A participação de Jair Bolsonaro no encontro do G20, grupo que reúne os chefes de Estado das maiores economias do planeta, já passou para a história da diplomacia brasileira como um vexame cujas repercussões negativas serão difíceis de apagar.
Bolsonaro mentiu para as lideranças dos demais países dizendo que seu governo impulsionou a vacinação no Brasil e que o Brasil está vivendo um pujante período de crescimento econômico, com a retomada das atividades produtivas no pós-pandemia de Covid-19.
Bolsonaro também amargou a indiferença dos líderes mundiais que participam do evento, que constitui uma rara oportunidade para que dirigentes de países com experiências diversificadas no enfrentamento dos problemas humanos busquem um contato pessoal para tratar dos conflitos globais e resolver arestas entre os países.
A incômoda condição de pária internacional do presidente brasileiro foi registrada pela equipe do portal UOL, que teve acesso à antessala da cúpula do G20, local reservado a contatos informais em que os líderes das nações presentes tinham um espaço quase confidencial para trocar impressões sobre o futuro do planeta.
O portal registra, por exemplo, que numa rodinha informal, Angela Merkel (Alemanha), Emmanuel Macron (França), Antônio Guterres (ONU) e Ursula van der Leyen (UE) debatiam a maneira que iriam pressionar a comunidade internacional para criar um fundo conjunto para garantir a distribuição de vacinas.
Em outras rodinhas informais, Scott Morrison (Austrália), Justin Trudeau (Canadá) e Narendra Modi (Índia) e Boris Johnson (Reino Unido) falavam sobre como a pandemia exigiu uma nova forma de saudar entre as pessoas.
Em nenhuma delas Bolsonaro se aproximou ou foi convidado a se enturmar para trocar idéias.
Porém, em um canto da sala, Jair Bolsonaro era uma pessoa sem interlocutores para debater política ou falar sequer sobre amenidades. De acordo com a reportagem, sobrou ao presidente tentar, sem sucesso, atrair a atenção dos garçons.
Quando o brasileiro chegou ao local, não teve opção: cruzou o salão e foi diretamente para uma mesa onde garçons serviam café. Nesse trajeto, não foi cumprimentado por ninguém, não parou para apertos de mão.
Com um dos garçons, puxou conversa: “Todo mundo italiano aí?”. Sem graça, o senhor que servia apenas fez um gesto positivo com a cabeça.
Bolsonaro não desistiu e falou de suas origens italianas. Mas não conseguia atrair a atenção dos garçons. Começou então a fazer uma piada com a final entre Brasil e Itália, na Copa de 1970. Ninguém entendeu.
O presidente então se virou para o restante do salão e se deparou com um cenário de grupos que falavam entusiasmadamente sobre assuntos dos mais diversos. Ele, porém, permaneceu por longos minutos sozinho, apenas apontando o dedo para aqueles que ele achava reconhecer.
Quando um de seus seguranças se aproximou, Bolsonaro brincou e, em plena Itália, lançou mais um comentário de cunho abusivo por conta da aparência do profissional: “máfia”.
O ambiente parecia não encaixar mesmo à lógica do atual presidente brasileiro. Em uma conversa com o líder da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, Jair Bolsonaro mentiu escandalosamente sobre a retomada da economia, o apoio da população ao seu governo.
Segundo o UOL, a conversa durou apenas alguns poucos minutos, sem gerar um só sorriso por parte do líder turco. Bolsonaro também não perguntou como estava a Turquia, não falou das relações bilaterais e nem fez propostas para salvar o mundo.
Quando o papo acabou, seus assessores saíram em busca de mais algum interlocutor. Encontraram Alberto Fernandez, presidente da Argentina, contra o qual Bolsonaro chegou a fazer campanha por ser de esquerda. Ainda assim, a conversa entre os dois foi a que mais durou, nos cerca de 30 minutos em que o presidente enfrentou o desafio da diplomacia mundial.
Enquanto esteve na sala, ele ainda cumprimentou Boris Johnson (Reino Unido) e trocou poucas palavras com Modi, da Índia. Mas logo estava sozinho de novo. A solução foi se dirigir até um sofá ainda mais distante de todos os demais líderes para sentar ao lado do ministro Paulo Guedes (Economia) e esperar.
O alívio veio quando os organizadores anunciaram que a cúpula iria começar.
Último a deixar a antessala e alvo de desconfianças internacionais, Bolsonaro caminhou ao evento apenas com seus ministros. Mais tarde, ele saiu antes do jantar oferecido ao G20 pela Itália terminar.
Na manhã de domingo, também não acompanhou outros líderes na visita à Fontana di Trevi.