
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), eleito com ajuda do governo Bolsonaro, controlou e destinou R$ 357 milhões em emendas parlamentares do orçamento secreto, entre 2020 e 2021.
O cálculo foi feito pelo UOL com base em documentos enviados pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal para o Supremo Tribunal Federal (STF), na segunda-feira (10).
Como deputado, Lira só tinha direito a R$ 18 milhões das emendas regulares, que são mais controladas e não escondem o nome do parlamentar que as destinou.
Entre 2020 e 2021, Arthur Lira destinou R$ 357 milhões para o Estado de Alagoas, onde foi eleito.
Os documentos enviados ao STF mostram que, em dois anos, os senadores e deputados controlaram um total de R$ 36 bilhões do orçamento secreto.
Os documentos só foram enviados após muita pressão do STF, pois os parlamentares tentaram ocultar seus nomes como autores das emendas.
O orçamento secreto, antes chamado de RP-9 ou emenda do relator, virou uma ferramenta central na “governança” de Jair Bolsonaro. Os deputados e senadores indicam para o relator o projeto ou cidade para onde querem enviar recursos, mas seus nomes não ficam registrados nos sistemas.
Assim, o governo Bolsonaro começou a comprar o voto dos parlamentares com o dinheiro do “orçamento secreto”.
Relatos mostram que esse mecanismo foi usado na eleição de Arthur Lira, na PEC dos Precatórios e na reforma da Previdência. O governo entregava entre R$ 10 e R$ 20 milhões em emendas para os deputados que votassem conforme seu interesse.
O pai de Arthur Lira, Benedito Lira (PP), que é prefeito de Barra de São Miguel, em Alagoas, recebeu R$ 3,8 milhões do orçamento secreto. A cidade tem apenas 8,4 mil habitantes.
ELEIÇÃO
O caso é mais alarmante quando se observa que o Estado de Alagoas está em processo de eleição indireta e será escolhido um governador provisório ou “tampão”. A eleição é alvo de disputa entre Lira e o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Não se sabe quanto desses R$ 357 milhões foram despejados para influenciar a eleição.
A eleição será indireta, votada na Assembleia Legislativa, e ocorrerá por causa da renúncia do ex-governador Renan Filho, filho de Calheiros, que deve disputar o Senado em outubro.
O seu vice já havia deixado o mandato em 2020, quando assumiu a prefeitura de Arapiraca. O governo ficaria com o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor (MDB), mas o deputado não quis assumir a gestão estadual para poder disputar a reeleição a uma vaga na Casa.