O senador Elmano Ferrer (Podemos-PI), aliado de Bolsonaro, disse que constatou esse “fato chocante” depois de visitar quartéis ocupados
Na manhã de sexta-feira (21) ainda estão chegando forças militares ao Ceará para controlar, a pedido do governador Camilo Santana (PT), a segurança do estado, diante do motim organizado por integrantes da PM que estão em greve.
Na quarta-feira (19), o senador Cid Gomes foi baleado por amotinados que ocupavam o 3º BPM na cidade de Sobral. Os tiros foram dados quando o parlamentar, à frente de populares e da tropa de choque de policiais que não aderiram ao movimento, tentava remover a cerca colocada na entrada do batalhão pelos integrantes da ocupação.
O senador Elmano Ferrer (Podemos-PI) foi ao Ceará para tentar ajudar nas negociações, integrando uma comitiva de senadores. Depois de se reunir com o governador Camilo Santana, Ferrer visitou os PMs amotinados em um quartel.
“(Vi) uma fila de carros abandonados, pneus vazios, militares encapuzados, tomando cerveja, e adentramos a instituição. O que me chocou é que os líderes do movimento são praças expulsos da corporação. Estamos diante de um esfacelamento”, disse o senador Elmano Férrer, na sexta-feira, ao relatar a visita de senadores ao batalhão onde estão os amotinados.
O senador Major Olimpo, do PSL-SP, partido que elegeu Bolsonaro, também se posicionou contra amotinamento declarando ser contra anistia de PMs infratores.
O grupo de senadores chegou na noite da quinta-feira, 20, a Fortaleza para se inteirar da situação com o governador Camilo Santana. Entre eles estão os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE), Eduardo Girão (Podemos-CE), Prisco Bezerra (PDT-CE), Major Olimpo (PSL-SP) e Elmano Ferrer (Podemos-PI). A reunião ocorreu no Palácio da Abolição, sede do governo.
Tropas do Exército já estão patrulhando as ruas de Fortaleza e da Região Metropolitana. Até o fim da tarde da sexta-feira (21), outras equipes da Força Armadas, vindas da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte também começarão a atuar no Ceará. No interior do Estado, a atuação ainda vai ser definida conforme as demandas da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Cinco cidades do Estado suspenderam o carnaval em virtude da crise instalada na Segurança Pública.
Até a manhã de sábado ainda são esperados militares que estão sendo transferidos para Fortaleza. Está previsto para a tarde de sexta o início das operações de retomada dos quartéis e patrulhamento das principais ruas e avenidas da capital e cidades do interior.
NOVA OCUPAÇÃO EM SOBRAL
Mesmo com a presença das tropas, em Sobral, na madrugada de sexta-feira, os policiais que atiraram no senador Cid Gomes e foram expulsos do 3º BPM ocuparam o Batalhão de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (BPRaio). No local há cerca de 15 viaturas e 20 motos que tiveram os pneus esvaziados pelos amotinados.
Em Fortaleza, no mesmo dia pela manhã, alguns agrupamentos se deslocaram em veículos militares pela cidade, mas ainda não deram início ao patrulhamento ostensivo de rua. Dois veículos chegaram a ser posicionados na rampa de acesso da 10ª Região Militar, com militares empunhando fuzis. A retomada da ordem no Ceará contará com o uso das FFAA. O decreto instituindo a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) foi assinado na quinta-feira (20). A paralisação dos agentes de segurança entra hoje [sexta-feira] pelo quarto dia.
REUNIÃO DO COMANDO
As autoridades fizeram uma reunião na manhã da sexta-feira, no quartel da 10ª Região Militar, no Centro da Capital. O comandante da 10ª RM, general Fernando Cunha Mattos passa a ter o controle operacional de toda a segurança do Estado na vigência da GLO. O secretário da Segurança Pública e Defesa Social, André Costa, participou da reunião, que durou cerca de duas horas. Além da SSPDS, estiveram presentes na reunião representantes de órgãos de segurança federais (Força Nacional, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Capitania dos Portos, Base Aérea), do Estado (Polícia Militar, Polícia Civil, Bombeiros) e do Município (Guarda Municipal). O encontro serviu para definir atribuições de cada órgão, para evitar sobreposições.
