O deputado federal e líder do PSB na Câmara, Tadeu Alencar (PE), afirmou que Bolsonaro dissemina “ódio e intolerância” ao agredir o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, atingindo insultuosamente a memória do pai deste, Fernando santa Cruz.
Felipe Santa Cruz vem recebendo, desde segunda-feira (29), inúmeras declarações de solidariedade e de repúdio a Bolsonaro, que o agrediu.
Na segunda-feira, ao atacar a suposta atuação da OAB no caso de Adélio Bispo, que lhe deu uma facada durante a campanha eleitoral, Bolsonaro disse: “Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele”.
Num total desrespeito à memória de Fernando e à família que até hoje busca respostas para o desaparecimento dele. Fernando Santa Cruz foi preso pelos agentes do DOI-CODI em 23 de fevereiro de 1974, aos 26 anos, e desapareceu nas tenebrosas prisões e antros de tortura da ditadura. Nunca mais foi encontrado.
Depois, insistindo no assunto, Bolsonaro ainda mentiu dizendo que Fernando Santa Cruz foi morto pela organização, a Ação Popular, em que ele militava.
“A afirmação é um escândalo, um imenso desrespeito, ainda mais saída da boca de um presidente da República que deveria pugnar pela paz no seu país e não disseminando esse discurso de ódio e intolerância”, declarou o líder do PSB.
Tadeu Alencar fez referência à mãe de Fernando, Dona Elzita Santa Cruz, que morreu com 105 anos após procurar mais de 40 anos por respostas sobre o desaparecimento do filho.
“O destino poupou dona Elzita Santa Cruz, mãe de Fernando, de ouvir uma sandice dessa e sofrer ainda mais, ela que passou 43 anos à procura de notícias do filho. Estou ao lado deles, de Felipe, da família de dona Elzita e do vereador Marcelo Santa Cruz (irmão de Fernando), meu companheiro de militância e amigo de longa data”, disse Tadeu Alencar.
“É difícil saber onde um país vai parar quando o seu presidente age do jeito que Bolsonaro age”, concluiu.
Em entrevista coletiva na terça-feira (30), Marcelo Santa Cruz afirmou que o que Bolsonaro disse do seu irmão “é de uma indignidade a toda prova”.
Ele contou que “Fernando era um jovem de 26 anos quando foi preso. Fernando tinha uma militância política, era da Ação Popular, mas tinha vida legal, não era clandestino”.
“A versão oficial que a gente tem é a que foi levantada pela comissão da verdade com documentos oficiais da Aeronáutica. Fernando estava sendo monitorado inclusive com quem ele tinha relação em Recife”, destacou.
Na quarta-feira (31), à tarde, Felipe Santa Cruz entrou com uma interpelação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra Jair Bolsonaro para que ele diga as informações que afirma ter sobre o desaparecimento de seu pai. O documento foi assinado por Felipe e mais 12 ex-presidentes da OAB: Eduardo Seabra Fagundes, José Bernardo Cabral, Mário Sérgio Duarte Garcia, Marcelo Lavenère Machado, José Roberto Batochio, Francisco Ernando Uchoa Lima, Reginaldo Oscar de Castro, Roberto Antonio Busato, Cezar Britto, Ophir F. Cavalcante Junior, Marcos Vinicius Furtado Coêlho e Claudio Lamachia. Leia a íntegra da ação aqui.
“Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro – e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos”, ressaltou, em nota, o atual presidente da OAB.
Na quinta-feira (1º de agosto), o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), interpelou Jair Bolsonaro para que ele esclareça “eventuais ambiguidades ou dubiedades dos termos utilizados” nesta semana, ao falar sobre a morte de Fernando Santa Cruz pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.
Atendendo o pedido de Felipe Santa Cruz, Luís Roberto Barroso destacou em seu despacho que o autor da interpelação “se sentiu pessoalmente ofendido e entendeu que, das declarações do senhor Presidente da República, se poderia inferir a prática dos crimes de calúnia contra a memória de seu pai”.
Bolsonaro tem 15 dias para responder à interpelação.
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