Pressionados pela base e procurando conter a corrosão eleitoral que lhes têm custado o sono, Lula e o seu PT decidiram marcar posição contra o leilão de uma área do pré-sal, anunciado com estardalhaço pelo ministro Paulo Guedes para o dia 6 de novembro.
A área, que havia sido transferida à Petrobrás, em 2010, através da “cessão onerosa”, inclui os campos de Atapu, Sépia, Búzios e Itapu, com reservas de petróleo estimadas de 6 a 15 bilhões de barris.
As empresas vencedoras do leilão deverão pagar, além da parcela do óleo-lucro, obtido ao longo dos anos da exploração, um “bônus de outorga” de R$ 106,5 bilhões.
O governo tem concentrado no bônus a sua propaganda sobre as vantagens da privatização de um valioso ativo que pertence a todos os brasileiros.
Diretor de Gás e Energia da Petrobrás, de 2003 a 2007, o professor Ildo Sauer, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, considera esse expediente o fim da picada: “Eles comemoram esse valor, mas quem se apoderar da área vai ganhar de R$ 750 bilhões a R$ 2,4 trilhões ao longo de 20 ou 30 anos. Isso é hipotecar o futuro do país a troco de migalhas”, advertiu.
As pesquisas de opinião realizadas nos últimos 30 anos têm reiterado que a população brasileira é contrária à privatização dos ativos públicos.
A experiência acumulada em mais de 500 aparições do famigerado martelinho indica subavaliação, muitas vezes criminosa, desses ativos, dissipação dos recursos obtidos no leilão com o pagamento de juros das dívidas do governo, aumento do preço dos bens e serviços privatizados, demissões e compressão salarial. Dinheiro para a Saúde e a Educação, que em geral é o pretexto invocado para privatizar, ninguém sabe, ninguém viu…
É natural que o PT não queira acumular em sua folha corrida mais esta causa impopular. O difícil é acreditar que depois de ter feito igual, leiloando em outubro de 2013 o campo de Libra, com reservas de 8 a 12 bilhões de barris, haja um pingo de sinceridade em suas recentes declarações de amor à soberania nacional.
Mas podemos fazer de conta que acreditamos, porque o que está em questão agora não são as privatizações de Lula e Dilma, nem as de Temer, são as de Bolsonaro.
SÉRGIO RUBENS