A avaliação da cúpula do governo do Ceará é que a minoria amotinada está perdendo força. Principalmente depois da grande repercussão, em todo o país, da covarde tentativa de assassinato do senador Cid Gomes. A direção nacional do Solidariedade, junto do diretório estadual do partido no Ceará, decidiram pela expulsão do vereador Sargento Ailton do partido. O parlamentar foi flagrado como um dos incitadores do motim de policiais que causaram o confronto e baleou o senador Cid Gomes. A direção do Solidariedade afirmou que “não compactua com ações que violentem e agridem a democracia”.
Diante da insistência de uma parte dos policiais em manter quarteis ocupados, o governador Camilo Santana anunciou a exclusão da folha de pagamento deste mês dos policiais que participam do motim. Também foram instaurados 300 IPMs (Inquéritos Policial Militar) para apurar os atos praticados. Desde o início do movimento, quatro PMs foram presos.
Ele disse também que não haverá anistia. “Anistia para quem fizer motim na polícia é inegociável”, declarou o governador. O governador acrescentou que essa postura, segundo ele, não seria da maioria da tropa. “A grande maioria da tropa é formada por homens e mulheres de bem. Esses que estão nos motins não representam a Polícia”.
Camilo Santana tem dito a secretários mais próximos que o governo está lidando “com bandidos mascarados e armados”. Nos últimos dias homens encapuzados aterrorizaram a população de diversas cidades cearenses. A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) vem instaurando processos disciplinares contra os envolvidos.
As entidades representativas dos policiais tinham aceitado o acordo costurado pelo governo e a Assembleia Legislativa de aumentos salariais para os soldados da PM e para bombeiros de R$ 3.475 para R$ 4.500, com reajuste parcelado em três vezes até 2022. Uma parte da categoria, incitada por certas lideranças políticas, que o ex-governador Ciro Gomes, relacionou ao bolsonarismo, recusaram a proposta mesmo depois que o acordo tinha sido assinado. A partir daí, mascarados aterrorizaram a população, carros da polícia tomados, pneus foram esvaziados e os quarteis foram invadidos. O motim culminou com a tentativa de assassinato do senador e ex-governador Cid Gomes.
O capitão Wagner, que inicialmente havia aceitado o acordo salarial vem procurando obter ganhos políticos com a radicalização política. Ele e outros bolsonaristas entraram com uma queixa contra o senador Cid Gomes, que foi baleado no peito. Em áudios, o ex-deputado Cabo Sabino, outro integrante da corporação, e também interessado na radicalização do movimento, afirma que greve é para quem é corajoso e critica lideranças de associações, sem citar nomes. Sabino, que no passado presidiu representações da categoria, agora ataca as entidades porque elas aceitaram o aumento proposto pelo governo e não apoiaram o uso da violência por parte de setores da categoria. Sabino quer a todo custo que haja radicalização para tentar viabiliza sua candidatura.
VIOLÊNCIA CONTRA JORNALISTAS
O Sindicato dos Jornalistas do Ceará, com apoio da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), lançou uma nota repudiando a violência contra jornalistas por parte dos amotinados. Segundo o comunicado, ao menos três profissionais sofreram algum tipo de violência durante a cobertura.
“Um repórter fotográfico da Prefeitura de Sobral teve a câmera arrancada pelos policiais que se manifestavam em um batalhão da cidade. Ainda no município, onde aconteceu o atentado ao senador Cid Gomes, uma equipe da TV Verdes Mares foi impedida de realizar uma cobertura ao vivo. E, por fim, outra equipe da Verdes Mares foi expulsa de local em que realizava reportagem no bairro Antônio Bezerra, em Fortaleza”, detalha a nota, destacando que os jornalistas não representam a linha editorial dos veículos para onde trabalham.
SÉRGIO CRUZ