Milhares de londrinos ocuparam as ruas centrais da capital inglesa, neste 11 de maio, para marcar o 71º aniversário da Nakba, a Catástrofe, como os palestinos denominam a implantação do Estado de Israel, com base em um processo de limpeza étnica que desterrou cerca de 800 mil palestinos de seus lares, transformando-os em refugiados.
A marcha teve entre os participantes a jovem Ahed Tamimi, da aldeia palestina de Nabi Saleh, que se notabilizou mundialmente ao resistir a uma invasão de seu lar por soldados da ocupação israelense. Ao resistir, foi detida, aos 17 anos, em 2017. Ela sofreu uma prisão por oito meses e foi liberta em meio a uma campanha mundial contra a arbitrariedade.
No ato que se seguiu à marcha, Tamimi proclamou: “Não farão de nós as vítimas eternas. Vamos resistir e vencer”.
Também esteve à frente da marcha o embaixador da palestina na Inglaterra, Husam Zomlot.
Convocados pela Coalizão Parem a Guerra, Campanha de Solidariedade à Palestina, Fórum Palestino na Inglaterra e Associação Muçulmana na Inglaterra, os manifestantes entoaram, “Parem de armar Israel” e “Fim ao bloqueio a Gaza”, enquanto marchavam com faixas, cartazes e bandeiras palestinas desde a Praça Trafalgar até a Downing Street, rua onde fica a casa oficial da premiê inglesa, Theresa May.
A faixa que abriu a manifestação exigia “Palestina Livre!” e proclamava ainda: “Existir! Resistir! Retornar!”
O embaixador Zomlot afirmou que o povo palestino rejeita as propostas que até agora transpareceram daquilo que Trump chama de “acordo do século”, enquanto o governo de Netanyahu acelera o roubo de terras palestinas na Cisjordânia e a construção ilegal de unidades residenciais judaicas em território palestino sob cerco e ocupação.
O presidente do Fórum Palestino na Inglaterra (PFB), Hafiz Al-Karmi, renovou o chamado a que o governo britânico reconheça e peça perdão pelo erro histórico contido na Declaração Balfour (documento que serviu de base para a reivindicação colonial judaica sobre a Palestina) e comece a trabalhar pela proteção do povo palestino em sua pátria ocupada.
O porta-voz do PFB, Adnan Humaidan, convocou a premiê inglesa, Theresa May, a parar de armar e apoiar a ocupação enquanto fecha os olhos para seus crimes, tais como o assassinato do bebê Saba Arar no recente bombardeio israelense a Gaza, a mais recente das dezenas de crianças mortas, somente nos últimos doze meses, desde o início, em março de 2018, da Grande Marcha do Retorno, que reúne manifestantes toda sexta-feira na Faixa de Gaza.
Os manifestantes ingleses portaram cartazes em repúdio ao apoio de Trump ao regime israelense e suas medidas tomadas contra os palestinos, a exemplo do fechamento da embaixada palestina em Washington. Entre os cartazes, o chamado à ampliação do movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções a Israel).
O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, enviou a seguinte declarção de apoio à manifestação:
“Não podemos silenciar ou nos determos diante da contínua negação dos direitos do povo palestino.
O Partido Trabalhista está unido na condenação aos abusos por parte das forças israelenses, incluindo o assassinato de centenas de manifestantes palestinos desarmados em Gaza – a maioria deles refugiados ou familiares de refugiados – exigindo seus direitos.
Na semana que passou, vimos a escalada da violência, durante investidas contra Gaza, matando 25 palestinos, uma violência que também causou a morte de quatro israelenses, o que nos causa tensão e nos alerta para o perigo desta situação ao nos lembrar do risco do retorno a um conflito generalizado, que não podemos permitir que volte a acontecer.
O silêncio de muitos governos, incluindo o nosso, tem sido ensurdecedor. O governo da Inglaterra deveria, ao invés de silenciar, condenar, inequivocamente, a matança de manifestantes, incluindo crianças, enfermeiros e jornalistas e congelar as vendas de armas a Israel.
Nos colocamos solidários ao povo palestino em sua luta pelos seus direitos, apoiados pelos israelenses que fazem campanhas pela paz e justiça, a exemplo de organizações como B’tselem e Bloco da Paz.
Uma paz sustentada, que produza tranquilidade, justiça e segurança tanto para palestinos como para israelenses é uma necessidade e um interesse que todos nós partilhamos.
A paz não pode ser alcançada enquanto prevalecem a ocupação ilegal e os assentamentos em terra palestina, junto com os múltiplos abusos aos direitos humanos enfrentados pelos palestinos, cotidianamente, pelas ações do governo israelense e em flagrante menosprezo pela lei internacional.
Entendendo o plano do presidente Trump para o Oriente Médio como uma tentativa de enterrar os direitos palestinos a um Estado viável ao lado de Israel, nós vamos chamar o nosso governo, assim como a comunidade internacional a rejeitá-lo de forma decidida.
Nenhum plano de paz pode ter sucesso às expensas dos direitos do povo palestino.
É por isso, que um governo trabalhista vai reconhecer um Estado da Palestina e pressionar pelo retorno imediato a negociações significativas, na busca de um acordo duradouro com base nas resoluções da ONU, na Lei Internacional e na justiça, que por muito tempo tem sido negada”.
Além de Corbyn, outros líderes trabalhistas participaram ou enviaram mensagens de apoio ao ato, entre eles, o deputado Richard Burgeon, que ressaltou: “A Palestina tem o direito de existir, mas é triste ver que este direito tem sido crescentemente ameaçado. Os palestinos devem poder viver livres da expansão constante dos assentamentos em terra que lhes é roubada”.
NATHANIEL BRAIA