
Severo, jornalista da Hora do Povo, lança em setembro livro onde denuncia o terrorismo de Estado praticado pelos sionistas nos dois países, com torturas, estupros, e centenas de milhares de assassinatos e desaparecimentos. Obra traz análises e artigos atuais do autor sobre o genocídio em Gaza, bem como entrevistas e reportagens realizadas por Severo na Guatemala (2013 e 2024) e na Palestina (2000 e 2015), quando se encontrou durante a Segunda Intifada com o líder Yasser Arafat
O jornalista Leonardo Wexell Severo, redator-especial de Internacional do jornal Hora do Povo, lança no próximo dia 12 de setembro (sexta-feira), a partir das 19h30, na Livraria Drummond, avenida Paulista, 2073, no Conjunto Nacional, o livro-reportagem “Guatemala e Palestina sob o tacão genocida de Israel – Uma história silenciada pela mídia hegemônica” (Editora Papiro, 126 páginas).
Com entrevistas e relatos de experiências colhidas na Palestina (2000 e 2015) e na Guatemala (2013 e 2024), além de diálogos com autoridades, ativistas pelos direitos humanos, militantes dos movimentos sociais e intelectuais de ambos os países ao longo de mais de duas décadas, a obra traz uma síntese de leituras sobre o tema.
“Apesar de estarem a mais de 12 mil quilômetros de distância, Guatemala e Palestina têm muita história de resistência em comum e um inimigo que se baseia na prática do terrorismo de Estado, na segregação, na invasão, na tortura e no assassinato. Creio que consegui expor de maneira sintética a gravidade desta trajetória e, particularmente, como isso está se materializando atualmente na carnificina em Gaza”, declarou Severo.
A SERVIÇO DO IMPERIALSIMO NORTE-AMERICANO NA AMÉRICA LATINA
“A conferir o dano para nossos povos, na Guatemala as forças israelenses estiveram presentes a serviço dos malignos interesses do imperialismo norte-americano e, agora, Israel dispõe de vasto armamento norte-americano para chacinar o povo palestino”, compara Severo.
Infelizmente, assinalou o autor, o contexto em que está ocorrendo a publicação deste livro fala por si. “Vivemos um momento em que o terrorismo de Estado praticado por Israel se converte em genocídio, em que o banho de sangue da população palestina salta aos olhos. Desde 7 de outubro de 2023, de uma população de cerca de 2,2 milhões de pessoas, temos mais de 63 mil mortos, 12 mil desaparecidos sob os escombros e mais de 130 mil feridos, muitos deles gravemente. Isso sem falar nos que estão sendo massacrados diariamente nos territórios ocupados da Cisjordânia”, declarou.
“Como foi denunciado pelas Nações Unidas e pelos Médicos Sem Fronteiras, mais de dois mil dos amputados são crianças, grande parte meninos e meninas que perderam os dois braços ou as duas pernas, que foram submetidos à cirurgia sem hospital, sem remédios e nem anestesia. Uma barbárie que faria Hitler morrer de inveja”, condenou.
Conforme Severo, “o fato é que Gaza, bloqueada, se converteu no maior presídio a céu aberto do mundo, uma imensa Auschwitz, só que desta vez com imagens sendo divulgadas, chocantes e deprimentes”. “Apesar de todo esforço dos grandes meios de comunicação ocidentais para manipular, mentir ou silenciar sobre a gravidade dos crimes praticados pelos nazi-israelenses, a realidade está aí para quem quiser ver. E reagir”, frisou.
O autor assinala que para a sua política de “cerco e aniquilamento”, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, conta com o apoio do presidente Donald Trump e toda estrutura bélica, econômica, política e midiática do governo dos Estados Unidos, “que enfrenta uma oposição cada vez maior não só do planeta, como do seu próprio povo, que tem ido às ruas protestar contra a matança”.
“Meu livro está sendo lançado em um momento especial. Tétrico porque o imperialismo e o sionismo demonstram ser duas faces da mesma moeda, e que se encontram completamente esgotados, mas um momento promissor, pois fica claro que o novo está surgindo com um vigor que nada será capaz de deter”, acredita.
