazer a paz para a Palestina. Acabar com uma política terrorista de Estado, que todos os dias, há décadas, viola os direitos humanos e civis mais básicos da população.
“Não queremos guerra, queremos paz. Queremos união e respeito entre todos os povos e nações. Judeus, muçulmanos, cristãos e evangélicos, adeptos de todas as religiões. Na Nova Zelândia, no Brasil, na Palestina e em Israel. Paz”.
Na Nova Zelândia, em sinal de luto, as mesquitas suspenderam o serviço religioso neste fim de semana, as sinagogas também suspenderam suas atividades em um gesto de solidariedade aos muçulmanos enlutados.