O leitor sabe qual a origem da expressão casa da mãe joana?
Nós não sabíamos, mas o grande Câmara Cascudo esclareceu que a expressão veio de uma rainha, Joana de Nápoles, que legalizou os bordéis em seu reino e quase obrigou toda a população a frequentá-los.
Pois é o caso do PSL, um pseudo-partido pelo qual Bolsonaro foi eleito – portanto, supostamente, o partido governante na administração Jair Bolsonaro.
Pode ser – e é verdade – que o PSL não seja o partido governante. Mas que é o partido governista, lá isso é. Vejamos, então:
Na quinta-feira (17/10), Bolsonaro tentou derrubar o líder do partido na Câmara, deputado Delegado Waldir, para colocar seu filho, Eduardo Bolsonaro, o mesmo que está tentando, também, colocar em Washington, como criado de Trump, digo, embaixador nos EUA.
A disputa foi por um método novo: listas de deputados, dirigidas à Mesa da Câmara, apoiando um ou outro sujeito. Saiu vencedor o deputado Delegado Waldir, que, em seguida, deu a sua declaração de vitorioso:
“Nós somos Bolsonaro. Somos que nem mulher traída, apanha, mesmo assim volta ao aconchego.”
A briga é por dinheiro. Com a eleição de cinquenta e dois deputados, nulidades que se colaram em Bolsonaro, o PSL, no ano que vem, terá R$ 350 milhões, na soma dos fundos partidário e eleitoral.
Mas o que é o PSL? Um grupo cuja razão de ser é colar em Bolsonaro. Fora isso, o PSL não tem razão para existir.
Daí a vontade do deputado Delegado Waldir de se rechegar ao aconchego de Bolsonaro, por mais que apanhe do próprio Bolsonaro.
Depois de dias de troca de carinhos, onde a deputada Joice Hasselmann foi chamada de “Peppa Pig”, onde o filho favorito, o Carluxo, postou imagens de um porco, um rato, uma cobra, uma galinha e uma lula – e recebeu, como resposta, as imagens de três veados e três ratos (caramba!) e uma observação de Hasselmann: “Quem é Lassie não pode posar de pitbull” –, depois disso, na segunda-feira, Bolsonaro (aliás, Eduardo & cia., o que é a mesma coisa) entrou com outra lista na Mesa da Câmara.
Na mesma segunda-feira, o deputado Delegado Waldir, aquele que ia “implodir” o governo – e chamara duas vezes Bolsonaro de “vagabundo” – publicou um vídeo, desistindo da liderança do PSL, obviamente, em favor de Eduardo Bolsonaro, já que não existia outro pretendente.
Além disso, em seu vídeo, Delegado Waldir retirava a suspensão de cinco deputados planaltistas.
Mas, essa suspensão fora uma decisão da convenção extraordinária do PSL, na sexta-feira. Como pode o Delegado Waldir, ao mesmo tempo em que renuncia à liderança, retirar essas punições?
Ora, porque ninguém leva nada a sério no PSL – e ninguém leva nada a sério porque, no PSL, nada é sério, a começar pelo presidente (o da República, bem entendido, mas também o do PSL).
O negócio do Delegado Waldir era fazer com que Bolsonaro o aceitasse de volta no harém, perdão, no alcouce ou na porneia, como falava Rui Barbosa quando queria dizer “prostíbulo”.
Ele não estava brincando quando falou que “somos que nem mulher traída, apanha, mesmo assim volta ao aconchego”.
As mulheres nada têm a ver com isso. O perfil é o dele – e não o de qualquer mulher.
Pela manhã, também na segunda-feira, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, fez um acordo com Luciano Bivar, presidente do PSL, pelo qual o deputado Delegado Waldir ficaria na liderança até janeiro (o que tem a Secretaria de Governo a ver com os problemas do PSL? Nada, leitor, mas no governo Bolsonaro é assim: a máquina pública é tratada como extensão da família Bolsonaro).
Três horas depois do acordo, passaram a perna em Bivar e no Delegado Waldir: o líder do governo, deputado Vitor Hugo (PSL-GO), entrou com outra lista – mais duas horas depois e a Mesa da Câmara reconheceu Eduardo Bolsonaro como líder do PSL.
Quer dizer, espantaram-se alguns, que o líder pode mudar todos os dias, de acordo com a lista aceita pela Mesa da Câmara? Que bagunça é essa?
Mas a bagunça, aqui, não é da Mesa da Câmara, que apenas reconhece o líder indicado pela maioria da bancada.
O que é uma bagunça é a bancada do PSL, isto é, a bancada de Bolsonaro – sobretudo quando aparece dinheiro.
Logo em seguida, como não deu certo a volta ao aconchego, o deputado Delegado Waldir renunciou à renúncia.
E disse que ia entrar com outra lista para continuar como líder.
Ao mesmo tempo, o ministro Luiz Eduardo Ramos negou que tivesse fechado um acordo com Bivar.
Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro, entrevistado, mostrou a autonomia que tem: “eu não sei se a lista que está valendo é a minha lista. Se houve ou não qualquer tipo de acordo, não posso me posicionar como sendo ou não o líder do partido”.
Em resumo, ele não sabia de nada – e não sabia mesmo. Tudo estava sendo feito pelo Planalto, com alguns agentes na bancada do PSL.
Mas isso foi às 13h.
Às seis da tarde, ele destituiu 12 vice-líderes do PSL.
Todos, provavelmente, como o Delegado Waldir, doidos, de tanto apanhar, para voltar ao aconchego.
C.L.