Em declarações ao Middle East Eye, o veterano negociador palestino Saeb Erekat afirmou que aquilo que o governo Trump vem chamando de “acordo do século” no Oriente Médio não passa de uma tentativa de “tornar normal o regime de apartheid israelense”.
O genro de Trump, o arqui-sionista Jared Kushner, anda pela região com os sauditas a tiracolo, tentando encurralar as lideranças palestinas. Para Erekat, o “acordo do século” não é um acordo – e já está sendo implementado no terreno, como demonstra “a mudança da embaixada dos EUA para Jerusalém”.
No domingo (24), Kushner, marido de Ivanka, e que representou Trump na acintosa mudança da embaixada em maio, disse ao jornal Al Quds que Washington “vai tornar público o plano” e – mantendo a arrogância intervencionista típica da Casa Branca – mesmo se o presidente palestino “não quiser” voltar à mesa de negociações.
Desde que os EUA rasgaram as resoluções da ONU sobre os direitos e o Estado Palestino, o presidente Abbas se recusa a qualquer reunião com os agora indisfarçados porta-vozes do regime israelense.
“Nossa posição é baseada no direito internacional e nas resoluções da ONU. Nós não vamos aceitar nada menos do que isso, e ninguém pode impor nada sobre nós”, afirmou Erekat. Desde 1995, ele foi o principal negociador dos acordos de paz que Israel, ao invés de levar adiante, destroçou e foi o vice-chefe da delegação palestina à Conferência de Paz de Madri.
“Se houver algum plano, isso está sendo implementado no terreno: com a mudança da embaixada dos EUA para Jerusalém ocupada, retirando o apoio à solução dos dois Estados, cortando fundos para a organização de refugiados da ONU, mas os direitos inalienáveis do povo palestino não estão à venda”, sintetizou Erekat.
Conforme o dirigente, os negociadores palestinos não viram ainda um esboço oficial de tal acordo. Ele acrescentou que os americanos se tornaram “nada mais do que porta-vozes da ocupação israelense”. “Se alguém foi embora, foram os emissários de Trump, cujo plano nada tem a ver com uma paz justa e duradoura e muito a ver com a normalização do regime de apartheid israelense”.
Questionado sobre as especulações de que, sob a pressão das súbitas mobilizações contra os ‘ajustes’ e da ameaça dos governos do Golfo de não socorrerem financeiramente a Jordânia em crise, o rei Abdullah III fosse arrastado a um acordo, pelas costas dos palestinos, com o primeiro-ministro Netanyahu, com quem este esteve reunido na semana passada, Erekat asseverou que de forma alguma.
A especulação, alimentada pela mídia do Golfo e israelense era que, se suficientemente arrochado, o rei poderia ceder em troca de manter sua custódia sobre os locais sagrados de Jerusalém. Erekat afirmou que as relações palestinas com a Jordânia são “muito fortes”, e que o rei foi claro “em suas declarações pedindo uma Palestina livre com sua capital em Jerusalém Oriental. Estamos coordenando tudo com o lado jordaniano”.
Como registra o Middle East Eye, protestos antiausteridade que abalaram o reino no início do mês levaram uma autoridade jordaniana a sugerir que os líderes do Golfo retiveram a ajuda para pressionar o rei sobre Jerusalém, onde a Jordânia mantém a custódia sobre os lugares santos desde o mandato britânico no início do século XX. Após a reunião, o gabinete de Netanyahu declarou que este havia reiterado “o compromisso de manter o status quo nos locais sagrados de Jerusalém”.