Diante da crescente oposição da opinião pública dos EUA aos bárbaros crimes praticados pelas ditaduras militares guatemaltecas, apontou Severo, “o sionismo chegou para ficar na Guatemala nos anos 70 com cerca de 300 assessores. Desde militares a técnicos de informática de ponta, gente extremamente preconceituosa, racista e agressiva, disposta a impor sua verdade a qualquer custo, que ajudou a treinar facínoras, a prender e a barbarizar opositores”.
MANUAIS DE TORTURA ESCRITOS EM HEBRAICO
“Um sobrevivente relatou que esteve no seu interrogatório um israelense, e que o deslocaram a um centro de detenção localizado numa sinagoga. Foi encontrado um arquivo paralelo de inteligência em que aparecem documentos e manuais israelenses, escritos em hebraico. As descrições são assombrosas. E por aí vai…”
Como já havia publicado anteriormente no seu livro A CIA contra a Guatemala – Movimentos sociais, mídia e desinformação (Editora Papiro, 2015, 158 páginas), “foram mais de 80 milhões de páginas reveladas, poucas delas liberadas na íntegra pela agência estadunidense, todas cheia de rabiscos, que dão uma pequena amostra do ocorrido em 1954, desde a derrubada do governo nacionalista de Jacobo Árbenz, passando pelos anos de chumbo, entre 1960 e 1996, até a assinatura dos Acordos de Paz com a guerrilha”.
Uma das denúncias mais contundentes recebidas pelas organizações de direitos humanos, revela, foi a informação de que próximo à fábrica de munições de Cobán, localizada no centro de detenção e execução clandestino em Alta Vera Paz, onde funcionava uma base militar, “havia possivelmente duas pessoas enterradas”. “A partir daí, entre 2012 e 2015, feitas as exumações pela Fundação de Antropologia Forense de Guatemala (FAFG), foram encontradas 565 ossaturas em quatro fossas. Pessoas que após terem sido torturadas, foram enterradas ali entre 1981 e 1988. Pelo menos 90 delas eram crianças e adolescentes. Este é o primeiro centro de extermínio localizado no país centro-americano, para onde as crianças iam transportadas por helicóptero. As provas estão ali, incontestáveis”.
Na avaliação de Severo, entre as suas experiências pessoais relatas a que considera de maior peso foi o encontro com Yasser Arafat, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), “por todo o significado que teve para minha militância até então, para o meu presente e futuro”. “Mas faltam palavras para descrever o que senti sobre tantas crianças palestinas com os olhos vazados pelos soldados israelenses. Meninos atingidos por balas de aço revestidas com borracha para ‘não matar, apenas cegar’, como comemoravam os sionistas. Talvez isso seja o mais chocante. Vale lembrar que era uma resposta dos israelenses a crianças que jogavam pedras nos seus tanques. Não admitiam sequer o ato de resistência, queriam uma completa submissão, uma capitulação que nunca terão do povo palestino”.
CASTA VENDE-PÁTRIA GUATEMALTECA TRATA INDÍGENAS COMO ANIMAIS
No caso guatemalteco, assinala, “chamou a atenção a forma bizarra como trataram os indígenas, vistos pela casta oligárquica e vende-pátria como animais”. “São inúmeras as denúncias e os relatos contundentes de bebês maias que foram jogados vivos na brasa, se contorcendo de dor, para serem comidos pelo exército. E o que dizer de meninas e mocinhas estupradas até a morte por 20 ou 30 soldados? De como os ‘Kaibiles’, formados como força de elite a partir de 1974, comiam e bebiam carne humana. Vale lembrar que os casos se multiplicaram no país centro-americano assessorado nos mínimos detalhes pelos EUA e Israel, onde foram assassinadas 250 mil pessoas e desaparecidas 45 mil – cinco mil delas crianças”.
Com o apoio de entidades sindicais, estudantis, comunitárias e de mulheres, de partidos políticos, movimentos árabes e da imprensa progressista, Severo vê o lançamento como “uma ótima oportunidade para reafirmar o nosso compromisso com a Palestina, reencontrar amigos, companheiros e ativistas que levantam sua voz contra toda a barbárie que está acontecendo”. “Tenho muita confiança na nossa capacidade coletiva de afirmar que o destino da humanidade não é sermos guiados pelos interesses mesquinhos do cartel bélico, não é continuar acelerando na contramão em benefício de alguns poucos banqueiros e transnacionais. Confio na potencialidade do amor e na força da solidariedade dos povos. Por isso espero ver todo mundo lá”, concluiu.