Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-policial militar Ronnie Lessa confessou que matou a vereadora Marielle Franco, em março de 2018, por ganância.
Segundo ele, em seu depoimento, os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão teriam lhe prometido R$ 25 milhões para que executasse Marielle.
O valor seria referente a dois terrenos na região do Tanque, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
A parlamentar era considerada um empecilho para que a milícia se apossasse da área, a ser gerenciada por Lessa.
“Estava louco, encantado com os R$ 25 milhões que a gente ia ganhar. Era o preço pela morte da vereadora que seria o valor dos terrenos. Nem precisava, realmente. Estava numa fase muito tranquila da minha vida, já pronta, e caí nessa asneira. Foi ganância mesmo. Uma ilusão danada”, confessou, na 12ª audiência do caso, que está sendo julgado no Supremo.
O depoimento levou mais de cinco horas e Lessa pediu para que os Brazão não estivessem presentes à sessão. Ele considera que não é mais perigoso do que os irmãos, apontados como mandantes do assassinato de Marielle. “O simples fato de ter praticado o crime não me faz ser mais perigoso do que eles”, disse.
De acordo com as investigações, Lessa ficaria com R$ 25 milhões e Edmílson Oliveira da Silva, o Macalé — morto em 2021 e que teria intermediado a contratação de Lessa para cometer o homicídio —, levaria outros R$ 25 milhões.
Os irmãos Brazão ficariam com uma área anexa e, segundo o ex-policial, havia, inclusive, um esquema de instalação de infraestrutura na região, que seria explorada pela milícia.
Lessa também falou de supostos esquemas de corrupção dentro das polícias Civil e Militar do Rio e que a maioria dos delegados estaria em situação difícil.
“Não ia ter espaço. Meia dúzia que iria se salvar. Essa é a realidade da Polícia Civil. E não é diferente da PM, não. É a mesma coisa. As polícias no Rio de Janeiro estão contaminadas há décadas”, afirmou Lessa.
Ele também detalhou a influência dos irmãos Brazão dentro da polícia do Rio. “Porque a corrupção tá em todas as esferas, pô! Então, simplesmente, o delegado não quer fazer o que eles querem, tira ele, pô! É assim que funciona. E eles, na verdade, deixa eu só concluir aqui, eles, na verdade, tanto o Chiquinho quanto o Domingos, eles próprios têm essa bagagem. Eles mesmos botam e tiram o delegado de onde quiserem”.
Na abertura da audiência, o advogado de Lessa, Saulo Carvalho, pediu que todos os outros réus deixassem a videoconferência, e não acompanhassem a declaração, especialmente os irmãos Brazão. Somente os advogados dos réus estiveram presentes na audiência.
Esta seria a primeira vez que Lessa prestaria depoimento diante da presença, mesmo virtual, de Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE); Chiquinho Brazão, deputado federal; Rivaldo Barbosa, delegado da Polícia Civil do RJ; Ronald Paulo Alves Pereira, major da PM do Rio; e Robson Calixto Fonseca, o Peixe, PM e assessor de Brazão no TCE.
“Havia um pacto de silêncio, e gostaria que isso fosse respeitado. É tudo muito delicado. Não estamos lidando com pessoas comuns. São pessoas de alta periculosidade, assim como eu fui. São muito perigosos (os réus), mais do que se possa imaginar”, alegou Lessa.