O presidente chinês Xi Jinping aceitou o convite do líder Kim Jong Un para visitar a Coreia Popular (Norte), anunciou a agência estatal KCNA, no retorno do dirigente coreano a Piongyang, depois de visita de quatro dias à China, em meio a informações de que é “iminente” a segunda cúpula Kim-Trump. “Será em breve”, afiançou em Seul o presidente do Sul, Moon Jae-in.
Foi a quarta visita de Kim à China em dez meses e este ano os dois países completam 70 anos do estabelecimento de relações diplomáticas. As três viagens anteriores foram, a primeira delas, antes da histórica participação do Norte nos Jogos Olímpicos de Inverno, em PyeongChang (Sul), e as outras duas justamente após cúpulas de Kim com Moon e Trump.
Durante o encontro com Xi em Pequim, o líder norte-coreano Kim enfatizou que a Coreia do Norte “continuará seguindo o compromisso de desnuclearização e resolvendo a questão da Península Coreana através do diálogo e da consulta, e fará esforços para a segunda cúpula entre a RPDC [nome oficial do Norte] e os líderes dos EUA para alcançar resultados que serão bem recebidos pela comunidade internacional”, segundo a agência de notícias Xinhua.
Xi expressou pleno apoio à segunda cúpula RPDC-EUA e reiterou a disposição de Pequim em contribuir para o avanço das negociações. “A China espera que a RPDC e os Estados Unidos se encontrem a meio caminho”, afirmou o presidente chinês, numa referência à exigência de Washington de desnuclearização primeiro e alívio das sanções só depois.
Ele acrescentou que a China “está pronta para trabalhar com a RPDC e as partes relevantes para desempenhar um papel positivo e construtivo na manutenção da paz e estabilidade e na realização da desnuclearização na península” e considerou as demandas coreanas de alívio das sanções como “razoáveis”. Kim, por sua vez, reiterou seu compromisso com a desnuclearização, a paz e a reconciliação intercoreana.
Os dois líderes concordaram com a expansão dos intercâmbios de alto nível nas áreas política, econômica, militar e cultural. Durante a viagem a Pequim, Kim foi recepcionado por Xi na noite de terça-feira, o 35º aniversário do líder norte-coreano. Ele também visitou uma unidade industrial em Pequim na quarta-feira antes de voltar para casa no final do dia.
MOON JAE-IN: “DIÁLOGO PELA PAZ AMPLIA-SE”
Em Seul, o presidente Moon afirmou que o diálogo para conseguir a paz e a desnuclearização da península coreana “segue se expandindo neste momento e vai acelerar ainda mais este ano”. Para ele, a segunda cúpula entre Coreia do Norte e EUA, que será em breve, e a visita de cortesia de Kim à capital sul-coreana, que está sendo aguardada, “serão novos momentos decisivos para consolidar a paz na península”.
Em seu discurso do Ano Novo, Kim havia advertido que poderia seguir um novo caminho se os EUA se aferrassem à pressão e às sanções contra o regime do Norte. Nos últimos meses, declarações do conselheiro de segurança nacional dos EUA, John Bolton, e do secretário de Estado, Mike Pompeo, por um desarmamento unilateral da Coreia, foram repudiadas por Pyongyang como “coisa de gângster, e denunciadas como uma sabotagem ao que foi combinado na cúpula de Singapura.
Bolton chegou a citar uma “desnuclearização à moda líbia” – ou seja, resultando na devastação do país -, e na ONU Washington veta propostas de atenuação das sanções defendidas pela Rússia, China e outros países.
Não haverá qualquer desarmamento unilateral, tem reiterado a chancelaria norte-coreana. Mas Kim tem mantido a porta aberta às negociações, afirmando estar pronto para se reunir com Trump a qualquer momento. Até aqui, partiram do Norte as principais ações de desanuviamento, com a suspensão dos testes nucleares e de mísseis e o fechamento de um local de testes, com Washington suspendendo as provocações com exercícios militares em grande escala.
A reconciliação intercoreana tem avançado a passos mais largos, após duas cúpulas Kim-Moon, a participação conjunta nos Jogos de Inverno, medidas para religar ferrovias e estradas, e atos altamente simbólicos como o fraterno aperto de mãos entre soldados do sul e do norte, na inspeção mútua de postos militares fechados nos dois lados da linha demarcatória que ainda divide a península coreana
Também em Seul, o Conselho de Segurança Nacional (CSN) considerou que a visita de Kim à China desempenhará “um papel positivo na direção da realização bem-sucedida da segunda cúpula EUA-Coreia do Norte”, disse o CSN em um comunicado. “Os membros continuarão a fazer esforços proativos para estimular intercâmbios de alto nível e negociações de desnuclearização entre as duas Coreas, Pyongyang e Pequim, e Washington e Pyongyang”, assinalou a nota.
Nação milenar, a Coreia foi dividida pela ocupação norte-americana no sul, em vigor desde 1945, e empurrada para a guerra por Washington, que queria a todo custo manter uma ‘cabeça de praia’ no noroeste asiático, após a vitória da Revolução Chinesa, que durou de 1950-53 e jamais foi oficialmente encerrada com um acordo de paz. A assinatura de um acordo definitivo de paz é uma das reivindicações centrais de Pyongyang, para sacramentar a reconciliação rumo à reunificação e prosperidade. Os EUA mantêm no sul mais de 28 mil soldados e dezenas de bases.
A.P.