“Rechaçamos os caminhos inconstitucionais”, afirmou o porta-voz da Aliança pelo Referendo Consultivo, (ARC), Enrique Ochoa Antich, que destacou a necessidade de “uma indispensável mudança de governo para a saída da crise”.
Ochoa, integra uma Aliança que inclui a Plataforma Cidadã em Defesa da Constituição, que por sua vez une ex-ministros do governo de Hugo Chávez a líderes sociais e dirigentes políticos que, se destacaram no processo de libertação que Chávez liderou e que hoje se colocam na oposição, mas uma oposição que busca uma saída que mantenha a soberania do povo venezuelano.
Por isso, a Aliança destaca a condição de seus integrantes estarem “convencidos de que tal mudança deve se produzir através de uma rota democrática, constitucional, pacífica, civil e soberana”.
PELA MUDANÇA CONSTITUCIONAL DE GOVERNO
Em entrevista coletiva, realizada no dia 2 de maio, 2 dias após a tentativa de golpe respaldado por Washington e protagonizado por Juan Guaidó, o porta-voz da ARC, convoca o governo venezuelano a “persuadir-se que tem de abrir a possibilidade de uma resolução democrática e constitucional da crise política, social e moral que aflige a República”.
Por outro lado, Ochoa alerta que os acontecimentos do dia 30 de abril “voltam a colocar em evidência a fratura nacional, a ameaça de guerra e a violência” e chama a Assembleia Nacional a “realizar um balanço destes acontecimentos e a ratificar a estratégia que promove”.
Os integrantes da Plataforma Cidadã em Defesa da Constituição (PCDC) também participaram da coletiva. Santiago Arconada, porta-voz da PCDC, manifestou que “o povo venezuelano deve saber que tem instrumentos constitucionais que lhes permitem sair do pesadelo em que todos nos encontramos”.
Enquanto Maduro encabeçou, na quinta-feira, 02, de um ato no Forte Tiuna, mais importante instalação militar situada em Caracas, conclamando as Forças Armadas do país a combater “qualquer golpista”; a PCDC, divulgou um documento afirmando que a saída para a profunda crise que a Venezuela vive “deve ser soberana, pacífica e constitucional”.
REFERENDO JÁ!
A entidade, que é uma das expressões mais importantes do chavismo crítico e tem atuado em conjunto com outros setores da oposição a Maduro, na Aliança pelo Referendo Consultivo, defende o “Diálogo e o Referendo Consultivo Já!”, em manifesto ao povo venezuelano.
“Desde a Plataforma Cidadã em Defesa da Constituição rechaçamos esta nova tentativa golpista promovida pelo governo dos EUA a través do autoproclamado Juan Guaidó e reafirmamos que o único caminho para superar a crise, preservando a paz e a soberania da Nação, é o diálogo e a negociação com o rosto voltado ao país e a convocatória de um Referendo Consultivo, para que o povo ponha fim à crise político-institucional, mediante a renovação de todos os poderes públicos nacionais, em um processo eleitoral organizado por um Conselho Nacional Eleitoral de consenso que garanta o fiel cumprimento da vontade do povo”, sublinha o documento da entidade.
“Para aqueles que viemos alertando sobre o verdadeiro caráter da política que aplica a cúpula que controla a Assembleia Nacional, não foi nenhuma surpresa o desenlace do ato bufo que encenaram no viaduto distribuidor Altamira da rodovia do leste de Caracas os Deputados Juan Guaidó (Vontade Popular, VP), Edgar Zambrano (Ação Democrática, AD) e Henry Ramos Allup (AD), o ‘liberado’ Leopoldo López (VP) e um grupo de funcionários policiais e militares apetrechados com armamentos de guerra”, prossegue o manifesto.
RECHAÇO À INTERVENÇÃO NORTE-AMERICANA
E alerta que “quase simultaneamente, o Senador Marcos Rubio e John Bolton, porta-vozes do governo dos EUA, e Iván Duque, presidente da Colômbia, irromperam nas redes para solidarizar-se com essa tentativa golpista, para que não ficasse dúvida de que essa iniciativa forma parte da rota traçada por Washington para a mudança de regime”.
Para os integrantes da Plataforma, os golpistas descartam “uma saída negociada para a crise político-institucional, ao colocar como premissa o despejo violento do poder de Nicolás Maduro, através de um golpe palaciano”, ou mais grave ainda “de uma guerra civil com participação militar internacional. Essa estratégia que supõe a fragmentação da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) e sua subordinação ao poder político e militar norte-americano que opera como o verdadeiro poder que sustenta o autoproclamado Juan Guaidó, já tem produzido dois fracassos consecutivos”.
Os integrantes da Plataforma Cidadã lembram a primeira tentativa golpista, também fracassada, que “foi a tentativa de ingresso forçado desde a Colômbia, da chamada ‘ajuda humanitária’ proveniente dos EUA”.
ÓPERA BUFA DE GUAIDÓ
Agora, aponta a PCDC, “foi posta em cena a ópera bufa tragicômico-midiática desde o viaduto Altamira”.
“Ambos movimentos foram feitos com o propósito de pressionar os militares para que deponham Maduro, embora ao final produziram o efeito contrário”, assinala o texto.
“O fato de que a convocação de Guaidó e companhia não tenha tido o eco esperado na população nem nos mandos militares, confirma que a grande maioria dos venezuelanos rechaça a violência e deseja uma saída soberana e democrática para a crise política através da mobilização popular pacífica e da reivindicação da Constituição. A ação violenta do viaduto Altamira mostrou o verdadeiro rosto de um líder messiânico, irresponsável e genuflexo diante do governo dos EUA, construído pela mídia para criar uma grande expectativa como uma suposta ‘nova’ opção para conseguir a mudança política, manipulando a ansiedade e o desespero de um povo submergido na pobreza e na incerteza frente aos rigores de uma crise econômica e social que parece não ter fim”.
“O único resultado concreto que esta nova aventura trouxe foi a fuga de Leopoldo López e vários funcionários militares e policiais feridos na refrega, além do inevitável efeito desmobilizador na véspera da marcha do 1º de Maio, sendo esta uma grande oportunidade para que se expressasse de maneira contundente a força dos trabalhadores, para exigir ao governo de fome de Nicolás Maduro, responsável pelas precárias condições de vida resultante do aprofundamento da crise social complexa que faz sofrer o povo venezuelano pela sua má gestão, que promova uma saída para a confrontação política mediante o respeito dos mecanismos democráticos e constitucionais”
“Como é o caso da consulta ao povo soberano para que seja ele quem decida se quer ou não re-legitimar todos os poderes públicos nacionais. Fechar as vias democráticas de diálogo e negociação, continuará nos conduzindo ao cultivo da violência e ao estímulo de aventuras irresponsáveis, vinculadas a interesses estrangeiros, como a encenada em 30 de abril em Caracas”.
O documento da Plataforma Cidadã em Defesa da Constituição é firmado por Gustavo Márquez Marín (ex-ministro de Indústria e Comércio/Integração e Comércio Exterior), Oly Millán (ex-ministra para a Economia Popular). Edgardo Lander (Acadêmico), Héctor Navarro (ex-ministro de Energia Elétrica) e ainda, Esteban Mosonyi, Santiago Arconada, Juan García (pesquisadores, professores universitários).