A comandante guerrilheira sandinista e ex-ministra da Saúde da Nicarágua, Dora Maria Tellez, “presa há mais de 530 dias pelo regime de Daniel Ortega”, foi agraciada no último dia 28 com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Sorbonne, de Paris.
“Com este título, a Sorbonne Nouvelle homenageia a sua excepcional carreira política e científica, e sua contribuição para o compromisso social internacional”, afirma o comunicado da Sorbonne, assinado por Jamil Jean-Marc Dark, presidente da instituição acadêmica. A cerimônia destacou que “esta é uma demonstração que Dora Maria Tellez está prisioneira, isolada há mais de 530 dias, mas está livre”.
Por decisão unânime de seu Conselho Acadêmico, e com a aprovação do Ministério da Europa e Relações Exteriores da França, a homenagem valoriza uma rica trajetória de luta contra a ditadura de Anastácio Somoza e, mais recentemente, em favor dos oprimidos pelo governo de Ortega e de sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo.
“Queremos reconhecer seu compromisso vitalício com a justiça social e a democracia, tanto em seu país quanto em toda a região latino-americana”, enfatiza a carta enviada a Tellez, condenada a oito anos de prisão por sua militância oposicionista.
Acusada por suposta “traição à pátria”, a líder opositora nicaraguense de 67 anos se encontra trancafiada e em condições desumanas na prisão de El Chipote, onde também estão presos vários sacerdotes católicos.
Desde o cárcere, Dora Maria Tellez agradeceu e dedicou o título a todos os presos políticos que vem sendo submetidos a torturas e isolamentos, desejando que a homenagem sirva para gerar consciência e repúdio a um governo que tem submetido seu povo a um tempo de silêncio e terror.
Representando a oposicionista na cerimônia, o jornalista Carlos Fernando Chamorro Barrios denunciou que na cela de Téllez, que recentemente declarou greve de fome, “não há luz, nem mesmo para distinguir a pasta de dente na escova”. Para Chamorro, é necessário que todos levantem suas vozes para pôr fim ao arbítrio, pois “não se pode justificar uma ditadura em nome da esquerda”.
Depois de ouvir alguns familiares dos presos políticos ali detidos, a presidente do Centro Nicaraguense para os Direitos Humanos, Vilma Núñez, disse que El Chipote deveria ser chamado de “centro de tortura”. Entre outros abusos, denunciam, para alguns prisioneiros as luzes são mantidas acesas vinte e quatro horas por dia, enquanto outros estão sempre no escuro, sem poder ver seus parentes nem seus advogados.