CPMI do Golpe teve acesso aos e-mails guardados pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, que registrou os encontros furtivos da vice da Procuradoria-Geral da República (PGR) com o “mito”
O procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, e sua maior aliada, a vice-PGR Lindôra Araújo, tiveram reuniões secretas com Jair Bolsonaro em 2022, após as quais Lindôra defendeu os interesses de Bolsonaro em processos e inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF).
A existência das reuniões foi revelada pela CPMI do Golpe, que teve acesso aos e-mails guardados pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.
Cid guardou um “calendário” com local, o Palácio da Alvorada, data e participantes das reuniões. Os e-mails eram intitulados “agenda privada”.
No dia 11 de abril de 2022, uma semana depois de Lindôra Araújo ser promovida a vice-procuradora-geral da República por indicação de Flávio Bolsonaro, filho de Jair, aconteceu a primeira reunião.
Participaram do encontro secreto, que durou das 19h às 20h, Jair Bolsonaro, Lindôra Araújo e Flávio Bolsonaro.
Segundo levantamento do jornal O Globo, oito dias depois da reunião, Lindôra se manifestou em um caso no STF defendendo que não havia indícios da participação de Jair Bolsonaro no esquema criminoso do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
Em uma gravação, Milton Ribeiro diz explicitamente que o favorecimento, com recursos da Educação, de municípios comandados por amigos dos pastores era “um pedido especial do presidente da República”. Os pastores tinham recebido propina dos prefeitos que queriam acesso ao dinheiro público.
A segunda reunião secreta foi realizada no dia 2 de maio de 2022. Dessa vez, tanto Augusto Aras quanto Lindôra estiveram no Palácio da Alvorada com Bolsonaro das 19h10 às 19h40.
Três semanas depois, Lindôra defendeu no STF que Jair Bolsonaro não cometeu o crime de racismo quando perguntou a um homem negro se ele pesava “mais de sete arrobas”. Arroba é uma medida usada para pesar gado.
Outra reunião privada entre Bolsonaro e Lindôra aconteceu às escondidas no dia 10 de agosto de 2022, entre 20h45 e 21h30.
14 dias depois, a vice-PGR pediu que fosse arquivada uma investigação contra Jair Bolsonaro no caso da reunião com embaixadores estrangeiros, durante a qual o ex-mandatário mentiu e atacou o sistema eleitoral. Por esse caso, Bolsonaro ficou inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Nesse mesmo dia, Lindôra criticou o ministro Alexandre de Moraes por ter autorizado operações de busca e apreensão contra oito empresários bolsonaristas que defenderam, em mensagens, um golpe de Estado caso Lula fosse eleito presidente.
Antes de ser nomeada vice-PGR, Lindôra já tinha se reunido secretamente com Jair Bolsonaro. Em 2020, um encontro entre eles foi intermediado pelo ex-deputado Alberto Fraga. Na época, Bolsonaro cogitava indicar Aras para uma vaga no STF, abrindo espaço para Lindôra virar a procuradora-geral da República.
Lindôra esteve no Palácio da Alvorada e conversou com Bolsonaro por pouco mais de uma hora.
Sendo a principal aliada de Augusto Aras na PGR, ela defendeu os interesses de Jair Bolsonaro diversas vezes.
Lindôra Araújo pediu o arquivamento de apurações que derivaram da CPI da Pandemia, que investigou os crimes e omissões de Jair Bolsonaro no combate à Covid-19.
Segundo ela, não foram encontrados indícios de nenhum crime cometido por Bolsonaro ou seus ministros e aliados. Bolsonaro foi acusado pela CPI de ter cometido nove crimes na condução do combate à pandemia.
Um desses crimes é o de infração de medida sanitária preventiva, por conta das dezenas de vezes que Bolsonaro provocou aglomerações sem usar máscara. Mas a aliada de Bolsonaro não viu nenhum indício de crime.