Simon Khaya Moyo, porta-voz do Zanu-PF, partido do líder da independência do país, condenou golpistas por seu “comportamento ultrajante que se trata de uma violação do papel constitucional de defesa nacional dos militares”
O exército do Zimbábue colocou, no dia 14, o presidente do país, Robert Mugabe, principal liderança e herói da luta do país por independência, conquistada em 1980, sob custódia em sua residência.
O líder do Zimbábue passou a sofrer pressões e o país a sofrer bloqueio e sanções desde o momento em que devolveu terras usurpadas por colonizadores brancos a seus donos originais, os negros, habitantes do Zimbábue (que sob o domínio inglês se chamara Rodésia). Durante o regime branco, os 5% da população branca se autoproclamaram donos de mais de 50% das terras do país enquanto aos trabalhadores eram negados até o direito a sindicalização. Mugabe e as forças do ZANU, União Nacional Africana do Zimbábue chegaram ao poder através de árdua luta armada e se fundiram com a Frente Patriótica para fundar o partido Zanu-PF.
Mesmo sob intensa pressão, Mugabe comandou a resistência à recolonização do país, que enfrentou dificuldades econômicas. O país voltou a crescer após a crise de 2008 entre 2009 e 2014, acima de 5% e chegando a ultrapassar os 10% em 2010, 2011, 2012 e 2013, para voltar a cair em termos de ritmo de crescimento nos anos recentes, 2015 e 2016.
Com sua têmpera anticolonial, quando o primeiro-ministro inglês, Tony Blair, vituperou contra o governo do seu país, ele devolveu, em encontro mundial, na Áfica do Sul, “lutamos por nossa terra, lutamos por nossa soberania, e conquistamos a nossa independência, portanto Blair, fique com sua Inglaterra e nos deixe com o nosso Zimbábue”.
Posteriormente, quando na Assembleia-Geral da ONU, de 2007, George Bush acusou o seu governo de “tirânico”, e os da Bielorrússia, Síria, Irã e Coreia Popular como “brutais”, respondeu: “Que o senhor Bush leia a história corretamente. Ele deve perceber que, tanto pessoalmente, como junto com os representantes de seu governo, os Estados Unidos, defende sua ‘civilização’ que ocupou, colonizou, encarcerou, assassinou. Suas mãos estão mergulhadas em sangue inocente de muitas nacionalidades”.
E prosseguiu: “mata no Iraque, mata no Afeganistão, como pode querer ser nosso patrão no que diz respeito a direitos humanos?”
“Quanta hipocrisia”, disse ainda. “Bush prende e tortura pessoas na prisão de Abu Ghraib, no Iraque e no campo de concentração em Guantánamo as leis internacionais não se aplicam. Agora ousa nos dar aulas sobre tirania em plena ONU”.
Mugabe buscou romper o cerco e a suspensão das sanções promovendo um governo de união nacional com o líder da oposição, que nas eleições de 2008, foi bancado pela mídia e finanças ocidentais, Morgan Tsvangirai. Na condição de integrante do governo a partir de 2009, passou a conspirar contra o governo, acusando-o de crimes sem provas e negando-se a fazer coro com o governo e a exigir o fim das sanções, até ser afastado em 2013. As sanções foram retomadas com dureza.
O seu partido o Zanu-PF apresentou divisões recentes. Emmerson Mnangagwa, que, acabou sendo demitido, advogava mais concessões – tanto ao Banco Mundial, quanto ao FMI – do que se mostrava disposto a ceder o líder Mugabe.
Afastado da vice-presidência (no Zimbábue o cargo é nomeado pelo presidente), após um gigantesco comício na região de Bindura, com a esposa de Mugabe, Gracie, denunciando os planos de traição de Mnangagwa, este deu seguimento ao plano golpista que – segundo divulga agora o site de notícias sul-africano news24 – vinha sendo arquitetado a um ano.
Junto com o general Constantino Chiwenga, assume o poder, depois do exército colocar tanques nas ruas da capital Harare e deter Mugabe e seus familiares.
Diante das arengas do general, às vésperas do golpe, o líder e porta-voz do partido Zanu-PF, Simon Moyo, condenou “comportamento ultrajante que se trata de uma violação do papel constitucional de defesa nacional dos militares”.
Logo após a destituição de Mugabe, o opositor pró-EUA, Morgan Tsvangirai, retornou a Harare. A imprensa sul-africana prevê um governo de composição entre este e a junta que tomou o poder.
Quanto a Robert Mugabe, até o fechamento desta edição, resiste e nega-se a renunciar.
NATHANIEL BRAIA