O submarino argentino ARA San Juan, desaparecido há um ano nas águas do Oceano Atlântico, com 44 tripulantes a bordo, foi localizado neste sábado (17).
O ministro de Defesa, Oscar Aguad, deu uma coletiva de imprensa junto a oficiais da Marinha confirmando que a nave encontrada a 907 metros de profundidade é o submarino perdido há um ano. Os restos indicam que implodiu perto do fundo.
“Pelo que se vê supomos que houve uma implosão, há partes desprendidas, não sabemos se estão separadas”, disse, e indicou que “o casco, fundido numa só peça, não está partido ao meio”. Afirmou que há que esperar o mapeamento da empresa responsável para ter mais certeza. “Podem ser vistas três partes: a proa que envolve o lança-torpedos; a popa, com o lastro e a vela inclinada a 90 graus”. A área de escombros é de 80 por 100 metros, o que reafirma a ideia de que implodiu perto do fundo do mar.
A implosão ocorre quando o submarino ultrapassa o seu limite de descida e sua estrutura se deforma sob alta pressão. No caso do ARA San Juan, o limite era de cerca de 300 metros. No local em que ele se encontra, 907 metros de profundidade, a pressão equivale a 91 ATMs ou 91 vezes maior que a pressão atmosférica ao nível do mar.
“O Ministério da Defesa e a Marinha da Argentina informaram que no dia de hoje, tendo sido investigado o ponto de interesse número 24 informado pela Ocean Infinity, mediante observação realizada com um ROV [veículo de observação remota] a mais 800 metros de profundidade, houve identificação positiva do ARA San Juan”, informou a Marinha Argentina no Twitter na madrugada deste sábado (17).
O capitão Rodolfo Ramallo expressou que ainda têm poucos detalhes. “Estamos à espera de receber as imagens”, assinalou durante uma entrevista com o canal de notícias TN.
A embarcação está em uma região de cânions, espécie de rios submarinos, no Oceano Atlântico, a 600 km da cidade de Comodoro Rivadavia, onde foi montado o centro de operações durante a busca.
A empresa norte-americana Ocean Infinity, contratada pelo governo argentino, encontrou o submarino por meio de observação feita com um veículo submarino operado remotamente. Vencedora de uma licitação realizada para disfarçar a incompetência do governo de Maurício Macri para coordenar e dirigir as buscas e manter a mobilização das forças nacionais, a empresa deve receber US$ 7,5 milhões pelo trabalho. A Ocean Infinity tinha previsto terminar hoje, dia 17, as tarefas de rastreio em alto mar para se trasladar à África do Sul para fazer reparos no barco Seabed Constructor a cargo dos equipamentos usados para a investigação. O traslado ficou suspenso.
Nos primeiros meses de busca, uma operação com a participação de 18 nações foi implantada para encontrar o submarino, mas os trabalhos haviam se limitado a 430 km do litoral, em torno de uma área onde havia sido detectada uma explosão horas depois da última comunicação do submarino. Horas antes, o comandante havia alertado sobre uma falha provocada pela entrada de água por um conduto de ventilação que vazou no compartimento das baterias elétricas e produziu um princípio de incêndio.
Embora a Marinha argentina tenha garantido em várias ocasiões que essa falha fora “corrigida” e que o San Juan continuou navegando para Mar del Plata, o certo é que seu rastro foi perdido e ele nunca chegou ao porto dessa cidade, onde deveria ter atracado em 19 de novembro do ano passado.
O submarino diesel-elétrico TR-1700 de fabricação alemã e em operação desde os anos 80 desapareceu no dia 15 de novembro de 2017, quando saiu de Ushuaia, no extremo sul da Argentina, em direção à sua base em Mar del Plata, a 400 quilômetros ao sul de Buenos Aires, depois de participar de um exercício de treinamento.
Apesar do governo e a Marinha terem descartado a possibilidade de que o submarino tenha sido alvo de ataque por uma frota estrangeira, o chefe de Gabinete argentino, Marcos Peña, confirmou recentemente que o ARA San Juan realizava não somente as divulgadas manobras de treinamento, mas também inspeção de navios britânicos. Ele afirmou que “o objetivo tático prioritário da patrulha era a localização, identificação, registro fotográfico de navios frigoríficos, logísticos, petrolíferos que realizavam contrabando com um navio pesqueiro”. Peña também especificara que a atividade de navios e aeronaves britânicas era monitorada desde a região das Ilhas Malvinas – território insular ocupado pela Inglaterra e motivo de um enfrentamento entre Argentina e Grã Bretanha em 1982.
O pai de um dos tripulantes, Luis Tagliapietra, assinalou que depois de um ano do desaparecimento existem mais perguntas que respostas e que só há algumas hipóteses sobre o acontecido. O único dado concreto, segundo ele, é “que o submarino não estava em condições de operar por todos os problemas de manutenção que tinha”, declarou.
O ministro Aguad afirmou que “não temos equipamento para extrair o submarino” do lugar onde foi encontrado. “Agora esperamos a informação da empresa, que nos deve fornecer por contrato. Estudaremos ela e veremos o que fazer”, indicou, não se responsabilizando pela continuação do procedimento de retirada do mar do submarino.