A vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, saiu em defesa do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, dizendo que as conversas golpistas encontradas em seu celular eram “mero diálogo entre pessoas comuns”.
Lindôra, que já teve reuniões secretas com Jair Bolsonaro, confrontou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acusando-o de agir com “pesca probatória”.
As afirmações foram feitas em uma peça enviada ao STF que está sob sigilo, mas foi revelada pela revista Veja.
No documento, Lindôra pede a liberdade de Mauro Cid, preso desde maio por ter organizado um esquema criminoso que fraudou cartões de vacinação no sistema do SUS.
Em decorrência dessa investigação, foram encontradas provas de que Mauro Cid, enquanto era ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, mantinha em seu celular planos de golpe de Estado para manter o chefe na Presidência.
Lindôra Araújo, no entanto, optou por subestimar a importância desses documentos. Para ela, “trata-se de redação de cunho crítico que até poderia ser encontrada em mesas de cursinhos preparatórios para o vestibular”.
Mauro Cid também foi flagrado conversando com militares da ativa, com o coronel Jean Lawand Jr., sobre um golpe de estado.
Lawand pediu para Cid orientar Jair Bolsonaro para que golpeasse a democracia usando as Forças Armadas, e o ajudante de ordens concordou.
Mais uma vez, Lindôra Araújo tentou esvaziar a importância dessas conversas para salvar Mauro Cid.
Segundo ela, as conversas eram “mero diálogo entre pessoas comuns, desprovidas de conhecimento jurídico ou político suficiente para arquitetar um golpe de Estado”.
Além disso, conversas golpistas “poderiam ser encontradas nos dispositivos móveis de grande parte da população brasileira, sob o contexto de intensa polarização do debate político à época das eleições de 2022”, afirmou a vice-procuradora-geral da República.
Lindôra Araújo não vê importância em conversas sobre um golpe de Estado entre o ajudante de ordens do presidente da República, que também é tenente-coronel do Exército, e outro militar da ativa que já ocupou cargos de relevância no Exército.
Ela já teve pelo menos duas reuniões secretas com Jair Bolsonaro a partir de 2020, nas quais lhe teria sido prometido uma vaga no STF.
Lindôra, na peça revelada pela Veja, acusou o ministro Alexandre de Moraes de agir ilegalmente nos inquéritos contra Mauro Cid.
Ela disse que os indícios de crime cometidos por Mauro Cid “são por demais incipientes a recomendar quaisquer diligências ou medidas em face dos investigados, sob pena de se validar a pesca probatória, à semelhança de outras investigações em curso no âmbito do Supremo Tribunal Federal”.
Para ela, não existiam motivos suficientes para que Mauro Cid fosse preso e seus aparelhos apreendidos e periciados.
Lindôra citou que Moraes agia como a ditadura militar ao realizar “prisão para averiguação”.
A argumentação se aproxima do que falam os bolsonaristas, apavorados com as ações de Alexandre de Moraes que impediram um golpe de Estado e com as investigações contra seus crimes.
Em diversas ocasiões, Jair Bolsonaro falou que Moraes agia como um “ditador”.
Em outubro de 2022, Bolsonaro disse que “o Supremo exerce um ativismo judicial que é ruim para o Brasil todo. O próprio Alexandre de Moraes instaura, ignora Ministério Público, ouve, investiga e condena. Nós temos aqui uma pessoa dentro do Supremo que tem todos os sintomas de um ditador”.
Segundo Veja, Lindôra “reclama de o ministro ter autorizado a análise do e-mail pessoal de Mauro Cid sem um pedido formal da Polícia Federal, enumera a falta de formalização de atos processuais e questiona a forma como os investigadores teriam concluído que um golpe de Estado havia sido cogitado nos estertores do governo passado. Em duras palavras, a procuradora desqualifica completamente o relatório produzido pela Polícia Federal” sobre o material encontrado no aparelho de Cid.
Lindôra ainda voltou a pedir a liberdade de Mauro Cid, alegando inexistência de “indícios concretos de que voltarão a delinquir”.
De acordo com ela, Moraes ainda aumentou as suspeitas contra Mauro Cid inserindo no inquérito questões não ligadas à fraude nos cartões de vacinação, como o pagamento de despesas pessoais da ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, buscando “criar um link com a prática de delitos financeiros, envolvendo o círculo social de parentes do ex-chefe do Poder Executivo”.