
Marcos Roberto de Almeida, conhecido como Tuta e integrante da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), foi oficialmente entregue pela Bolívia às autoridades brasileiras. Ele foi capturado na última sexta-feira (16) após comparecer voluntariamente a uma unidade policial boliviana para tratar de questões migratórias, momento em que apresentou um documento falso com o nome “Maycon da Silva”.
A falsidade foi detectada de forma imediata, e as autoridades acionaram a Interpol e um oficial da Polícia Federal (PF). A identificação de Tuta foi confirmada com o uso de dados biométricos da PF e do hub internacional da Interpol, permitindo uma resposta rápida e precisa. “Conseguimos, quase que em tempo real, confirmar quem era, de fato, aquela pessoa na unidade policial da Bolívia, e com isso dar a materialidade, a certeza e a segurança para a prisão em flagrante”, afirmou o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues.
Após a expulsão, ele foi transportado sob escolta de 50 agentes da PF em uma aeronave que partiu de Santa Cruz de la Sierra rumo ao Brasil. O deslocamento até a Penitenciária Federal em Brasília contou ainda com o apoio de 18 homens da Polícia Penal Federal, além das polícias Militar e Civil do Distrito Federal.
“O criminoso ficará detido em presídio de segurança máxima do Sistema Penitenciário Federal (SPF), cujo objetivo é isolar lideranças criminosas e presos de alta periculosidade”, informou a PF, em nota. Tuta já foi condenado no Brasil a 12 anos de prisão por organização criminosa, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, e integrava a Lista de Difusão Vermelha da Interpol.
PEC DA SEGURANÇA
A captura de Tuta ganhou destaque não apenas pela operação internacional bem-sucedida, mas também por reacender o debate sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, atualmente em tramitação no Congresso Nacional. Segundo o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, o caso ilustra a necessidade de aprimorar o entrosamento entre os sistemas locais, nacionais e internacionais de combate ao crime.
“O governo brasileiro teve uma vitória muito importante contra o crime organizado ao prender este delinquente de alta periculosidade ligado a uma facção criminosa no Brasil”, declarou o ministro. Para ele, o sucesso da ação revela “o entrosamento entre as forças locais de segurança e as forças que integram o sistema judiciário com as forças Federais”, um objetivo central da PEC da Segurança.
Lewandowski enfatizou que a dinâmica do crime mudou e exige respostas integradas. “Muitas das atividades criminais já deixaram de ser locais, e, portanto, o combate a elas precisa ser feito de maneira global, por meio de cooperações entre todas as forças de segurança. E hoje já contamos com um grande leque de cooperação internacional”, afirmou.
O ministro defendeu que a PEC permitirá consolidar esse modelo de integração, facilitando articulações mais eficazes e rápidas em futuras ações contra o crime organizado. A proposta busca fortalecer a articulação entre os diferentes entes federativos e as agências de segurança pública, promovendo atuação coordenada diante de organizações que operam além das fronteiras nacionais.
OPERAÇÃO INTEGRADA
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, explicou que a operação teve êxito graças à articulação de três frentes: cooperação internacional, identificação biométrica em tempo real e integração interna entre instituições brasileiras. “Isso permite uma rápida interação com as autoridades bolivianas, identificando em um primeiro momento a falsidade documental”, disse, citando a presença da PF em vários países por meio de adidos e oficiais.
O secretário-geral da Interpol, Valdecy Urquiza, também destacou a complexidade da operação: “O alvo dessa operação já constava dos bancos de dados da organização desde 2020”. Ele explicou que o banco de dados biométrico da Interpol, que reúne impressões digitais, fotos e DNA de foragidos, foi crucial para confirmar a identidade do brasileiro.
“A grande verdade é que as organizações criminosas que atuam no Brasil que atuam em outros países da região, e a resposta precisa ser coordenada entre as diversas agências policiais da região [América do Sul]”, afirmou Urquiza. Ele também reiterou a importância do intercâmbio de dados entre os países para combater redes transnacionais que não respeitam fronteiras e se especializam em ocultação de ativos, tráfico e lavagem de dinheiro.