Estudo mostra que, desde 2019, 44 agentes cometeram suicídio contra 5 mortos em serviço; vítimas da polícia são majoritariamente jovens, negros e pardos
Levantamento da Ponte Jornalismo aponta que, sob a gestão de Ratinho Júnior (PSD), a Polícia Militar do Paraná registrou o maior índice de letalidade de sua história e mais casos de suicídio entre policiais do que mortes em confronto.
Desde 2019, a média anual de pessoas mortas por intervenção policial dobrou em relação ao período anterior, sendo 370 mortes por ano, ao mesmo tempo em que 44 agentes tiraram a própria vida, número quase nove vezes maior que o de PMs mortos em serviço. Entre 2010 e 2018, a média era de 189 mortes anuais, o que demonstra a duplicação da letalidade policial sob a atual gestão.
O perfil das vítimas também chama a atenção. São, em sua maioria, jovens entre 12 e 34 anos, homens e quase metade deles é composta por pessoas pretas ou pardas. Em praticamente todos os casos, as mortes ocorreram por disparos de arma de fogo. O ano de 2022 foi o mais violento: foram 479 pessoas mortas pelas mãos de agentes da polícia militar paranaense e 413 mortes em 2024.
O estudo revela, ainda, outro dado alarmante dentro da própria corporação: sob o governo de Ratinho Júnior, houve mais suicídios do que mortes em serviço entre os policiais militares. Segundo o levantamento, 44 agentes da PM-PR se suicidaram no período, enquanto apenas 5 morreram em confrontos, o que reforça o quadro de adoecimento mental e precarização das condições de trabalho dos profissionais da segurança pública, que não só matam mais terceiros, mas também a si próprios.
Em recente caso, moradores do bairro Parolin, em Curitiba, onde, desde maio deste ano, a Polícia Militar teria matado cinco pessoas, denunciaram o assassinato do jovem Yago Gabriel Pires de Oliveira, de apenas 20 anos, que foi morto dentro da própria casa por agentes da PM, no último dia 7 de outubro de 2025.
De acordo com a família e testemunhas, Yago dormia no sofá com o irmão de 9 anos quando os policiais chegaram ao local, o levaram para uma área externa do imóvel e o mataram de maneira brutal e desumana. A família contesta a versão oficial de confronto e afirma que Yago não reagiu, mas ainda assim foi executado a sangue frio.
No vídeo que circula na internet, é possível ver um dos policiais arrastando o rapaz enquanto sua família grita desesperadamente.
“O que fizeram foi desumano. O policial arrastou ele igual a um animal. Até agora está cheio de sangue no galpão. Tem latinha furada de tiro. Se você quer conter uma pessoa, daria um tiro na perna. Mas eles deram todos os tiros na barriga, no tórax. Foi para matar mesmo. Foi execução”, relatou uma testemunha.
Parafraseando Frantz Fanon quando diz que não é possível desumanizar o outro, sem desumanizar a si mesmo, o levantamento mostra que há uma possível relação no aumento da letalidade policial, a partir da desumanização do outro, com o aumento de suicídios entre os próprios policiais que, ao abrir mão de sua humanidade, têm de lidar com a angústia e o sofrimento que isto provoca.