O presidente de Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse na segunda-feira (16) que ele e Jair Bolsonaro têm CPFs diferentes e que “cada um responde pelo que faz”.
Um repórter questionou Lira se Bolsonaro, agora investigado pelos atos golpistas, deveria ser responsabilizado em virtude dos seus pronunciamentos.
“Eu não acho. Cada um responde pelo que faz. Meu CPF é um, o CPF do [ex-] presidente é outro. Temos que ter calma nesse momento, investigar todos os aspectos, e a nossa fala não muda”, declarou Lira em entrevista a jornalistas. “Todos que praticaram e contribuíram com esses atos de vandalismo devem ser severamente punidos”, cobrou o presidente da Câmara, em referência ao inquérito que apura os mandantes dos atos extremistas em Brasília.
As declarações de Lira foram feitas em entrevista a jornalistas em frente ao 6º Batalhão de Polícia Militar, que fica na Esplanada dos Ministérios e é responsável pelas ações de segurança na Praça dos Três Poderes.
Bolsonaro foi incluído na investigação na sexta-feira (13), por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O pedido de inclusão foi feito pela Procuradoria Geral da República.
No pedido, a PGR cita uma publicação feita por Bolsonaro nas redes sociais, em 10 de janeiro, questionando o resultado das eleições presidenciais de 2022. No dia seguinte, a postagem foi retirada do ar.
O fato foi levado à PGR a partir de uma representação assinada por 80 integrantes do Ministério Público Federal (MPF. De acordo com a representação, “a publicação [de Bolsonaro] foi feita poucos dias após o ‘maior episódio de depredação que Brasília/DF já vivenciou’. Por esse cenário, a veiculação da aludida mensagem por Jair Messias Bolsonaro teria o condão de incitar novos atos de insurgência civil contra os Poderes da República“.
Lira defendeu que deputados que negaram ou minimizaram a destruição do Congresso depois dos atos serão “chamados à responsabilidade” porque “todos viram que as cenas são terríveis, violentas, gravíssimas”.
“Todos que tiveram responsabilidade vão responder, inclusive parlamentares que andam difamando e mentindo com vídeos, dizendo que praticamente houve inverdades nas agressões que a Câmara dos Deputados sofre no seu prédio”, declarou Lira.
“Eles terão que ser chamados à responsabilidade, porque um parlamentar eleito não pode estar divulgando fatos que não condizem com a realidade”, sustentou.
Na fala, Lira se referiu ao deputado eleito Abílio Brunini (PL-MT). O político publicou vídeos em seus perfis nas redes sociais com imagens no interior do Congresso em que ele minimiza os estragos.
“A Câmara tão somente vai contribuir para fornecer, como já fez, todas as evidências, filmagens, perícias, contribuir e ajudar na formulação de leis que impeçam que esses atos se repitam”, garantiu.
COM ARAS
No mesmo dia, Arthur Lira se encontrou com o procurador-geral da República, Augusto Aras, e entregou uma notícia-crime com informações a respeito da invasão e depredação do prédio da Câmara dos Deputados por bolsonaristas criminosos.
A representação entregue por Lira será analisada por um grupo criado pela PGR para apurar os crimes cometidos no episódio.
Na sexta (13), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também entregou a Aras uma representação com informações sobre os terroristas que invadiram o Senado no domingo (8).
Na segunda-feira, a PGR denunciou 39 terroristas ao Supremo Tribunal Federal (STF) por invasão e destruição do Congresso Nacional, durante atentado golpista fracassado.
A PGR apontou o cometimento dos crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça com emprego de substância inflamável contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima e deterioração de patrimônio tombado.
No dia 8 de janeiro, domingo, os bolsonaristas invadiram e tentaram destruir o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, sede do governo federal.
Segundo a Procuradoria, Lira colocou a advocacia da Câmara à disposição para ajudar nos trabalhos e no fornecimento de provas contra os invasores.
“Esperamos que o Ministério Público cumpra o seu papel e promova a responsabilização não só por causa da depredação, que é grave, mas sobretudo por causa do atentado sofrido pelas instituições”, disse Lira no encontro.
Aras, ao receber o documento, afirmou que “tomará todas as medidas cabíveis junto às autoridades judiciais para apurar e punir os responsáveis pelos atos e, sobretudo, para impedir que fatos como os registrados no dia 8 de janeiro jamais voltem a ocorrer no país”.